PANORAMA ECONÔMICO
Nos últimos dias o Brasil colheu dados preocupantes: no primeiro bimestre as receitas públicas caíram 3%, as despesas subiram 19,6%, os gastos com pessoal aumentaram 24%. Um mix explosivo. A produção industrial caiu 17% em fevereiro na comparação com o mesmo mês de 2008. A visão otimista que o governo tem apresentado, até em conversas reservadas, não tem respaldo nos números.
A queda da produção industrial em fevereiro, na comparação do mês com o mesmo mês do ano anterior, foi a pior desde 1998. O resultado das contas do governo central foi o primeiro déficit primário num mês de fevereiro em 12 anos.
Lá fora, a tempestade está longe de passar, e economistas conhecidos por previsões sóbrias fazem cenários de arrepiar.
Ex-economista chefe do FMI, hoje professor em Harvard, Ken Rogoff está estimando que os Estados Unidos vão gastar US$ 7 trilhões no combate aos efeitos da atual crise. Numa época que desmoralizou o trilhão, é bom lembrar, para preservar a noção de grandeza, que isso é quase metade do PIB americano.
O G-20 tenta, com seu pacotão de financiamento ao comércio, lutar contra uma das forças que puxam a economia internacional para baixo. O comércio se expandiu de forma extraordinária nos anos dourados.
Ele cresceu a 8% ao ano, beneficiando países como China, Alemanha e até o Brasil. A nova forma globalizada de produzir, com partes de cada produto sendo fabricadas em países diferentes, fez o mundo ainda mais dependente do financiamento ao comércio.
Quando ele secou, em setembro do ano passado, todos sentiram o golpe. O comércio caiu 22% em janeiro deste ano e a previsão da OCDE é que, mesmo melhorando, feche 2009 com um encolhimento de 13%.
O Brasil enfrenta quedas de preços e de volumes vendidos em suas exportações, e isso tem efeito no ritmo de produção doméstico. As autoridades ressaltam dados positivos que refletem mais o crescimento do passado que a tendência do futuro. Se ficarem presos a essa ideia, não vão preparar o país adequadamente para a crise.
A produção industrial registrou quedas de mais de 20% em bens de capital, bens intermediários e até bens de consumo duráveis, onde estão os automóveis.
O setor de máquinas e equipamentos informou que teve queda de 50% de novos pedidos. Na área de máquinas ferroviárias a queda chega a 70%. O presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto, disse a Leonardo Zanelli que o momento é “desastroso” e que o setor já demitiu 13 mil pessoas.
Por isso, o resultado de um entendimento global para mitigar os efeitos da crise é tão importante para o Brasil. O mercado interno não basta, precisamos que o mundo saia desse labirinto. Os resultados das conversas não têm sido tão animadores. A Europa não tem um líder claro e nem a união que registra em seu nome. Vai para a reunião do G-20 com cinco líderes: o da Inglaterra, o da França, o da Alemanha, o da Itália e até um que representa a União Europeia.
Por isso, a estreia de Barack Obama cria tanta esperança.
A boa notícia é que a reunião está acontecendo e inclui mais países do que o limitado G-7, que era o único foro até recentemente.
Em 1933, quando o mundo, depois de três anos horríveis, decidiu reunir seus principais líderes, o presidente Franklin D. Roosevelt sabotou a reunião. Não compareceu e tomou decisões que minaram qualquer entendimento. Desta vez, Barack Obama está lá pessoalmente, no seu primeiro giro internacional, participando da reunião.
O Brasil, até agora, é o segundo país mais afetado dos Brics em crescimento. A China continua alegando que crescerá 8%, apesar de o prognóstico mais razoável ser de 6,5% ou menos. A previsão para a Índia é de 5%. Aqui, oficialmente, o governo aposta em 2%, as previsões independentes estão em torno de zero. Mas nós temos algumas vantagens neste momento nada desprezíveis: o sistema bancário não está afetado pela crise que desmonta os bancos pelo mundo afora. Além da vantagem de uma crise recente, de uma regulação mais rígida, o Banco Central agiu rapidamente para dissolver qualquer foco de crise.
Um risco grande rondava os bancos pequenos, mas o BC tomou várias providências para dar liquidez a eles, inclusive a última, que é usar o Fundo Garantidor de Crédito. Infelizmente, os bancos brasileiros, pequenos ou grandes, estatais ou privados, não entregam o que os clientes querem e precisam: spreads mais baixos.
O Banco Central admite que esse é um dos desafios da economia brasileira: reduzir os spreads bancários.
Dos Brics, a Rússia é que vai realmente mal. Perdeu reservas tentando inutilmente evitar a alta do dólar.
O Banco Central acha que o caso da Rússia prova que eles agiram bem aqui no Brasil, ao não aceitar a pressão para queimar logo as reservas tentando evitar a alta do dólar. De qualquer maneira, as reservas têm sido usadas para restabelecer o crédito às empresas exportadoras ou endividadas no exterior.
A tendência do governo é ver apenas o lado bom da economia brasileira, mas o fato é que os números acenderam sinais de alerta que não podem ser ignorados.
Até porque, não haverá saída mágica no G-20.
As saídas serão construídas lentamente.
Entrevista:O Estado inteligente
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