Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 18, 2012

Vergonha - DANUZA LEÃO

FOLHA DE SP - 18/11


Ambição é um perigo. Quando as pessoas querem mais, fazem qualquer negócio para conseguir


A semana foi pesada, com muitas chuvas e trovoadas.

Por mais que se achasse que os envolvidos no mensalão mereciam ser condenados, pensar que pessoas que foram tão importantes na vida brasileira, vão para a prisão -aquela prisão à qual se referiu o ministro da Justiça e que conhecemos bem através de fotos- não deixa de mexer com quem tem um mínimo de compaixão.

Algumas coisas me fazem pensar. Será que os muito poderosos, quando ocupam os cargos mais importantes na vida do país, acham que podem tudo, que o poder é eterno, que podem fazer o que quiserem e que jamais serão punidos?

E já que o poder é tão bom, que vale tudo para que ele seja eterno? Não só eles mas também seus amigos, seus ajudantes nos crimes, do mais humilde dos contínuos ao mais íntimo dos chefões, todos se acham imunes às leis.

Se não fosse assim, não fariam o que fazem quase todos os que têm o poder. E no caso em questão, não me parece que quisessem tanto dinheiro para ficarem ricos -não todo-, mas para poderem continuar poderosos.

Mas talvez eu esteja enganada; os que mandam num país devem se sentir tão onipotentes que nem acham que estão fazendo alguma coisa de errado. Podem tudo e, claro, querem continuar podendo.

Fico pensando em Katia Rabello, presidente do Banco Rural, que se meteu nessa enrascada nem sei bem por quê. Ela já era rica o suficiente, importante o suficiente, inteligente -imagino- o suficiente, como é que foi entrar nessa? Dezesseis anos de prisão é muito tempo, e se fosse só um ano também seria; como é que se encara o futuro, depois de receber uma pena dessas?

A ambição é um perigo, seja ela de que tipo for. Quando as pessoas querem mais, sempre mais, fazem qualquer negócio para conseguir. Mesmo que no fundo de algum desses réus que foram condenados houvesse (talvez) um ideal, o ideal de transformar o país, não há quem me convença de que o poder não lhes subiu à cabeça.

Entrar num restaurante e ser saudado com mesuras pelos garçons, ter a melhor mesa, ser paparicado por todos, isso deve deslumbrar muita gente, sobretudo os que nunca tiveram essas regalias. Mas essas regalias não eram para eles, e sim para o cargo que tinham, e assim que outra pessoa assume esse lugar, elas automaticamente são dirigidas aos novos ocupantes dos cargos. E o que são essas regalias, no fundo? Rigorosamente nada.

E será que é tão importante assim ter gente em volta, literalmente -e desculpem a expressão- lhes puxando o saco? É preciso ser muito ingênuo ou despreparado para se deslumbrar com essas coisas.

O curioso é que a maioria dos que foram condenados sofreram na carne os horrores da ditadura, e quando, depois de muita luta, chegaram ao poder, ficaram muito parecidos com os que comandavam o antigo regime. Não prenderam nem torturaram ninguém, mas em matéria de autoritarismo se comportaram da mesma maneira.

O que me leva a pensar que todo radicalismo, seja ele de esquerda ou de direita, é muito parecido, e que a única diferença entre eles é que estão em campos opostos.

E dizer "não vi", como disse Lula quando foi perguntado sobre as penas que sofreram seus companheiros, foi constrangedor. Uma vergonha, vindo de um ex-presidente da República.



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