Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 17, 2009

: Villas-Bôas Corrêa Previsão de Sarney desequilibra Dilma

JORNAL DO BRASIL

A mobilização de mais da metade do governo para a excursão às obras de transposição das águas do rio São Francisco para socorrer o Nordeste, nos tempos de seca, e a irrigação das plantações nas fases de bonança das chuvas abundantes foi atingida por um raio mortal: a previsão do senador José Sarney, presidente do Senado, de que a candidatura da ministra Dilma Rousseff deve ir para segundo turno.

Não é o simples palpite de um leviano nem a seta venenosa de um acerto de contas. Sarney e o presidente Lula entendem-se como aliados nas horas de tempo ameno ou nas inundações das desavenças. E o ex-presidente, que herdou o mandato espichado para seis anos do presidente Tancredo Neves, tem longa experiência de sucessos e derrotas. Saca o argumento de singela objetividade: com cinco candidatos no primeiro turno, com o horário de propaganda eleitoral em rede nacional de rádio e televisão e ainda os prováveis debates entre candidatos promovidos pelas TVs e cadeias de rádio além da internet, só um candidato que dispare e deixe os outros na poeira atingirá a maioria absoluta de metade mais um voto.

Sarney argumenta que não é o que até agora parece provável. Com a confirmação da campanha do deputado Ciro Gomes, correndo por fora e mais as candidaturas da ex-ministra, senadora Marina Silva, do Partido Verde, e a mística de uma defensora do meio ambiente e da proteção da Floresta Amazônica, a candidatura da senadora Heloísa Helena e o peso-pesado do candidato da oposição, provavelmente o governador paulista José Serra ou a possível alternativa do governador Aécio Neves, de Minas, só um fato novo levaria a candidata de Lula á eleição no primeiro turno. Daí em diante, o imprevisível. Mas, como entra pelos olhos, a popularidade de Lula seria arranhada, não tão gravemente como o da sua candidata Dilma Rousseff, que estrearia com um desempenho decepcionante.

E todo esforço de ética questionável, da maratona da caravana do presidente Lula, com a ministra Dilma Rousseff e uma alegre caravana para um giro a pretexto de acompanhar as várias frentes de obras do governo, pode errar o alvo e o tiro sair pela culatra. O prefeito de Pirapora, Warmilom Braga, do DEM, foi informado em cima da hora do cancelamento da visita da caravana do presidente Lula às obras do PAC em Pirapora, cidade vizinha a Buritizeiro, às margens do rio São Francisco. Para um prefeito de uma cidade do interior, o bolo presidencial é desmoralizante.

E para um presidente – que voa para todos os cantos do mundo, que nasceu em Garanhuns, PE, onde viveu até os 7 anos, quando migra para São Paulo, passa por necessidades até a matrícula no curso de torneiro mecânico no Serviço Nacional de Indústria (Senai) e começa a vertiginosa ascensão como líder sindical, fundador do PT, deputado federal – não se compreende o desleixo ou a leviandade com que sua agenda de viagens é montada e quase sempre alterada.

A entrevista de José Sarney à Folha de S. Paulo e os percalços da excursão com a ministra Dilma e comitiva devem roubar algumas horas do seu sono na volta aos lençóis domésticos.

Mas Lula tem jogo de cintura e está apostando todas as fichas na tática da polarização entre a ministra Dilma e um candidato de oposição. A presença de Ciro Gomes na peregrinação pelo Nordeste em caravana eleitoral de luxo, com governadores, ministros, parlamentares, prefeitos e candidatos, é a pedra da vez para a tentativa de polarização, quando a popularidade recordista de Lula selaria a vitória. Ciro Gomes, pelo que não confirma nem desmente, pelo menos está examinando o convite de Lula para ser o candidato a vice-presidente na chapa de Dilma, arrastando sua votação, que é considerável não apenas no Ceará mas por todo o Norte e Nordeste.. Um político com carreira respeitável e que desequilibraria a oposição ainda sem a chapa fechada. De certo, apenas o governador de São Paulo, o tucano José Serra, para presidente.
Para vice, o governador mineiro Aécio Neves negaceia, com o forte argumento que seria a chapa que não somaria votos.

A viagem da maior caravana eleitoral antes do prazo constitucional para a propaganda eleitoral é uma parada de risco. Mas quem vai discutir com o presidente com 80% de aprovação e a popularidade blindada que tem resistido a todos os testes?

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