FOLHA DE S. PAULO
SÃO PAULO - Alvejado no ar, o helicóptero explode ao tentar o pouso e dois policiais morrem, carbonizados. Há feridos, um em estado muito grave. Pela primeira vez, o tráfico derruba um helicóptero da PM no Rio -mais uma barreira foi transposta pelo crime organizado.
A polícia mobiliza entre 2.000 e 3.000 homens, recebidos com barricadas de pneus em chamas. Uma escola pública fica parcialmente destruída pelo fogo e oito ônibus são incendiados pela cidade para desviar a atenção do Morro dos Macacos, na zona norte.
O saldo do sábado é de 15 mortos e oito feridos. Ontem, novos confrontos na Favela do Jacarezinho resultaram em mais dois cadáveres.
Alguém poderia dizer que a Olimpíada no Rio já começou. Pela prova de tiro ao alvo. Mas não há, diante dessas cenas, espaço para gracejos, tampouco para o discurso triunfalista de duas semanas atrás. Se isso não for guerra civil, qual é o nome?
Ainda atônito, o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, tentava circunscrever a barbárie: "Isso não é um problema do Rio. Isso é o problema de uma região, está acontecendo num ponto muito específico da cidade".
Parecia fala para inglês ver, como se fosse dirigida a algum fantasma do COI em Copenhague, e não aos moradores, exaustos ou anestesiados, de uma cidade que vive refém de uma rotina de terror intolerável.
A questão, aqui, não é saber se o Rio poderá sediar uma Olimpíada. Vai sediar, na base da maquiagem midiático-militar das suas fraturas expostas. A questão é saber se um dia ainda seremos um país decente.
Até onde a vista alcança, o conflito do tráfico no Rio ficou insolúvel. Sérgio Cabral parece enxugar gelo com seu bangue-bangue após décadas de favelização e omissões criminosas do Estado. Haverá dinheiro e energia social suficientes para reverter a dinâmica histórica de desmanche da vida civilizada? Por ora, vimos só a vingança da vida como ela é sobre o festival de ilusões protagonizado por Lula e sua claque.