RIO DE JANEIRO - Hoje é um dia especial. Não vou percorrer labirintos em Tegucigalpa nem mergulhar nos abismos oceânicos, de onde se extrai petróleo. Hoje é sexta, e o que acontecer em Copenhague terá um efeito direto em nossas vidas.
Hoje é sexta. Vou ouvir, como sempre, as batidas do baile funk, um ou outro tiro perdido, motoristas tresloucados tomando as ruas, enfim, hoje em dia, acontece nas noites de sexta quase tudo o que era reservado ao sábado no poema de Vinicius de Moraes.
Oitenta e cinco por cento dos cariocas, dizem as pesquisas, querem a Olimpíada no Rio. Os habitantes de Tóquio querem menos a escolha de sua cidade. Apenas 56%. Em Chicago há movimento contrário, pois temem-se os gastos excessivos e a roubalheira de políticos.
As autoridades declararam feriado, há festas programadas na orla. Espero encontrar a feira livre na Nossa Senhora da Paz. É tempo de jabuticabas e surgiu uma romã imensa, cinematográfica.
Dizem que Lula falará sobra a importância da Olimpíada para a autoestima dos brasileiros.
Nem sei se isso procede, mas, autoestima pra cá, autoestima pra lá, estamos sempre vivendo o mesmo enredo.
Deveria haver uma hora para cessar a autoestima. Meia noite é pouco, reconheço. Mas, às duas da manhã, quando todos os bares já fecharam, todas as autoestimas deveriam também ser negadas. Hora em que deveríamos aceitar o nosso destino e dormir em paz, como quem mora em Tóquio, Chicago ou Madri.
Se o Rio vencer, esperam-se investimentos maciços. Tivemos um Pan que nos deixou alguns elefantes brancos e muitas dúvidas sobre a aplicação do dinheiro.
Em caso derrota, com as ruas cheias e alguma bebida, talvez seja preciso acalmar as pessoas.
Convocou-se uma festa antecipada. De qualquer forma, à noite dançamos o funk.