O Globo - 06/08/2010
Não é à toa que os partidos políticos estão pressionando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para alterar a decisão que verticalizou a propaganda eleitoral.
Proibindo que um partido que tenha candidato a presidente apresente em seu programa o apoio a candidatos de outros partidos para governador ou senador, o TSE interferiu na bagunça de legendas nas disputas regionais e ficou completamente fora da realidade.
Se a realidade definida em lei pelo TSE é mais coerente do que a que está sendo disputada nas urnas, essa é outra questão.
O fato é que as coligações regionais são tão disparatadas em relação ao quadro partidário nacional que tentar organizá-las com a campanha já em movimento é uma temeridade.
Mas não é apenas o TSE que tenta interferir nas eleições para torná-las mais coerentes, como se a incoerência dos políticos fosse uma falha, e não uma maneira de manter o poder regional.
Também o presidente Lula pretende usar seu imenso prestígio popular para tentar montar um Congresso à feição de sua candidata oficial, Dilma Rousseff.
O presidente está preocupado em legar para sua candidata um Congresso dócil, especialmente o Senado, que lhe deu muito trabalho nesses oito anos de mandato, tornando-se uma barreira às suas pretensões de reinar acima dos partidos e dos demais poderes da República.
Lula também não se esquece da derrota sofrida na extinção da CPMF.
O Senado, onde o governo tinha uma maioria apenas teórica, que se desfazia diante de qualquer projeto mais polêmico, só prestou vassalagem ao governo quando seu interesse corporativo combinou com o interesse político do governo.
Nesses casos, foi a força pessoal dos senadores José Sarney ou Renan Calheiros que ajudou o governo a sair das crises sem grandes perdas.
Por enquanto, porém, são três eleições totalmente distintas que estão sendo disputadas.
A do Congresso não está atrelada a nada e pode trazer surpresas. A de governador é totalmente desgarrada, e a de presidente tem em Lula uma influência que pode ser decisiva.
O PT só concorre a governos em dez estados dos 27, e tem chance de vencer em apenas 4 — Acre, Sergipe, Bahia e Rio Grande do Sul.
A popularidade de Lula não transfere voto para o Aloizio Mercadante em São Paulo, para Ideli Salvatti em Santa Catarina; não retira de Ana Júlia Carepa a carga de ter o governo mal avaliado por mais de 50% do eleitorado, que atribuem a ele as cotações de ruim e péssimo.
No Amazonas, o senador Arthur Virgílio, do PSDB, está garantindo a segunda vaga, já que o ex-governador Eduardo Braga já parece estar eleito.
Tanto nesse caso, quanto nos do Ceará e do Rio Grande do Norte, o presidente Lula insinua que tem interesse especial em derrotar Virgílio, o ex-presidente do PSDB nacional Tasso Jereissati — que é, por enquanto, o preferido do eleitorado para uma das vagas no Senado — e José Agripino Maia, do DEM, que está disputando a segunda vaga, pois uma delas parece estar assegurada para a ex-governadora Wilma Faria.
As recentes pesquisas de opinião mostram uma vantagem para a candidata oficial, mas o resultado ainda não parece definido, pois ainda permanece a impressão estatística de que o país está dividido por regiões entre governo e oposição, quase na mesma proporção registrada no primeiro turno da eleição de 2006: Sul e Sudeste na oposição; Norte e Nordeste com o governo e o CentroOeste dividido, com ligeira vantagem governista.
Resta confirmar a vantagem, dentro da margem de erro, de Dilma no Sudeste, registrado pelo último Ibope.
Uma nova pesquisa hoje poderá tirar dúvidas.
Mas as campanhas estaduais não acompanham o resultado nacional, embora a média das pesquisas Datafolha e Ibope mostre Dilma em ascensão, mesmo onde perde, e Serra caindo, mesmo onde ganha.
No Nordeste, por exemplo, onde Dilma domina com 55% dos votos, o PSDB está bem colocado para o governo em alguns estados: Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e Bahia, embora a maioria dos prováveis vencedores seja do PT e de seus aliados.
No Norte/Centro-Oeste, Dilma lidera com nove pontos de vantagem: tem 48% contra 39% de Serra. Mas também aí o PSDB disputa com boas chances governos importantes como Pará, Goiás, Distrito Federal — na coligação com o PSC de Roriz, agora apanhado pela Ficha Limpa — e Mato Grosso.
No Acre, terra da candidata Marina Silva, do PV, a liderança ainda está com Serra, embora o candidato a governador praticamente eleito é o senador Tião Viana.
No Sul, onde Serra lidera com 52% dos votos contra 38% de Dilma, a diferença fica por conta de Tarso Genro, do PT, que é favorito ao governo do Rio Grande do Sul, e num segundo turno com José Fogaça do PMDB continua vencendo, mesmo com a possibilidade de o PSDB de Yeda Crusius (ou por causa disso) apoiá-lo.
No Paraná, o quase vice de Serra Osmar Dias é uma ameaça à liderança de Beto Richa, do PSDB.
No Sudeste, Serra caiu para 45% e Dilma chega a 41%, vantagem ainda influenciada pelo resultado do Datafolha. O Ibope já dá Dilma liderando na região, dentro da margem de erro.
Essa seria uma mudança de tendência importante, que denotaria que a influência do lulismo na eleição está se dando com mais intensidade, transformando Minas Gerais em um estado petista.
O ex-governador Aécio Neves tem a tarefa difícil de firmar sua liderança elegendo seu escolhido, Antonio Anastasia, e revertendo o quadro em favor de Serra, o que não parece ser uma prioridade política no estado, mas pode vir a ser.
Entrevista:O Estado inteligente
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