O Estado de S. Paulo - 12/08/2010
Saiu a balança comercial no semestre. Superávit de apenas US$ 10 bilhões. E declinante. Está sumindo. Foi 42,7% menor que o mesmo período do ano anterior. É um péssimo resultado, mas, mesmo assim, os números gerais não revelam o pior, que é a grave deterioração da qualidade do comércio exterior brasileiro.
Não mostram, por exemplo, que as exportações estão dependendo cada vez mais do petróleo e derivados, agora já representando 12%. E em alta. Destes, nada menos que 8,9% de petróleo bruto.
Nas últimas semanas, a balança da conta petróleo tem ficado negativa porque estamos importando mais derivados, um situação passageira, pois decorre de obras em refinarias. A verdade é que sem petróleo, a balança comercial afundaria ainda mais. Mas será que ele é realmente tão importante? Sim. Muito mesmo.
"O petróleo contribuiu com 27,2% do crescimento das exportações no primeiro semestre de 2010, em comparação com o primeiro de 2009. Com o petróleo, as exportações totais cresceram 27,5%. Sem ele teriam crescido 20,8%," diz à coluna Fernando Ribeiro, economista-chefe da Funcex.
Petróleo assusta. Essa ascendência do petróleo na pauta das exportações preocupa. E parece que não há muita gente pensando nisso em Brasília. Certo, o petróleo é importante, mas e daí, dizem em Brasília. Não vamos ter por volta de 50 bilhões de barris só na Bacia de Santos, não vamos produzir até 3 milhões de barris por dia, mais do que suficiente para atender ao mercado externo e ainda exportar? Podemos até entrar na Opep. E, acima de tudo, o petróleo é nosso, não é? Qual é a dúvida?
Dúvida, não problema. A dúvida é que a balança comercial brasileira está dependendo cada vez mais de um produto que gera mais riqueza onde é consumido, lá fora, do que onde é extraído. Sei que há a exportação de derivados, que pode aumentar, mas também eles são todos gerados em refinarias, uma parte atende ao mercado interno, mas a outra segue para os portos a caminho de países onde vão, aí sim, gerar impostos e riquezas.
Ficamos com uma boa parte sim. Afinal, as exportações incluindo derivados como gasolina, óleo de vários tipos, nafta, totalizaram mais de US$ 11 bilhões no semestre. O que preocupa é sua ascendência na balança comercial e o declínio de outros produtos que antes exportávamos e agora estamos importando.
E a indústria nisso? O quadro é ainda mais sombrio. Levantamento feito pelo JP Morgan informa que o volume total de importados no primeiro semestre foi 42% maior que o exportado. Somos hoje um grande mercado que outros países estão sabendo aproveitar e estamos perdendo.
Querem ver? As importações de bens industriais estão crescendo 42,3% enquanto a demanda interna aumentou 11,8%, informam a Funcex e o IBGE, invertendo o quadro do primeiro semestre de 2009. Foi a crise externa? Não foi só isso. Eles cresceram menos porque a demanda externa recuou. Estamos perdendo competitividade com custos maiores que reduzem o empenho dos empresários para exportar mais
Entrevista:O Estado inteligente
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