O Globo - 10/08/2010
Os partidos que apoiam a candidatura da exministra Dilma Rousseff respiraram aliviados depois do debate da TV Bandeirantes. Na análise interna, a candidata inventada pelo presidente Lula havia passado por todos os testes na pré-campanha eleitoral: contato com o eleitor nas ruas, negociações políticas com os aliados nos estados, e erros corrigidos nos primeiros momentos da propaganda pela internet.
Faltava saber como se sairia num debate ao vivo com os demais candidatos, mesmo que a audiência fosse pequena.
A avaliação entre eles foi de que Dilma passou também nesse teste, não por ter ido bem no primeiro debate, mas por não ter sido o desastre que alguns temiam. “O empate foi bom para ela”, avaliou o deputado Henrique Eduardo Alves, um dos principais líderes do PMDB.
Mesmo quando confrontado com a opinião generalizada de que o candidato da oposição, José Serra, vencera o debate na verdade, Henrique Eduardo Alves comentou: “Mas não foi uma derrota por nocaute, longe disso”.
A mesma coisa pode-se dizer da participação da candidata oficial na bancada do Jornal Nacional ontem à noite, abrindo a série de entrevistas com os principais candidatos à Presidência da República.
Ao contrário do debate da Bandeirantes, Dilma Rousseff não gaguejou e foi bastante assertiva nas suas respostas, e só errou uma vez, quando colocou a Baixada Santista no Rio de Janeiro.
O problema é que disse uma série de inverdades, que passaram como fatos para os telespectadores.
Por exemplo, quando afirmou que os investimentos em saneamento na favela da Rocinha, dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) representam uma mudança de comportamento do governo federal.
Simplesmente, na Rocinha, não há nenhum investimento do PAC relativo a saneamento.
A candidata oficial também distorceu os fatos quando disse que o presidente Lula, ao assumir o governo, encontrou a inflação descontrolada.
Pura verdade, só que a explosão da inflação deveuse ao “efeito Lula”, isto é, ao temor dos mercados de que Lula vitorioso aplicasse tudo o que defendia e não mantivesse o rumo da economia.
Como ele fez justamente o contrário do que prometia, tudo voltou aos lugares.
A admissão de que o PT amadureceu no governo é uma maneira de fugir da acusação de incoerência, ao manter hoje alianças políticas com seus antigos adversários políticos.
E a metáfora da mãe cuidando da família ministerial, sendo dura quando é preciso para fazer as coisas andarem, é recorrente na candidata, e embora revele uma pobreza de visão política, pode ser eficiente em termos eleitorais.
As críticas que fiz à participação do candidato do PSOL à Presidência da República, Plínio de Arruda Sampaio, no debate da Bandeirantes, provocaram considerações do deputado Chico Alencar, especialmente ao fato de ter dito que Plínio pareceu estar à esquerda do PSTU.
O deputado federal do PSOL admite que seu partido tem “um ethos revolucionário”, razão pela qual é considerado “um moderado” ali.
Chico Alencar diz que há muito o PSOL debate “como ressignificar o socialismo”, mas garante que o partido assume a questão institucional, democrática, como básica.
“Tanto que somos a legenda com maior número de candidato(a)s aos governos estaduais (24) e mobilizamo-nos muito, dentro da nossa evidente debilidade, nas disputas eleitorais”.
Para fixar a idéia de que não é correto dizer que o PSOL está mais radical que o PSTU, Chico Alencar diz que “o PSTU considera o PSOL ‘reformista’, ‘eleitoralista’, em marcha batida para a adaptação à ordem”.
Segundo ele, “se o PSOL não existisse no plano da ‘ordem burguesa’ — que o PSTU não valoriza como nós —, Roriz não estaria impugnado, Renan não teria saído da Presidência do Senado e Sarney seria de fato o ‘cidadão acima de qualquer suspeita’ de Lula”.
Nossa vocação, diz ele, na correlação de forças atual, “é mesmo ser pedra no sapato, incômodo, látego, acicate. Como Plínio foi no debate”.
Em vez de ser um “macaco em casa de louças”, como define, Chico Alencar viu seu candidato como “o que mais polemizou, divergiu, questionou, e isso é da essência do debate e da própria democracia. Não concordar com ideias e até com perguntas não pode levar a qualificá-las como desastradas”.
O deputado do PSOL também rebateu minha afirmação de que “paradoxalmente, depois do debate Plínio aderiu ao twitter”.
Segundo ele, Plínio está no twitter há 5 meses, “é um entusiasta do instrumento há tempos e não um moderninho de ocasião”.
Chico Alencar ressaltou também que as propostas “radicais anacrônicas”, criticadas por mim, têm o apoio de diversas instâncias da sociedade: O plebiscito popular pelo limite da propriedade territorial (apoiado, entre outra sentidades, pela CNBB), a redução da jornada de trabalho para 40 horas (apoiada por todas as centrais sindicais) e a manutenção do atual Código Florestal Brasileiro (defendido por todos os ambientalistas e pessoas de bom senso).
Entrevista:O Estado inteligente
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