A característica vocação do Rio de Janeiro como cidade de serviços, especialmente nas áreas de esporte, entretenimento, cultura, mídia e lazer, pode ser medida em números pelos dados de emprego do Ministério do Trabalho de 2008. Apesar de, para o total das atividades econômicas, a cidade de São Paulo apresentar o dobro de empregos da cidade do Rio — cerca de 4,5 milhões contra 2,1 milhões —, nas áreas mencionadas o emprego na cidade do Rio de Janeiro é basicamente igual ao da cidade de São Paulo: 38.682 contra 44.508.
Esses setores representam 1,8% dos empregos da cidade do Rio, o maior percentual de todas as grandes capitais, enquanto para São Paulo representam apenas 1%. Além das Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016, o Rio receberá os Jogos Mundiais Militares em 2011, a Copa das Confederações em 2013, a Copa do Mundo em 2014.
O economista Mauro Osório, especialista em planejamento urbano e professor da UFRJ, considera que a visibilidade internacional que uma cidade adquire quando escolhida como sede das Olimpíadas “fica particularmente potencializada no Rio, por sua história”.
Quando o Império resolve transferir a capital de Salvador para o Rio, segundo Osório, a decisão já é fruto “não só da maior proximidade com Minas Gerais e do ciclo do ouro, mas, também, da história de centro nacional que o Rio construía”.
Com a vinda da família real, consolida-se o que o historiador de arte e ex-prefeito de Roma Giulio Argan denomina de Cidade Capital.
De acordo com Argan, todo país do mundo tem uma cidade que é sua referência internacional.
No caso dos EUA, é Nova York, e não Washington. No Brasil, até hoje, é o Rio, e não São Paulo, “apesar da potencialidade econômica paulista”. Osório lembra que “o mundo atual opera com a imagem. Apenas no dia do resultado da disputa pela sede das Olimpíadas, em torno de 1 bilhão de pessoas assistiram ao evento através da mídia internacional.
Isso também reforça a importância de o Rio receber eventos internacionais, por sua plasticidade”.
Estamos, portanto, ressalta Osório, diante de uma rara oportunidade histórica de a cidade, a Região Metropolitana e Estado do Rio “reverterem a trajetória de decadência ocorrida desde a mudança da capital para Brasília, nos anos 1960”.
Para o aproveitamento dessa oportunidade, no entanto, o professor considera fundamentais dois fatores: o adequado desenho de estratégias e o controle público.
Ele lembra que Barcelona “se apropriou adequadamente em uma série de aspectos das possibilidades trazidas pelos Jogos Olímpicos devido à forte cultura regionalista catalã, que favorece a reflexão e o olhar regional”.
Já o Rio tem uma história que é o contrário disso, lamenta Osório, que costuma dizer que os cariocas “mais provincianos” pensam o Brasil e os “mais cosmopolitas” pensam o mundo.
Isso faz com que, segundo ele, mesmo após 50 anos da mudança da capital — que se completam no ano que vem —, “até hoje tenhamos uma rarefeita reflexão regional e, por conseguinte, incorremos em importantes equívocos no desenho de prioridades e estratégias”.
Essa ausência de uma cultura e olhar regional tem nos levado a erros de diagnóstico e de estratégias.
Ele considera que a conquista dos eventos esportivos, ao lado do bom momento da economia brasileira, dos investimentos previstos para a nossa região, da parceria entre as esferas de governo e do início de uma reestruturação do setor público em nossa região, “podem facilitar que realizemos, pela primeira vez desde a mudança da capital, a discussão e o desenho de estratégias integradas para a cidade e Região Metropolitana, e não apenas, por exemplo, uma política para a Barra da Tijuca”.
Mauro Osório é um dos vários estudiosos do Rio que consideram que a Vila Olímpica deve ser instalada na área portuária da cidade, em vez de localizá-la na Barra.
“Isso porque os principais ícones da cidade do Rio de Janeiro estão no espaço entre o Centro e a Zona Sul, como o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar”.
Além disso, Mauro Osório entende que essa iniciativa poderia consolidar uma política de revitalização do Centro, como ocorreu em Barcelona. Um foco maior no Centro e na área portuária “pode permitir maior adensamento e dinamização das regiões centrais e suburbanas do Rio”.
Ele considera também que “tão importante quanto é aproveitar essa oportunidade para trabalhar a retomada da autoestima da população em nossa região e o desenho de uma política metropolitana”.
Por que não, com base nas Olimpíadas, começarmos a pensar uma política de massificação e diversificação dos esportes?, pergunta Osório. Em resposta, ele imagina começarmos a pensar uma política metropolitana que pode ter uma de suas ênfases no estímulo e massificação do esporte nas cidades periféricas ao Rio de Janeiro e em nossos subúrbios e Zona Oeste.
Também acha que deveria ser aproveitado esse momento “de forte e correto aporte de recursos federais” para traçarmos não apenas o metrô para a Barra, mas uma política de transporte de massa em toda a Região Metropolitana.
O prefeito Eduardo Paes, confrontado com todas essas demandas da sociedade, diz que se preocupa com a percepção de que, com a vinda das Olimpíadas para o Rio, todos os nossos problemas estarão resolvidos.
Mas garante que não limitará as políticas públicas a garantir a realização organizada e pacífica dos Jogos, e pretende que a cidade se beneficie de maneira permanente das mudanças estruturais que virão com sua realização, especialmente na parte de segurança pública, com o aprofundamento da política de urbanização das favelas e na revitalização de suas áreas degradadas