O ESTADÃO - 09/10
Os analistas do mercado de trabalho passaram um bom tempo sem prestar a devida atenção à demografia, até se depararem com a intrigante pergunta: Como pode o Brasil ter só 5% de desempregados, se o Produto Interno Bruto (PIB) cresce apenas 1,5% ao ano? O estudo minucioso da dinâmica da população está jogando luzes no túnel até então dominado pelas trevas. Em artigo recente, Armando Castelar explica que, de 2003 a 2011, a proporção dos jovens que procuravam emprego caiu de 61,4% para 59,9%. No mesmo período, a proporção de idosos que estavam trabalhando caiu de 30,4% para 25,7% (A Pnad e a competitividade, Valor, 5/10).
Ou seja, nas duas pontas da estrutura etária está havendo uma redução da oferta de trabalho e, consequentemente, dos que procuram emprego. Entre os jovens, a redução deve-se às fortes quedas da taxa de fecundidade, que passou de 6,2 filhos por mulher, na década de 1950, para 2,8, em 1990, e 1,9, nos dias atuais (Jorge Arbache, Transformação demográfica e competitividade internacional, 2011). Há, ainda, uma redução que é devida ao prolongamento dos anos em que os jovens ficam nos bancos escolares. Entre os idosos, a melhoria dos programas sociais voltados para a transferência de renda vem induzindo saídas crescentes do mercado de trabalho. Em suma, há uma redução da proporção dos que procuram emprego. Isso,evidentemente,contribui para a queda da taxa de desemprego, que, como se sabe, resultado número de pessoas efetivamente desocupadas dividido pelo número dos que procuram emprego.
A taxa de desemprego poderia ter baixado por força de uma expansão da oferta de empregos. Isso ocorreu nos anos recentes, mas a sua magnitude não deve ser superestimada. Os dados analisados por Castelar mostram que a taxa de ocupação (que reflete a oferta de empregos) foi de 55,9% em 2011, ficando surpreendentemente no mesmo patamar de 2003, que foi de 55,4%. Isso prova que a baixa na taxa de desemprego se deveu em grande parte à redução drástica dos que procuraram emprego no período considerado.
A redução da oferta de trabalhadores não é nada desprezível, pois em praticamente todos os setores da economia há falta de mão de obra.Essa falta gera forte pressão nos custos de contratação.
Salários e benefícios têm subido bem acima da inflação, pressionados também por aumentos substanciais no salário mínimo e nos pisos estaduais. ara atrair os profissionais de que necessitam, as empresas são levadas a ofertar condições de trabalho cada vez mais custosas, especialmente quando precisam de profissionais qualificados. É bom lembrar que as despesas com encargos sociais crescem com a elevação dos salários e benefícios.
Veja o leitor como é interessante essa cadeia em que um fenômeno demográfico provoca escassez de trabalhoe elevação dos custos de contratação.
Para agravar, ocorre que a explosão do custo do trabalho não está sendo acompanhada de uma elevação da produtividade, o que faz disparar o custo unitário do trabalho. As consequências desse descasamento estão estampadas nos jornais diários: a inflação está além da meta e os investimentos, aquém do necessário, pois as empresas que não podem repassar a elevação do custo do trabalho para preços reduzem as margens e adiam os projetos de expansão.
Esse quadro preocupa. Nenhuma economia consegue gerar empregos e manter o custo unitário do trabalho equilibrado se não investir e aumentara produtividade. Os dados referentes a 2012 justificam a preocupação. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, a abertura de vagas vem desacelerando, mantendo-se em bom nível só no setor da construção pesada, que responde pelos grandes projetos de infraestrutura. Oxalá as recentes medidas do governo contribuam para mudar esse cenário. O pior dos mundos seria passar da situação de falta de trabalhadores para a de falta de empregos.