O Estado de S. Paulo - 10/08/2010
Os debates eleitorais mal começaram, mas do que se viu já deu para entender que a questão econômica não desperta mais o interesse que despertava há alguns anos. Parece tratada como se fosse uma espécie de página virada.
E, no entanto, por mais paradoxal que possa parecer, a estabilidade de preços, conjugada com a previsibilidade da economia, está entre os principais cabos eleitorais à disposição dos candidato
A enorme aprovação do presidente Lula tem muito a ver com o controle da inflação, embora ninguém mencione isso como causa direta da popularidade. A inflação se situa hoje em torno de 5% ao ano, menos da metade da que prevalecia no início da administração Lula. Trata-se de uma importante valorização do salário e das aposentadorias, que, de um jeito ou de outro, é percebida pelo eleitor e se transforma em resposta nas urnas.
Enquanto a maioria dos líderes do PT continuou com os discursos da ruptura com tudo o que está aí, da herança maldita e com a palavra de ordem abaixo o neoliberalismo, o presidente Lula entendeu que a observância do tripé recebido do governo Fernando Henrique, constituído pela responsabilidade fiscal, pela política de metas de inflação e pelo regime de câmbio flutuante, ficou essencial para garantir governabilidade e prolongar as condições do exercício do poder.
Não dá para dizer que o tripé esteja hoje preservado à risca. A perna fiscal, por exemplo, vem sendo minada pela redução do superávit primário, pela adoção de critérios discutíveis do seu cálculo e, principalmente, pela disparada das despesas de custeio de caráter permanente e não apenas temporário. Essa transgressão só está sendo tolerada porque seus efeitos ruins ainda não despencaram sobre a atividade econômica e porque o presidente Lula acumulou créditos nos sete anos precedentes de governo com uma política econômica sem aventuras irreparáveis.
Não dá para dizer que os dois principais candidatos, a ex-ministra Dilma Rousseff e o ex-governador José Serra, estejam 100% comprometidos com a manutenção e, até mesmo, com o aperfeiçoamento das conquistas do Plano Real e das que vieram depois. Dilma, que já foi chamada de mãe do PAC, expressão hoje evitada, às vezes sugere satisfação com o jogo da gastança pública. E, de quando em quando, deixa escapar críticas à política de juros, como se também pretendesse tirar a autonomia do Banco Central.
Do ex-governador José Serra pode-se dizer que prefere o voo solo e que, se tudo dependesse unicamente dele, como gostaria que dependesse, seguiria contra quase tudo o que está aí, especialmente contra a política de juros e o câmbio flutuante, como tantas vezes chegou a avisar. Em compensação, Serra é um cruzado renitente da austeridade fiscal. Caso seja eleito, se conseguisse instituir uma política crível de obtenção de um déficit nominal zero, ainda que em três ou quatro anos, os juros cairiam quase naturalmente e ninguém mais pensaria em restringir a autonomia operacional do Banco Central, de que Serra decididamente não gosta.
Talvez seja prematuro afirmar que o atual modelo econômico, ainda que vitorioso, tenha conseguido se impor, independentemente de quem venha a pilotar o governo, porque demolir tudo é sempre mais fácil do que construir. Além disso, pela sua ambiguidade, o discurso dos candidatos jamais poderá ser entendido como um compromisso de continuidade.
Confira
Em mensagem a esta Coluna, o leitor Rodrigo Fonseca aponta que seria melhor explicar os critérios da degustação de vinhos que selecionou oito rótulos brasileiros da uva Merlot entre os dez melhores do mundo, como foi dito no sábado.
Master of Wine. O teste foi coordenado pelo brasileiro Dirceu Vianna Junior e serviu de base para o trabalho de conclusão apresentado no Institute of Masters of Wine em 2008. Para que a comparação fosse equitativa, foi estabelecido um recorte por faixa de mercado. Os preços de varejo das amostras deveriam estar entre £5 e £15 (R$ 11 e R$ 35, a câmbio de hoje).
O resultado. Em entrevista à revista Época, Vianna Junior explicou que seria uma falsa generalização e um erro grosseiro dizer que os Merlots brasileiros estão entre os melhores do mundo. O que se pôde concluir desse estudo é que, em safras boas e respeitando certa faixa de preço, os vinhos nacionais têm condições de estar entre os bons ou os melhores.
Entrevista:O Estado inteligente
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