Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, maio 22, 2009

NELSON MOTTA Delírios caribenhos

O GLOBO 22/05/2009


Pode até parecer que sou uma espécie de masoquista político, mas não consigo me livrar do vício insanável de ler todos os dias as "Reflexões do companheiro Fidel" no "Granma". Para dar boas gargalhadas.

Agora ele denuncia o monopólio das comunicações, "que estão nas mãos de grupos que controlam tudo que é publicado", sempre em defesa dos interesses mais vis do Império. Justamente quando nunca houve no mundo tanta liberdade e diversidade de fontes de informação na televisão e na internet, de graça e para todos. Menos em Cuba, onde a internet ainda é a querosene, e só funcionários fiéis do Estado têm acesso. Conexão em casa, nem pensar, os cubanos não podem navegar nem em lan houses, só os estrangeiros. O Beiçola de Caracas deve babar de inveja.

Agora Fidel informa ao mundo que: "São evidentes os esforços do Pentágono para monopolizar a informação e as redes de internet.

Para bloquear o acesso de Cuba a essas fontes." Entenderam? Ele descobriu que o Pentágono controla a internet e conspira contra Cuba, bloqueando o seu acesso à rede. Além do "bloqueio" econômico, o digital. Nem o mais idiota dos latino-americanos acredita nesse delírio cínico: porque é Fidel quem bloqueia o acesso dos cubanos à internet e às TVs internacionais! A verdadeira revolução vai começar quando a internet e a TV forem livres para todos os cubanos. E a tecnologia, que não tem ideologia, tornará isto inevitável, é só uma questão de tempo e de bites.

O companheiro Fidel tem futuro, mas na página de humorismo. Falando nisso, vale uma visita à página de humorismo, sim, ela existe, do "Granma". É a coisa mais triste do mundo. Os temas das charges são sempre o Império e o Capitalismo.

Não há piadas sobre ninguém, nem sobre nenhum problema cubano, nem os mais básicos, como alimentação e transporte. Uma típica charge deles é assim: Capitalista com um saco de dinheiro na mão: "Preciso encontrar um paraíso fiscal." Capitalista atrás do guichê da Bolsa de Valores: "Pois aqui vais encontrar o inferno financeiro." Hahaha, esse humor revolucionário é mesmo de matar de rir. Ou de chorar, no caso dos cubanos.

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