Um céu estreito
Atraso na estreia do novo Jumbo levanta dúvidas sobre o futuro dos
aviões de grande porte, capazes de levar mais de 400 passageiros
Luís Guilherme Barrucho
Foto DPA/Corbis/Latin Stock
Com capacidade para transportar até 467 passageiros de Nova York a Hong Kong sem escalas, o 747-8 – o novo Jumbo – foi anunciado em 2005 como a aposta da fabricante americana de aviões Boeing para concorrer com o A380, o maior jato comercial do mundo, produzido pela europeia Airbus. Na semana passada, entretanto, a Boeing informou que haverá novos atrasos no cronograma de produção da aeronave, um gigante de 214 toneladas que ainda não decolou e deverá permanecer em terra firme até, pelo menos, meados de 2010, quando finalmente fará o vôo inaugural em Everett, no estado de Washington. A previsão era que o voo ocorresse em dezembro próximo. A mudança no calendário custará aos cofres da empresa 1 bilhão de dólares.
As dificuldades para a decolagem do Jumbo reacendem dúvidas quanto à viabilidade econômica dos aviões de grande porte, conhecidos como widebodies. "Atualmente, há muito pouca demanda para esse tipo de aeronave. As vendas do A380 ficaram aquém das expectativas e a Airbus teve de conceder descontos para escoar a produção", afirmou a VEJA Richard Aboulafia, um dos mais renomados analistas aeroespaciais dos Estados Unidos. Há razões de sobra para o ceticismo. Aviões que carregam muitos passageiros são tidos como os mais visados por terroristas. Além disso, tanto o 747-8 quanto o A380 precisam de pistas longas para aterrissar e de terminais adequados para embarque e desembarque. Para completar, o setor aéreo sente o baque da crise mundial, que reduziu o número de viagens. No caso específico da Boeing, os contratempos com o Jumbo se somam à perda de 2,5 bilhões de dólares decorrente das dificuldades de concluir o projeto do 787 Dreamliner. Concebido para ser o avião do futuro, o Dreamliner traz uma série de inovações que o tornam mais leve e lhe dão maior autonomia. Mas imprevistos retardaram sua estreia, prevista agora para o fim deste ano.
A Boeing e a Airbus acreditam que, à medida que a economia mundial recuperar o vigor, a demanda por aviões de grande porte também ganhará força. Diz Fernando Catalano, coordenador do curso de engenharia aeronáutica da USP de São Carlos: "A retomada deve ser impulsionada, principalmente, por companhias asiáticas, cujo volume elevado de passageiros transportados permite investir nesse tipo de aeronave". É nesse mercado que pode ser decidido o futuro do A380 e também do Jumbo, que inaugurou a era dos widebodies, em janeiro de 1970, num voo da falida Pan Am. Logo depois viria a crise do petróleo, que derrubou o número de passageiros e tornou a operação do Jumbo impraticável para várias companhias. A expectativa é que desta vez a populosa Ásia, a região que mais cresce no mundo, faça a diferença.
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