O Estado de S. Paulo - 17/07/2009 |
A independência do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) está sob forte ataque no Congresso dos Estados Unidos. Quem assiste ao que acontece por lá diria que o Fed é a Geni da vez. Leva pedradas por muitas razões, inclusive opostas: por não ter feito nada para impedir o estouro das bolhas dos ativos; por extrapolar seu mandato no ataque à crise; por ter favorecido os grandes bancos; por ser ou por não ser. O gancho que vem deflagrando as críticas é o projeto de lei do presidente Barack Obama que dá mais poder ao Fed para fiscalizar e supervisionar bancos e instituições cuja quebra possa provocar risco sistêmico (quebra em cadeia). E as críticas provêm ou dos políticos - tanto do Partido Republicano quanto do Democrata - que pretendem impor mais controles sobre a atividade do Fed, ou dos próprios bancos que querem continuar soltos para o que der e vier. Durante a crise, por diversas e reiteradas vezes, o Fed extrapolou seu mandato e interveio radicalmente no curso do mercado. Emprestou dinheiro diretamente a empresas; despejou cerca de US$ 2 bilhões por meio da compra de ativos e interferiu no futuro de alguns bancos. Desde março vem recomprando no mercado US$ 300 bilhões em títulos do Tesouro americano, na operação que está sendo chamada de afrouxamento monetário (quantitative easing). Os críticos apontam distorções nessa operação. De um lado, argumentam que tudo se passa como se o Fed estivesse mantendo relação incestuosa com o próprio Tesouro, ou seja, esteja garantindo o pagamento de contas públicas por meio de emissão de moeda. De outro, como se estivesse sacramentando forte aumento da dívida pública. Em todo o caso, acusam o Fed de ter-se engajado indevidamente em operações fiscais, quando sua função deveria ter se mantido ao âmbito da política monetária. Daí por que, exigem esses políticos, é preciso impor um cabresto ao Fed. As autoridades do Fed justificam essa compra como providência essencial destinada a criar demanda para os títulos do Tesouro ameaçados de rejeição. Essa rejeição tende a elevar drasticamente os juros de longo prazo e, com juros lá em cima, não há o que derrube o custo dos financiamentos imobiliários (lastreados em hipotecas). E, enquanto o custo habitacional se mantiver nas alturas, não há condições para reversão sustentável da crise. Em todos os casos, o Fed explica que, na hora do incêndio, não dá para deixar de quebrar vidraça e emporcalhar a sala de visitas. É necessário agir e durante a ação não se pode ater rigidamente à letra da lei; é preciso garantir a saúde do sistema, dentro do princípio do Direito Romano de que a salvação do povo é a lei suprema. O resultado imediato dessas hostilidades vai ser determinado por exigências do momento. Parece improvável, por exemplo, que depois de tudo o que houve deixe de sair uma legislação fortemente restritiva à atividade financeira e, assim, o Fed obterá mais poderes que aumentarão suas funções fiscalizadoras. A longo prazo o Fed alargará ou não seus poderes conforme evoluir a crise. Se em alguns meses a crise for debelada, o Fed e seu atual presidente, Ben Bernanke, sairão como heróis que deram a resposta adequada na hora certa. Se a crise se aprofundar, estarão entre os culpados. Confira Nova locomotiva - O crescimento de 7,9% no segundo trimestre deste ano praticamente garante um avanço de 8% no ano inteiro, avisa Li Xiaochao, porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas da China. Isso mostra que o pacote de US$ 585 bilhões destinado no fim de 2008 ao financiamento do consumo está dando certo, apesar da crise que travou a economia global. A grande pergunta agora consiste em saber se a China vai conseguir usar a crise como motivação para mudar seu paradigma econômico e, assim, reduzir sua excessiva dependência das exportações. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, julho 17, 2009
CELSO MING O Fed sob ataque
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