Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 10, 2010

Celso Ming -Morte à especulação

O Estado de S. Paulo - 10/03/2010

De quando em quando, a Europa volta à Idade Média e promove uma temporada de caça às bruxas. Desta vez, as bruxas são os especuladores.

Ontem, por exemplo, o português José Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia, o organismo que coordena as políticas da União Europeia, avisou que pretende proibir a especulação com derivativos que, segundo ele, foi responsável pelo agravamento da crise da Grécia, na medida em que espalhou forte rejeição dos títulos dos países mais endividados da Europa.

Também ontem, o primeiro ministro da Grécia, George Papandreou, pediu apoio ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para acabar com a especulação financeira.

O atual foco são as operações de CDS (credit default swap). Um CDS é uma espécie de contrato de seguro contra calote. Lá pelas tantas, certos credores procuram defesa contra o risco de que um título deixe de ser honrado. No mercado há sempre investidores dispostos a bancar um seguro desses. Quanto maior o risco, maior o preço do contrato, como acontece com qualquer seguro. Se você é daqueles que bate muito seu carro, tem um filho encrenqueiro e tal, acaba pagando um prêmio de seguro mais alto do que seu colega de trabalho que há 12 anos não pediu nenhuma indenização de sinistro. Os CDS são negociáveis e seus preços de liquidação variam conforme a oferta e a procura.

Quando alguém busca um culpado por uma crise financeira, um alvo comum é o tal especulador que opera como predador, agente natural em todos os segmentos da vida. Neste mesmo instante em que você lê esta coluna, seu corpo está sendo atacado por centenas de milhões de predadores (vírus, bactérias, fungos, etc.). Quase sempre os predadores ganham a parada quando o organismo já está desequilibrado.

Os especuladores dos mercados cumprem importante função social. Mostram onde estão as mazelas do organismo econômico. Banir a especulação é uma idiotice por duas razões. Primeira, porque é um ataque aos sintomas e não às causas do problema. E, segunda, porque a especulação pode sumir, mas vai reaparecer sob outra forma.

Em 1992, o financista George Soros especulou contra a libra esterlina e quase quebrou o Banco da Inglaterra (banco central). Ninguém tentou mandar o mega especulador para a fogueira. Até hoje ele é festejado por ter exposto com crueza as fragilidades da moeda inglesa.

No final dos anos 60, a França adotou a especulação contra o dólar como política de Estado. A história foi a seguinte. Desde 1944, o governo dos Estados Unidos se comprometera a trocar qualquer quantidade de dólares por ouro, à proporção de US$ 35 por onça-troy (31,1035 gramas). Mas o governo norte-americano imprimiu dólares demais para financiar a Guerra da Coreia e a Guerra Fria. Orientado pelo economista Jacques Rueff, o presidente da França na época, Charles de Gaulle, trocou por ouro os dólares do Tesouro francês. Em agosto de 1971, o governo norte-americano não aguentou a especulação desencadeada por De Gaulle e o presidente dos Estados Unidos de então, Richard Nixon, foi obrigado a declarar extinta a convertibilidade do dólar em ouro.

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