Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 02, 2009

Reinaldo Azevedo QUEM DISSE QUE ELE NÃO CHEGOU LÁ?...

A Teoria da Bravata, uma criação genuína do nosso Apedeuta, ganhou o mundo. Vocês se lembram. Poucos meses depois da posse, no primeiro mandato, Lula foi questionado sobre, sejamos genéricos, o fato de dar continuidade ao governo de seu antecessor, FHC, que ele demonizava tanto, e de propor medidas, como a reforma da Previdência, que rejeitara quando liderava a oposição. Então ele deu uma explicação: “Quando a gente está na oposição, faz muita bravata”. E ainda emendou que, no governo, é preciso ser responsável. Corolário: quando ele atacava FHC, o tucano era o responsável, e o ele, o contrário. Mas a prática lhe garantiu a Presidência, não é? Lula não tem motivos para achar que a bravata — contra os outros — é uma coisa ruim.

Ontem, na entrevista coletiva que deu, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, citou o Babalorixá de Banânia. Vá lá: trata-se de uma homenagem, com aquele humor inglês, vocês sabem, um pouco batata, um pouco peixe. E disse o quê? “Estive no Brasil na semana passada, e acho que o presidente Lula me perdoará por dizer isso. Ele me disse: ‘Quando eu era líder do sindicato, eu culpava o governo. Quando me tornei líder da oposição, eu culpava o governo. Quando me tornei governo, passei a culpar a Europa e a América’."

Não é o máximo? A revelação de Brown demonstra que a Teoria da Bravata ganhou uma dimensão verdadeiramente oceânica. E é de se notar que a valentia de Lula nas entrevistas coletivas não corresponde ao conteúdo das conversas privadas. Para ganhar o noticiário, ele acusa a irracionalidade dos “brancos de olhos azuis”. Para os brancos de olhos azuis (ou quase...), ele revela só o aspecto cínico da política: “Olhem aqui, estou culpando vocês porque faz parte do meu show. Mas vocês sabem que isso é bobagem, né?”

Eu já sabia disso. Almocei, não faz muito tempo, com um empresário que integrava o famoso Grupo 14 da Fiesp, quando Lula era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Ele me contou das conversas animadas que o Grande Líder mantinha com a “craçe dominânti”, mediadas por um bom uísque 12 anos. Acertavam-se ali os passos da radicalização e do acordo possível — incluindo greve, gritaria, passeata e tudo mais. Há quem diga que as coisas são assim mesmo, que isso seria próprio do “animal político”. Vai ver é mesmo.

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