OS PROFESSORES americanos Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff acabam de publicar excelente livro ("This Time is Different", Princeton U. Press, 2009) em que narram a repetitiva história de oito séculos de delírio financeiro mundial. As palavras finais do texto, de quase 300 páginas, dizem mais ou menos assim: "É encorajador que o passado aponte quais os sinais antecedentes (de uma próxima crise financeira) de que autoridades podem se valer para detectar riscos -desde, é claro, que não estejam tão embriagadas pelo sucesso fabricado por sua bolha de crédito, a ponto de repetirem o que disseram, por séculos, os antecessores, "desta vez vai ser diferente".
Há pontos obscuros no propalado anúncio da recuperação da economia mundial. Embora evidente que alguns números da atividade econômica tenham melhorado, alguns até de forma espetacular -estes, em geral, nas economias ditas emergentes, como China e Brasil-, o fato inescapável é que juros baixos e dívida explosiva de governos continuam sendo a força motriz de uma reemergência tão rápida. Esse é o principal ponto obscurecido pelo ufano otimismo de quem não mede bem os riscos ainda pela frente. Se a reemergência da atividade mundo afora vem atrelada aos pacotes de estímulo dos governos do G20 e se, além disso, os Estados Unidos e a Europa colocaram as taxas de juros básicas próximas a zero, então o quadro macroeconômico mundial está longe de poder ser chamado de normal.
Não por outro motivo, o editorial da semana passada da revista "The Economist" aderiu ao termo pouco usual de "normalcy", em vez de "normality", acompanhando o termo usado no comunicado oficial do G20 em Pittsburgh. "Normalcy" (para cuja expressão peço que me ajudem com uma equivalente em português) seria diferente de "normalidade", pois naquela a dúvida paira e persiste, enquanto nesta haveria a garantia de que tudo irá bem.
Não há como garantir a normalidade por enquanto. São dois os motivos que tornam a atual recuperação totalmente contraditória: os preços das matérias-primas e o ritmo dos novos investimentos. A inundação de dinheiro via planos de estímulo, socorros a bancos e descarga violenta de créditos oficiais, em todos os países, inchou as commodities e os ativos em Bolsas.
Por mais que se esforcem os comprados para justificar os preços alcançados, a melhor desculpa continua sendo o que julgam ainda faturar em cima de novos ganhos projetados. Se isso não é uma reedição de bolha financeira, temos de inventar outro apelido. Balão está na moda...
Por seu turno, os investimentos ainda não decolaram nas economias avançadas e são tímidos, embora positivos, nos emergentes. O indicador da decisão de investir é crucial, mas ele simplesmente não está lá.
Melhor que o Brasil surja como vencedor num mundo depauperado. A corretora Goldman Sachs (GS) prevê para 2010 uma demanda mundial pendurada nos BICs -isso mesmo, sem o "R" de Rússia. Para a China, a GS projeta expansão de 10,5% no consumo pessoal em 2010, após um estrondoso 9% em 2009.
Para Índia e Brasil, respectivamente, 6% e 4,9% em 2010. Tal expansão seria suficiente para compensar o recuo nas economias avançadas, especialmente nos EUA. Ou seja, passamos a ser parte de um mundo dependente do desempenho dos BICs, Brics ou semelhantes. Acontece que os emergentes estão ancorados em suas próprias políticas expansionistas, que não podem durar para sempre. Após a bolha, o voo de balão até parece "diferente". Mas não é
Há pontos obscuros no propalado anúncio da recuperação da economia mundial. Embora evidente que alguns números da atividade econômica tenham melhorado, alguns até de forma espetacular -estes, em geral, nas economias ditas emergentes, como China e Brasil-, o fato inescapável é que juros baixos e dívida explosiva de governos continuam sendo a força motriz de uma reemergência tão rápida. Esse é o principal ponto obscurecido pelo ufano otimismo de quem não mede bem os riscos ainda pela frente. Se a reemergência da atividade mundo afora vem atrelada aos pacotes de estímulo dos governos do G20 e se, além disso, os Estados Unidos e a Europa colocaram as taxas de juros básicas próximas a zero, então o quadro macroeconômico mundial está longe de poder ser chamado de normal.
Não por outro motivo, o editorial da semana passada da revista "The Economist" aderiu ao termo pouco usual de "normalcy", em vez de "normality", acompanhando o termo usado no comunicado oficial do G20 em Pittsburgh. "Normalcy" (para cuja expressão peço que me ajudem com uma equivalente em português) seria diferente de "normalidade", pois naquela a dúvida paira e persiste, enquanto nesta haveria a garantia de que tudo irá bem.
Não há como garantir a normalidade por enquanto. São dois os motivos que tornam a atual recuperação totalmente contraditória: os preços das matérias-primas e o ritmo dos novos investimentos. A inundação de dinheiro via planos de estímulo, socorros a bancos e descarga violenta de créditos oficiais, em todos os países, inchou as commodities e os ativos em Bolsas.
Por mais que se esforcem os comprados para justificar os preços alcançados, a melhor desculpa continua sendo o que julgam ainda faturar em cima de novos ganhos projetados. Se isso não é uma reedição de bolha financeira, temos de inventar outro apelido. Balão está na moda...
Por seu turno, os investimentos ainda não decolaram nas economias avançadas e são tímidos, embora positivos, nos emergentes. O indicador da decisão de investir é crucial, mas ele simplesmente não está lá.
Melhor que o Brasil surja como vencedor num mundo depauperado. A corretora Goldman Sachs (GS) prevê para 2010 uma demanda mundial pendurada nos BICs -isso mesmo, sem o "R" de Rússia. Para a China, a GS projeta expansão de 10,5% no consumo pessoal em 2010, após um estrondoso 9% em 2009.
Para Índia e Brasil, respectivamente, 6% e 4,9% em 2010. Tal expansão seria suficiente para compensar o recuo nas economias avançadas, especialmente nos EUA. Ou seja, passamos a ser parte de um mundo dependente do desempenho dos BICs, Brics ou semelhantes. Acontece que os emergentes estão ancorados em suas próprias políticas expansionistas, que não podem durar para sempre. Após a bolha, o voo de balão até parece "diferente". Mas não é