O GLOBO
Respira-se um ar melhor: o dólar e a inflação caíram, o desemprego ficou estável, alguns setores reagiram. Acabou a crise? Na última semana, o Japão anunciou queda do PIB no 1º trimestre de 15,2%, a Alemanha, de 14,4%, o México, de 21%. A Vale cortou quase 40% do investimento. O governo reduziu novamente a previsão de crescimento. A Inglaterra ganhou perspectiva negativa das agências de risco.
Passou o pânico, que era o pior elemento desta crise. Havia um risco explosivo e uma trajetória de queda imprevisível, como acontece em todo ataque de pânico.
O que se vive agora é o longo, lento e difícil desenrolar da crise que já engoliu 2009. Mas nada mudou profundamente: os bancos americanos ainda têm ativos podres, o mundo continua em recessão, o comércio internacional encolhe.
Como disse a capa da penúltima revista "The Economist", "Três trilhões depois...".
Pois é: depois de toda essa montanha de dinheiro, ainda não se tem o fim do problema. Na sextafeira, o dólar bateu o ponto mais baixo em cinco meses frente a uma cesta de moedas por causa dos temores do crescimento da dívida americana. Quando a crise for enfim superada, ficarão a ressaca, a inundação monetária e a farra fiscal dos países ricos. O relaxamento fiscal e monetário extremo desses países pode provocar várias distorções na economia mundial, de fragilidade cambial à inflação.
Mas as bolsas subiram em vários países, algumas commodities se valorizaram e, principalmente, há uma sensação de que este não é o fim do mundo, nem o fim do capitalismo. Psicologicamente, o mundo melhorou, ainda que, lentamente, as estatísticas vão mostrando o tamanho do estrago.
Em agosto do ano passado, o governo brasileiro avisou que para ser comedido reduziria de 5% para 4,5% a previsão de crescimento do PIB para 2009, que seria incluída na Lei Orçamentária.
Em novembro, depois que a crise já estava instalada no Brasil, a previsão foi reduzida para 4%. O Congresso fez o favor de reduzir mais um pouco a previsão, que estava destituída de conhecimento da realidade.
Em janeiro, o governo fez novo corte no prognóstico, para 2%. Na última semana, falou algo entre 0,7% e 1%. O mercado prevê um número negativo: -0,49%.
O que há de comum entre Alemanha, Japão e México é que os três dependem fortemente do comércio internacional, e ele continua com queda forte em relação ao ano passado. Na verdade, esses três países não são os únicos. O que aconteceu nos últimos anos de globalização mudou estruturalmente as economias do mundo inteiro.
Segundo a Unctad, de 1995 a 2007, as economias em desenvolvimento aumentaram seu grau de exposição ao comércio internacional da seguinte ordem: as exportações representavam um quarto das economias dos países e passou a representar, em média, a metade. A Unctad prevê uma queda de 9% do volume das exportações dos países em desenvolvimento, mas diz que em valor a queda será maior.
As importações americanas caíram 30% neste primeiro trimestre. O México, que é "americano-dependente" explícito, sentiu o baque mais que todos. A queda de 21,5% do PIB no primeiro trimestre é a maior desde a grande crise do peso, em 1995. A queda da Alemanha é a maior desde 1970. O secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, disse que não se chegou ainda ao fundo do poço, mas quando chegar, a economia americana sairá mais rapidamente que a europeia.
O Japão, que arrastouse por uma década na recessão, já provou ao mundo que entra rapidamente nas crises, mas demora a sair delas.
O número brasileiro do PIB do primeiro trimestre, quando sair em 9 de junho, parecerá bem mais palatável do que esses e até melhor do que os 6,1% de queda dos Estados Unidos, mas é pura convenção estatística.
Eles apuram o resultado do PIB e depois anualizam o dado. O Brasil faz a conta na comparação com o mesmo período do ano anterior e com o trimestre anterior.
Assim, a nossa queda parecerá bem diferente da queda alheia, mas não será tão diferente assim.
As previsões para o PIB do primeiro trimestre no Brasil estão negativas. Pelos cálculos da Gap Asset, queda de 1,4% na comparação com o trimestre anterior; para a Tendências Consultoria, -2%; para a MB Associados, queda de 2,3%. Essas previsões, anualizadas da maneira que outros países fazem a conta, dariam resultados entre -5,6% e -8,8%.
Há sim a esperança de que o país saia mais rapidamente da crise. Mas o tombo aqui nesses dois últimos trimestres, o último de 2008 e o primeiro deste ano, nos colocou na lista dos países em recessão.
Dos Brics, perdemos para China e Índia, que estão mantendo taxas de crescimento de 6% e 5% — os únicos países do mundo, aliás — mas ganhamos, felizmente, da Rússia, que pode ter uma recessão perto de 7% em 2009.
Portanto, qualquer comemoração agora é precipitada.
Esta é uma crise diferente das outras na natureza, na extensão, na duração.
Os economistas têm tateado no escuro, às vezes fazendo previsões baseadas em experiências do passado, que são de um mundo menos complexo. A incerteza é a marca desses tempos.
É melhor respeitar a crise e ir procurando a saída dela com segurança.
Respira-se um ar melhor: o dólar e a inflação caíram, o desemprego ficou estável, alguns setores reagiram. Acabou a crise? Na última semana, o Japão anunciou queda do PIB no 1º trimestre de 15,2%, a Alemanha, de 14,4%, o México, de 21%. A Vale cortou quase 40% do investimento. O governo reduziu novamente a previsão de crescimento. A Inglaterra ganhou perspectiva negativa das agências de risco.
Passou o pânico, que era o pior elemento desta crise. Havia um risco explosivo e uma trajetória de queda imprevisível, como acontece em todo ataque de pânico.
O que se vive agora é o longo, lento e difícil desenrolar da crise que já engoliu 2009. Mas nada mudou profundamente: os bancos americanos ainda têm ativos podres, o mundo continua em recessão, o comércio internacional encolhe.
Como disse a capa da penúltima revista "The Economist", "Três trilhões depois...".
Pois é: depois de toda essa montanha de dinheiro, ainda não se tem o fim do problema. Na sextafeira, o dólar bateu o ponto mais baixo em cinco meses frente a uma cesta de moedas por causa dos temores do crescimento da dívida americana. Quando a crise for enfim superada, ficarão a ressaca, a inundação monetária e a farra fiscal dos países ricos. O relaxamento fiscal e monetário extremo desses países pode provocar várias distorções na economia mundial, de fragilidade cambial à inflação.
Mas as bolsas subiram em vários países, algumas commodities se valorizaram e, principalmente, há uma sensação de que este não é o fim do mundo, nem o fim do capitalismo. Psicologicamente, o mundo melhorou, ainda que, lentamente, as estatísticas vão mostrando o tamanho do estrago.
Em agosto do ano passado, o governo brasileiro avisou que para ser comedido reduziria de 5% para 4,5% a previsão de crescimento do PIB para 2009, que seria incluída na Lei Orçamentária.
Em novembro, depois que a crise já estava instalada no Brasil, a previsão foi reduzida para 4%. O Congresso fez o favor de reduzir mais um pouco a previsão, que estava destituída de conhecimento da realidade.
Em janeiro, o governo fez novo corte no prognóstico, para 2%. Na última semana, falou algo entre 0,7% e 1%. O mercado prevê um número negativo: -0,49%.
O que há de comum entre Alemanha, Japão e México é que os três dependem fortemente do comércio internacional, e ele continua com queda forte em relação ao ano passado. Na verdade, esses três países não são os únicos. O que aconteceu nos últimos anos de globalização mudou estruturalmente as economias do mundo inteiro.
Segundo a Unctad, de 1995 a 2007, as economias em desenvolvimento aumentaram seu grau de exposição ao comércio internacional da seguinte ordem: as exportações representavam um quarto das economias dos países e passou a representar, em média, a metade. A Unctad prevê uma queda de 9% do volume das exportações dos países em desenvolvimento, mas diz que em valor a queda será maior.
As importações americanas caíram 30% neste primeiro trimestre. O México, que é "americano-dependente" explícito, sentiu o baque mais que todos. A queda de 21,5% do PIB no primeiro trimestre é a maior desde a grande crise do peso, em 1995. A queda da Alemanha é a maior desde 1970. O secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, disse que não se chegou ainda ao fundo do poço, mas quando chegar, a economia americana sairá mais rapidamente que a europeia.
O Japão, que arrastouse por uma década na recessão, já provou ao mundo que entra rapidamente nas crises, mas demora a sair delas.
O número brasileiro do PIB do primeiro trimestre, quando sair em 9 de junho, parecerá bem mais palatável do que esses e até melhor do que os 6,1% de queda dos Estados Unidos, mas é pura convenção estatística.
Eles apuram o resultado do PIB e depois anualizam o dado. O Brasil faz a conta na comparação com o mesmo período do ano anterior e com o trimestre anterior.
Assim, a nossa queda parecerá bem diferente da queda alheia, mas não será tão diferente assim.
As previsões para o PIB do primeiro trimestre no Brasil estão negativas. Pelos cálculos da Gap Asset, queda de 1,4% na comparação com o trimestre anterior; para a Tendências Consultoria, -2%; para a MB Associados, queda de 2,3%. Essas previsões, anualizadas da maneira que outros países fazem a conta, dariam resultados entre -5,6% e -8,8%.
Há sim a esperança de que o país saia mais rapidamente da crise. Mas o tombo aqui nesses dois últimos trimestres, o último de 2008 e o primeiro deste ano, nos colocou na lista dos países em recessão.
Dos Brics, perdemos para China e Índia, que estão mantendo taxas de crescimento de 6% e 5% — os únicos países do mundo, aliás — mas ganhamos, felizmente, da Rússia, que pode ter uma recessão perto de 7% em 2009.
Portanto, qualquer comemoração agora é precipitada.
Esta é uma crise diferente das outras na natureza, na extensão, na duração.
Os economistas têm tateado no escuro, às vezes fazendo previsões baseadas em experiências do passado, que são de um mundo menos complexo. A incerteza é a marca desses tempos.
É melhor respeitar a crise e ir procurando a saída dela com segurança.