DA VEJA
O Google desafia a Microsoft
Com o Chrome OS, o gigante das buscas na internet pretende lançar
um sistema operacional para a "era da nuvem", em que programas
e arquivos já não ficam guardados na memória do computador
Renata Bettia
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Nos próximos anos, a maneira como a grande massa das pessoas administra a sua vida digital vai se alterar profundamente. Escritos, fotos e vídeos, bem como os programas necessários para criar esses documentos, vão deixar a memória dos computadores e migrar para a internet – ou para a "nuvem", como hoje preferem os especialistas, referindo-se ao espaço virtual sem fronteiras definidas resultante da interconexão de grandes centros de processamento de dados espalhados pelo mundo. A informação se tornará acessível de qualquer lugar, em vez de ficar trancada num disco rígido. Na era da nuvem – e não há dúvida de que se trata de uma nova era da computação –, aquilo que se espera de um computador pessoal já não é o que até agora se esperava. Com isso, mudam não apenas os aparelhos, como mostra a ascensão dos compactos e baratos netbooks, mas também o tipo de sistema operacional necessário para controlar o funcionamento deles. Na semana passada, o Google se pôs na vanguarda dessa movimentação ao anunciar que lançará, em 2010, o Chrome OS, seu primeiro sistema operacional. Nas palavras da própria empresa, um sistema "rápido e leve, que conecta as pessoas à internet em poucos segundos".
"O Google escolheu o momento ideal para lançar seu sistema operacional", afirma Annette Jump, analista da consultoria americana Gartner. "A nuvem e os netbooks oferecem a base para que seu produto deslanche." Não é segredo, contudo, que o objetivo do Google, mais do que apenas "deslanchar" nesse novo mercado, é abalar a hegemonia que a Microsoft conquistou nos últimos 25 anos com as várias versões do Windows – o sistema operacional presente em 95% dos computadores fabricados na "era do PC".
No último ano e meio, a Microsoft rapidamente fez parcerias com fabricantes emergentes de netbooks como Asus e Acer. O Windows já vem instalado na maior parte dos computadores desse tipo que saem das linhas de montagem. Trata-se, porém, do Windows XP, uma vez que o Windows Vista, a versão atual do programa, é grande e pesado demais para a memória limitada dos netbooks. Em outubro, a empresa de Bill Gates lança o Windows 7, que promete ser mais leve, justamente para rodar nesses aparelhos. Mas o novo sistema operacional mantém o armazenamento de programas dentro da máquina – ou seja, ainda não abraça totalmente a nova realidade da nuvem. O Google conta com esse "atraso" da concorrência e com um segundo fator que deve representar uma importante vantagem competitiva: o Chrome será grátis. Esse é um desafio real para o modelo de negócios da Microsoft, que tira cerca de 30% de todo o seu faturamento das vendas do Windows. Ao longo dos anos, o custo do sistema operacional em relação ao preço final de um computador aumentou exponencialmente. Em 1984, o sistema representava 5% do preço de uma máquina. Hoje, o Windows representa até 40%. Para fazer negócio com os fabricantes de netbooks, a Microsoft teve de dar descontos pesados, da ordem de 70%. A concorrência de um sistema grátis vai exigir mais do que simples promoções.
O hábito, no entanto, conta a favor da Microsoft. "As pessoas são conservadoras, preferem ficar com o que já conhecem", afirma Ethevaldo Siqueira, especialista em tecnologia. Além de fazer parcerias com os fabricantes de computador, para que as máquinas já saiam da loja com o Chrome instalado, o Google terá de convencer as pessoas de que vale a pena adotar a sua novidade. O Linux, software livre no qual o Chrome OS se baseia, jamais conseguiu isso. Embora também seja gratuito, está presente em apenas 1% dos computadores. O Google, contudo, é uma empresa gigantesca, universalmente conhecida e reconhecida pelo espírito de inovação que a fez criar o serviço de busca mais utilizado da internet. A briga vai ser boa.
E tudo começou com o DOS
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