O Estado de S. Paulo - 13/03/2010
As matérias sobre o desempenho do PIB brasileiro em 2009 mostraram as divergências entre os analistas sobre o volume (e o crescimento) do investimento necessário para garantir a produção futura sem inflação.
Houve aqueles para os quais o investimento (Formação Bruta do Capital Fixo), especialmente no quarto trimestre de 2009, mostrou a economia brasileira preparada para dar conta do aumento do consumo que vem vindo aí. E houve reiteradas advertências de que o avanço do investimento, ainda que superior às expectativas, continua baixo demais para garantir crescimento sustentável da oferta a um ritmo de 6% ao ano.
Essa não é uma divergência apenas teórica. Tem importantes implicações práticas, especialmente na execução da política de juros (política monetária). Se forem justificadas as dúvidas sobre a capacidade do setor produtivo de atender à forte demanda que vem acontecendo, será inevitável a necessidade de tirar o pé do acelerador.
Esta Coluna está mais identificada com a segunda posição. Mas convém desenvolver melhor a análise.
No cestão do investimento há coisas muito diferentes. A tabela mostra o que aconteceu nos três últimos anos. Em 2009, a construção civil pesou 41,1% no investimento; máquinas e equipamentos, 51,1%; e os demais subitens, 7,8%.
Os números não estão suficientemente desagregados para dar uma ideia melhor do que de fato representam. Mas dá para dizer que a construção civil está fundamente concentrada na produção de casas de moradia e estabelecimentos comerciais. São relativamente baixos os investimentos nesse segmento que correspondem a aumento real da capacidade de produção. Além disso, a partir dos números disponíveis não há como saber qual é o fator multiplicador de obras públicas e de projetos de infraestrutura, como estradas, pontes, ferrovias, portos, hidrelétricas, linhas de transmissão, etc.
Também no subitem mais importante (máquinas e equipamentos) é impossível saber qual seu impacto real sobre a capacidade futura de aumentar a oferta de bens e serviços. Quando uma empresa faz um bom investimento em programas de informática ou em sistemas de comunicação pode aumentar substancialmente sua capacidade de produção do que se instalasse uma caldeira ou um novo forno. Mas as estatísticas não separam coisa de coisa.
Além disso, os investimentos têm prazos desiguais de maturação. A construção de uma hidrelétrica, por exemplo, pode levar anos. E, no entanto, o investimento está acontecendo desde que o primeiro técnico se assenta a um computador para bolar o projeto. Em compensação a instalação de um sistema de Tecnologia da Informação pode dar retorno em questão de meses.
Por aí se vê que, quando os números sobre Formação Bruta de Capital Fixo são apresentados, não dá para ter uma ideia segura sobre o que representam como aumento da capacidade de produção e, portanto, como preparação do sistema produtivo para dar conta do aumento do consumo.
Em todo o caso, é mais ou menos consensual entre os especialistas em Contas Nacionais que um investimento anual de 17% a 18% do PIB (o de 2009 foi de 18,7%) é insuficiente para garantir um crescimento sustentado do setor produtivo superior a 4%.
Se o Brasil está determinado a crescer 6% do PIB, tem de garantir pelo menos uma parcela de 22% da renda anual para o investimento.
Entrevista:O Estado inteligente
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