O Estado de S. Paulo - 19/08/2010
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Os analistas políticos dedicam-se agora a buscar as razões para o surpreendente mau desempenho do candidato da oposição, José Serra, nas pesquisas de intenção de voto.
As avaliações se sucedem. Focam a demora fatal do candidato na formação de alianças, especialmente nos Estados; ou, então, o menosprezo inicial dedicado à candidatura de Dilma Rousseff, considerada "o poste" à espera de transferência de votos do chefe; os sucessivos descarrilamentos na escolha do vice; a excessiva centralização das decisões de campanha; e, até mesmo, os seguidos atrasos no atendimento a compromissos que deixam os outros esperando horas a fio.
Essas razões e outras mais da mesma natureza não ajudam a empurrar o candidato. No entanto, é preciso encontrar explicação mais satisfatória em outro departamento, principalmente no comportamento da economia e seus efeitos sobre a vida do eleitor.
O presidente Lula fez lá suas bobagens, mas nenhuma chegou a ser tão grande a ponto de comprometer irremediavelmente o desempenho da economia. Depois do vacilo que proveio dos tempos em que o PT pregava "a ruPTura com o modelo neoliberal praticado por FHC"e após as denúncias insistentes da "herança maldita", o governo Lula se dedicou a manter e, até mesmo, a incrementar o tripé que construiu o edifício econômico pós Plano Real: observância (até 2008) do superávit primário de 3,8% do PIB; sistema de metas de inflação e câmbio flutuante.
O aprofundamento da previsibilidade da economia que daí proveio desembocou no relativo controle da inflação, na valorização do poder aquisitivo do trabalhador, na expansão da massa salarial, no avanço do crédito e do consumo, no aumento do investimento, na redução da economia informal, no crescimento do emprego e no desenvolvimento de políticas de assistência social.
As pessoas mais simples não conseguem recompor todas as relações de causa e efeito, mas mantêm a percepção de que a vida melhorou. Essa sensação de um presente confortável e de um futuro provavelmente melhor é compartilhada por todas as camadas de poder aquisitivo e se reflete positivamente para o governo nas manifestações de intenção de voto.
Em 1992, quando disputou com o então presidente George Bush (pai) a Presidência da República dos Estados Unidos, o candidato do Partido Democrata, Bill Clinton, adotou um slogan intrigante engendrado pelos seus marqueteiros: "É a economia, idiota!" Foi a frase que, na época, sintetizou o desconforto geral com o desempenho sofrível da economia e de seu impacto sobre a vida do cidadão comum americano.
Por motivos opostos, a atual campanha eleitoral do Brasil começa produzindo efeito semelhante. É a população que espontaneamente manifesta sua relativa satisfação com os resultados da política econômica adotada desde os tempos da administração Fernando Henrique. E esse parece ser o fator mais importante que até aqui vinha sendo ignorado pela oposição.
Serra também não perdia oportunidade para proclamar que estava tudo errado na economia: é o sucateamento da indústria, o câmbio fora do lugar e os juros escorchantes impostos por um Banco Central com perfil de "Santa Sé". Fica mesmo difícil mudar esse discurso e sustentar que basta que ele chegue ao governo para tudo melhorar.
Em alta
Aí você tem a trajetória dos preços das commodities a partir de um dos mais importantes índices internacionais, o CRB. A economia dos países ricos continua patinando e, no entanto, a demanda por commodities vai puxando os preços para cima.
Demanda asiática
Por trás desse rali está o avanço da economia asiática (e não só da China). É mais ou menos generalizada a percepção de que os preços continuarão cavalgando nos próximos 12 meses, especialmente dos alimentos: trigo, soja, milho e açúcar.
Entrevista:O Estado inteligente
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