FOLHA DE S PAULO
RIO DE JANEIRO - Numa das visitas internacionais mais politicamente delicadas do ano, chega ao Brasil Mahmoud Ahmadinejad. De um ponto de vista de nossas relações comerciais e culturais com o Irã, é compreensível.
Os dois países acabam de viver um desencontro.
O Brasil condenou, sem mencionar o nome, a intolerância que Ahmadinejad revelou na sua intervenção, em Genebra, na conferência sobre racismo. Teerã respondeu não ser adequado fazer críticas às vésperas da visita de Ahmadinejad.
Penso exatamente o contrário. A crítica foi feita na hora exata. É importante que ele conheça nossa situação. Somos pela existência de dois Estados, Israel e Palestina. Fiel à nossa política, Lula jamais deixou de mencionar isso, mesmo em conferências onde apenas os árabes estão presentes.
Quando há uma grande crise no Oriente Médio, fazemos no Saara, bairro comercial do Rio, manifestação das duas colônias, insistindo com nosso exemplo de que é possível uma convivência pacífica.
A presença de Ahmadinejad vai provocar manifestações de protesto. E é importante que Lula tenha consciência de que o Irã tem eleições nos próximos meses. Não é bom comprometer a imagem do país, muito simpática no Irã, com as pretensões de Ahmadinejad. Uma coisa é receber a Venezuela no Mercosul, outra, simpatizar com Chávez. De uma forma mais dramática ainda, uma coisa é desejar boas relações comerciais e culturais com o Irã, outra é respaldar um discurso de intolerância e ódio. A elegância para o anfitrião será uma caminhada na corda bamba.
As manifestações que esperam Ahmadinejad são, na verdade, consequência da sua negação do Holocausto. Para nós, a visita é um teste essencial num mundo onde o papel pacificador do Brasil estará sempre sujeito a reações apaixonadas.
Entrevista:O Estado inteligente
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