Folha de S. Paulo - 19/05/2009 | |
DELITOS , contravenções e transgressões são comuns em todos os países. O que distingue os países mais desenvolvidos dos demais é que, lá, esses crimes são punidos rapidamente e, muitas vezes, pelos próprios transgressores, que, marcados pela vergonha e pela repulsão social, se autopunem, renunciando a seus cargos e algumas vezes até se suicidando. Não desejo esses atos extremos no Brasil. Mas a impunidade que grassa em nosso país já passou dos limites aceitáveis. E isso é dramático para a construção de uma nação próspera, justa e civilizada. A sensação que está sendo criada no Brasil é a de que o caminho mais fácil para vencer na vida é ser "esperto", malandro e desonesto. Não cumprir regras nem leis, escritas ou morais. O que importa é tirar vantagem em todas as situações, mesmo que isso implique atos ilícitos. Caso esses atos sejam descobertos, parece que há uma crença de que no final se dará um "jeitinho". Um advogado especializado, alguma "gentileza" para os agentes da lei, o tempo passa, a punição é postergada e o delito acaba sendo esquecido. Afinal, todo mundo faz. O transgressor volta ao convívio social como se nada tivesse ocorrido. Ele se beneficia, assim, de dupla impunidade: a jurídica, pela lentidão dos processos, e a social, pela tolerância da população. É preciso mudar e acabar com essa dupla impunidade em nosso país. Propostas para obter maior agilidade e celeridade nos processos judiciais têm recebido a atenção de muitas autoridades do próprio Judiciário, do Legislativo e de muitos especialistas. Apesar de serem da maior importância para a correção de rumos da sociedade brasileira, não pretendo aprofundar esse tema neste artigo. Meu objetivo é comentar a impunidade social, em especial a impunidade eleitoral. O voto é a arma que a população tem para punir maus políticos. No entanto, congressistas que reconhecidamente praticaram atos ilícitos, inclusive com provas, confissões e renúncias, são reeleitos -e até com boa votação. Isso significa que a população não tem punido, pelo voto, aqueles comportamentos que chocam a opinião pública. O recente escândalo com as passagens de parlamentares federais é mais um a se somar a uma longa lista que indica a captura do Congresso por dois grupos de interesses externos. Interesses do Executivo e interesses de grupos econômicos. O primeiro se refere à quase total subordinação do Poder Legislativo às vontades do Poder Executivo, transformando em letra morta o mandamento constitucional de independência e harmonia dos Poderes. Por meio de negociações, quase sempre fisiológicas, o Executivo tem alcançado folgada maioria parlamentar para aprovação de suas iniciativas. A segunda captura se dá por interesses de grupos econômicos. Não necessariamente de grandes grupos -pois estes, além de regras internas e externas de governança corporativa, são facilmente identificados e fiscalizados-, mas especialmente de grupos regionais localizados nas "bases" dos congressistas que têm obtido verbas para projetos locais e vantagens tributárias. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos, reza o parágrafo único do primeiro artigo de nossa Constituição. A teoria da democracia representativa se baseia na hipótese de que o representante deve corresponder aos anseios de seus eleitores, caso contrário, ele não receberia os votos, e a população elegeria outro representante. Como, apesar desses escândalos, esses congressistas têm sido eleitos e reeleitos, existem duas alternativas. Ou a população está satisfeita com seus representantes, ou há algo errado no processo de escolha dos representantes. Eu me inclino para a segunda alternativa. A realidade mostra e pesquisas confirmam que é muito tênue a relação entre o eleitor e o político. O brasileiro não vê o congressista como o seu representante. A maioria nem sabe em quem votou. Além de razões históricas e sociológicas, o fato é que o processo eleitoral não está desenvolvendo a noção de representação que é essencial para o funcionamento de uma democracia representativa. Sem essa noção, o eleitor não se sentirá responsável por julgar e punir seus representantes. Isso demonstra a necessidade de mudar o processo de votação e escolher um sistema que promova a identificação do congressista como o representante do eleitor, representante este que, se não agradar, pode ser substituído e punido pelo voto. O sistema mais adotado no mundo é o do voto distrital. Mas existem outros. O fato é que é indispensável mudar. |
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
terça-feira, maio 19, 2009
Dupla impunidade: André Franco Montoro Filho
Arquivo do blog
-
▼
2009
(3759)
-
▼
maio
(377)
- Irrelevância da política? Boris Fausto
- Casuísmos na loja de conveniências Gaudêncio Torquato
- VALDO CRUZ Jogo pesado
- DANUZÃO LEÃO Sobre a coragem
- FERREIRA GULLAR A gripe da Dilma
- Mariano Grondona De Lula a Chávez, pasando por Nés...
- Joaquín Morales Solá El peronismo le pondrá límite...
- JOÃO UBALDO RIBEIRO A nova monarquia
- MERVAL PEREIRA - A evolução da China
- A crise acua o trabalhador Celso Ming
- Vinicius Torres Freire China, Bolsa Família, BC e ...
- Míriam Leitão Perdas e danos
- Editoriais
- Dora Kramer A lei? Ora, a lei...
- Recado tardio
- EDITORIAIS
- Paul Krugman O pavor da grande inflação
- CELSO MING Uma CPMF global
- Míriam Leitão Frente externa
- Cesar Maia É a economia, estúpido?
- Dora Kramer A estiva da tropa
- Merval Pereira Metas para 2020
- Reinaldo Azevedo:ONDE É QUE LULINHA ESTUDOU MESMO,...
- Veja Carta ao Leitor
- O processo contra o delegado Protógenes
- Petismo O Brasil exporta a "revolução" lulista
- Deputado mensaleiro tinha conta secreta no exterior
- CPI da Petrobras O governo conseguiu blindar a emp...
- Naufraga projeto do terceiro mandato
- O tratamento que José Alencar fará em Houston
- O custo do dinheiro começou a cair
- A concordata da GM
- Coreia Armas nucleares em poder de insanos
- Estados Unidos Uma hispânica na Suprema Corte
- Internet O escândalo do Twittergate
- A rejeição a Ellen Gracie na OMC
- Turbulência no voo: mais de vinte feridos
- A tragédia de Trancoso
- Cingapura: só os mais talentosos lecionam
- Especial Japão: o desafio de enfrentar o mundo pós...
- Veja entrevista Contardo Calligaris
- Lya Luft
- MILLÔR
- Radar
- Maílson da Nóbrega Oposição desorientada
- Betty Milan O poder da palavra
- Disraeli: uma vida incomparável
- Baixaria no meio literário
- Diogo Mainardi Ética em transe
- Roberto Pompeu de Toledo
- VEJA Recomenda
- Veja Livros mais vendidos
- Editoriais
- Uma política das arábias Dora Kramer
- Câmbio e juros Celso Ming
- Brics abrem o jogo Merval Pereira
- A trilha da volta - Mírian Leitão
- As águas do futuro Fernando Gabeira
- Urna ou lixeira? Nelson Motta
- Clipping de 29/05/2009
- Clipping de 28/05/2009
- Só pode o ilegal Carlos Alberto Sardenberg
- Joana D'Arc e Petrobras: DEMÉTRIO MAGNOLI
- Editoriais
- A força da Bolsa Celso Ming
- Passado, futuro Panorama Econômico :: Míriam Leitão
- Fracasso invulgar Dora Kramer
- Sob controle Merval Pereira
- Dora Kramer O PT na bandeja
- Clipping 27/05/2009
- A luta das minorias Merval Pereira
- Editoriais
- O baque alemão Celso Ming
- O teste de Obama Mirian Leitão
- Tragédia de 2006 vai virar farsa em 2010 José Nêum...
- Terreno infértil Dora Kramer
- Inferno no Senado Merval Pereira
- Os extremos Panorama Econômico :: Miriam Leitão
- Editoriais
- Clipping de 26/05/2009
- Reinaldo Azevedo Al Qaeda no Brasil
- Rubens Barbosa, REPÚBLICA DE BANANAS
- Editoriais
- Clipping 25/05/2009
- Suely Caldas O quer Collor na CPI?
- As finanças pós-crise terão novidades? : Marco Ant...
- A Petrobras é nossa Fernando de Barros e Silva
- Tim-tim pra eles (Giulio Sanmartini)
- O PAC, a mãe do PAC e a babá que só desenha (Adri...
- Verba social da Petrobras beneficia ONG petista ac...
- Cuando la política exterior es el aislamiento Joaq...
- Mariano Grondona El proteccionismo tecnológico y n...
- O caderninho rabugento JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Blindagem econômica Merval Pereira
- Dora Kramer Passos erráticos
- Sensação melhor Míriam Leitão
- E dá para não resmungar? Ferreira Gullar DEU NA
- Editoriais
- Expresso desorientado Míriam Leitão
- Seis anos depois, a culpa ainda é de FH
-
▼
maio
(377)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA