O Estado de S. Paulo - 17/07/2009 |
Talvez nunca antes na História um presidente tenha reunido tanto apoio, político e popular, quanto Lula. Há levantamentos que indicam ter ele alcançado a marca dos 80% de aprovação. Deve-se ter em mente que a unanimidade é inatingível. Nem mesmo Jesus Cristo a alcança, haja vista que há um determinado porcentual da população que não acredita nele. Mas, como bem observou meu filho Ricardo, esse porcentual estratosférico lhe garante o título de grande político, não o de estadista. Estadista é alguém que deixa um legado - de feitos, comportamentos ou palavras - para as gerações seguintes. Vendo as coisas por esse prisma, qual é o legado de Lula? Ele deixará para a posteridade alguma grande realização? Ele servirá de exemplo para alguma coisa? Existem pensamentos ou definições de sua lavra que ficarão na História? A resposta é negativa para as três indagações. Lula não é mesmo um estadista. Ao contrário. Por tudo o que fala e faz, ele deixa muito a desejar nesse quesito. Os norte-americanos - que criaram a figura do presidente da República - revestem o titular do posto de um significado que transcende em muito as suas atribuições. O presidente é um rei temporário que se fez pelos seus próprios méritos. E, assim sendo, é uma referência para o comportamento de todos os seus concidadãos. George Washington, o primeiro presidente, tinha essa noção muito clara. Como a América abrira mão de ungir um rei, era natural que depositasse na figura do presidente todas as expectativas que, em outras circunstâncias, seriam próprias de um monarca. Consciente de seu papel, ele governou os Estados Unidos por oito anos. E fez história. Muitos dos seus procedimentos até hoje são seguidos. Um deles é o culto à pessoa da primeira-dama. A própria expressão - primeira-dama - provém de sua época. Outro é o exercício da presidência por apenas dois mandatos. A Constituição norte-americana, originalmente, permitia ao presidente se reeleger quantas vezes quisesse. George Washington, a seu tempo, recebeu numerosos apelos para se candidatar a novos mandatos. Mas entendeu que a alternância no posto era o principal sinal que distinguia um presidente de um rei e recusou-se a prosseguir. Todos os presidentes que se seguiram obedeceram fielmente à regra, com exceção de Franklin Roosevelt. Após a morte deste, no exercício do quarto mandato, o Congresso aprovou uma emenda constitucional proibindo expressamente a reeleição indefinida. Os exemplos de George Washington deixam uma mensagem clara: o presidente não é gente como a gente. Ele tem de ser melhor do que a gente. É também para servir de referência que nós o colocamos lá. Lula não tem sido uma boa referência. Ao contrário, os exemplos que ele deixará são negativos. Não se aconselha ninguém a segui-los. O primeiro deles provém da instituição Bolsa-Família. Ela cria nas pessoas a falsa noção de que basta terem nascido pobres para que se tornem credoras do Estado. Cabe a este garantir-lhes uma renda mínima até o fim de sua vida. Um dos efeitos não previstos pelos idealizadores do programa é que a quantia mensal recebida por família - mais de R$ 100, em média - é baixa unicamente pelos padrões do Sudeste. Nos rincões nacionais ela é suficiente para garantir o sustento de uma família sem que nenhum de seus membros trabalhe. Ora, criar uma nação de pensionistas é algo que nenhum partido jamais ousou inscrever entre os seus objetivos. Pois o Bolsa-Família criou essa expectativa. Todo mundo doravante se acha no direito de viver à custa do Estado. E isso solapa de vez os alicerces da ética do trabalho. Outro mau exemplo é o que nos é dado pela nossa política exterior. O governo brasileiro apoia irrestritamente todas as nações que insistem em transgredir as regras da boa convivência internacional. Cuba e Venezuela rosnam para os Estados Unidos? Pois lá está o Brasil para prestar-lhes solidariedade. As eleições no Irã parecem ter sido fraudadas? Pois lá estamos nós de novo, para emprestar legitimidade ao processo. A Coreia do Norte afronta o mundo fazendo testes nucleares? Pois ela pode contar conosco para evitar, nos foros internacionais, que maiores sanções sejam adotadas. Não é adotando posições como essas que o Brasil se fará valer. Somos uma nação emergente, sim. Estamos lutando para obter espaço? Sem dúvida. Mas para tanto não é necessário procurar chamar a atenção em razão de posicionamentos discutíveis, em favor de nações delinquentes. Uma política externa consequente, lastreada na constância, na previsibilidade e na responsabilidade, faria mais pela imagem do Brasil do que todas as bravatas que têm pautado os nossos posicionamentos. O terceiro mau exemplo que a era Lula nos está legando diz respeito à própria imagem do presidente em si. Todos nós passamos a vida tentando incutir em nossos filhos a ideia de que sem estudos não se vai longe. Procuramos passar-lhes a noção de que somente por meio do zelo, da aplicação e do esforço é que se pode sonhar alcançar alguma coisa na vida. E tudo isso para quê? Ninguém menos do que o nosso presidente se arvora em ser o exemplo contrário de tudo isso. Ele se vangloria de não ter estudado. E procura passar a imagem de que, para vencer na vida, a diligência, o preparo e o esmero são valores inferiores à malandragem, à persuasão e à manha. Então, é assim? Quem conquista um lugar ao sol são os mais espertos, e não os mais capazes? Esses são os exemplos que Lula nos dá. Será que posso recomendá-lo aos meus filhos? |
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
sexta-feira, julho 17, 2009
O exemplo que Lula nos dá João Mellão Neto
Arquivo do blog
-
▼
2009
(3759)
-
▼
julho
(384)
- Clipping de 31/07/2009
- Dora Kramer Tigre de papel
- Celso Ming-Parar pra ver
- Merval Pereira -A nova classe
- Segunda onda Fernando Gabeira
- Luiz Carlos Mendonça de Barros A mensagem do Copom
- Míriam Leitão Ordem do futuro
- EDITORIAIS-31/7/2009
- Clipping de 30/07/2009
- Celso Ming Não é mais o mesmo
- Perigo à vista para o futuro do pré-sal David Zylb...
- O orçamento da eleição permanente: Rolf Kuntz
- Editoriais
- Míriam Leitão Visão turva
- Dora Kramer Operação mãos sujas
- Merval Pereira Sem solução
- EDITORIAIS
- Clipping de 29/07/2009
- Niall Ferguson,“Chimérica” é o grande desafio
- Celso Ming,É mesmo preciso mudar?
- PAULO RABELLO DE CASTRO O novo cenário WWW
- RUY CASTRO Dependência e morte
- Los hermanos Miriam Leitão
- Merval Pereira Pouco risco
- Dora Kramer O olho do juiz
- O PAC, cada vez mais caro
- Vamos proclamar a República? Sandra Cavalcanti
- Celso Ming -Os bancos reagem à caderneta
- Clipping de 28/07/2009
- Míriam Leitão Preço da concessão
- Yoshiaki Nakano A vez dos países emergentes
- EDITORIAIS
- Dora Kramer Caminhando contra o vento
- Merval Pereira Plebiscito ou eleição?
- Rubens Barbosa,CONTRADIÇÃO INTERNA
- EDITORIAIS
- Clipping de 27/07/2009
- O problema é Chávez Igor Gielow
- O outono do patriarca Marco Antonio Villa
- O enigma PAULO GUEDES
- O dever da liberdade Carlos Alberto Di Franco
- O Brasil precisa de mais Carlos Alberto Sardenberg
- Um garoto de sucesso
- Como nunca antes na história
- E o general Golbery, afinal, não se enganou José d...
- AUGUSTO NUNES A soma que jamais deu certo
- EDITORIAIS
- Fazer a coisa certa Suely Caldas
- Melhorar é possível Dora Kramer
- MARIANO GRONDONA El peronismo, entre la lealtad y ...
- JOAQUÍN MORALES SOLÁ Un cambio de roles entre los ...
- Vasto mundo Miriam Leitão
- A gripe suína num boteco do Leblon JOÃO UBALDO RIB...
- Nem Chávez nem Fujimori Sergio Fausto
- Pupilos de Lula no divã Gaudêncio Torquato
- Sonda errada Miriam Leitão
- EDITORIAIS
- Choque e eufemismo Cesar Maia
- Moralidade, Hitler e paisagens Clóvis Rossi
- Salve-se quem (ainda) puder Dora Kramer
- VEJA Carta ao Leitor
- VEJA Entrevista Steven Marks A falha foi do Airbus
- Cidades Espírito de cacique cuida do clima para go...
- A fase nada boa do craque Romário
- Saúde A finasterida e o câncer de próstata
- Ambiente A contaminação das praias cariocas
- Ciência Os chimpanzés também morrem de aids
- Há vagas para brasileiros: nos Emirados
- A ópera-bufa de Berlusconi
- Entrevista: Avigdor Lieberman, chanceler israelense
- Itaipu A luz vai subir
- O impacto do novo corte na Selic
- O Cade multa a AmBev em 352 milhões
- Daniel Dantas: os erros e acertos do processo
- Os novos magros do Congresso
- A UNE assume a chapa-branca
- Petrobras Uma chance para aumentar a transparência
- Gripe: há motivo para pânico?
- Brasil Sarney: retrato do fisiologismo.
- Lya Luft Crime e Castigo
- MILLÔR
- Radar
- Maílson da Nóbrega Ludopédio no gramado
- Roberto Pompeu de Toledo Mártires da glória
- O cinquentenário da morte de Villa-Lobos
- Entrevista: Brüno (ex-Borat)
- O Grupo Baader Meinhof
- VEJA Recomenda
- da Veja Os mais vendidos
- AUGUSTO NUNES Quem está pagando as contas do hondu...
- Simpáticos, cordiais e canalhas Nelson Motta
- O presidente sem autocensura
- Editoriais
- Clipping de 24/07/2009
- Melhorou Celso Ming
- Fora de esquadro Dora Kramer
- Anormal profundo Panorama Econômico - Mírian Leitão
- Além dos números tradicionais Luiz Carlos Mendonça...
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG O atraso e as pesquisas
- Juro menor pesa mais no investimento Alberto Tamer
-
▼
julho
(384)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA