Petismo-lulismo chega ao fim de seu primeiro governo travestido ideologicamente e no conchavo com oligarcas |
O PT ENCANTOU-SE com Antonio Carlos Magalhães, o ACM, quando o falecido senador do PFL-DEM e oligarca da Bahia deu de espinafrar o governo de Fernando Henrique Cardoso, por volta do ano 2000. ACM chegou a dizer que FHC era "tolerante com a corrupção". Denunciava escândalos na Sudam e no DNER (burocracias ligadas a ministérios então comandados pelo PMDB). ACM defendia ainda o "fundo social da pobreza", aumentos do salário mínimo etc.
Entre outros motivos, ACM estava tiririca porque PSDB e PMDB defendiam a eleição de Jader Barbalho (PMDB) para sucedê-lo na presidência do Senado -é antigo o histórico de rolos derivados de eleições mal resolvidas no Senado. O PT se divertia com o sururu na baia governista e elogiava a irrupção de sensibilidade social de ACM. Sim, depois do mensalão, lembrar o oportunismo amoral do PT parece ninharia, mas a história não para aqui.
"Anos depois...", como dizem letreiros de novelas, Ideli Salvatti (PT), líder do governo Lula, estava ontem na tribuna do Senado a defender José Sarney (PMDB), atacado pelo PSDB e agora até pelo DEM, partido experiente em abandonar navios que afundam (o DEM apoiara a eleição de Sarney). Foi numa fuga de ratos do barco da ditadura que nasceu o Partido da Frente Liberal, PFL, hoje DEM, parido de várias costelas do PDS, ex-Arena. Esse cortejo oportunista que daria no PFL foi comandado pelo mesmo Sarney, em 1984. É uma dança das cadeiras.
Mas os dançarinos jamais são eliminados. As cadeiras estão sempre lá. Nesse "cômodo vício de recirculação", como diria o poeta, o PT ressurge mais uma vez e de modo ampliado como amigo da oligarquia, pronto a qualquer comércio, desde que oportuno. Diferente dos demais? Claro que não. Novidade? Nenhuma. Aliás, noutro dia mesmo senadores do PT encorpavam a tropa de choque que defendeu a cabeça de Renan Calheiros (PMDB), o grande articulador da candidatura de Sarney à presidência do Senado.
Parece tudo uma história tão natural, mas noutro dia mesmo, em 2002, Lula comandava a primeira vitória nacional de um partido dito de esquerda. É verdade que de 1995 a 2002 o PT já se dissolvia no lulismo. Em 2002 e 2003, trocara de roupa ideológica em público, renegando seus planos doidivanas, chamados de "bravatas" por Lula. Agora, em suas viagens de campanha eleitoral Lula fecha acordos políticos com quem seja capaz de apoiar sua candidata, atropelando o resto do PT ou, melhor, outros interesses de quem se abriga na legenda do PT.
É fácil atribuir o banho de oligarquia do PT ao peso do PMDB na política brasileira, esse PMDB que representa a massa amorfa do empreendedorismo político-privado das regiões social e economicamente primitivas e indiferenciadas do país. Com FHC ocorreu coisa parecida, embora o tucano não tenha ficado tão refém do PMDB como Lula. FHC conseguiu isolar parte maior e mais relevante de seu governo e programa da cupidez peemedebista. Lula manteve seu compromisso de "melhorar a vida dos pobres" (mas nem tanto assim), atolou o governo na inércia e termina seu mandato no puro conchavo. E com oligarcas. Não parece, mas é histórico.