O Estado de S Paulo
São inúmeras, em economia, as questões em que não há acordo se o que vem primeiro é o ovo ou é a galinha. Discute-se ao infinito, por exemplo, se o investimento não deslancha porque o crescimento é baixo ou se o crescimento não deslancha porque o investimento é baixo.
A resposta depende do conjunto de fatores que definem, a cada momento, os ciclos econômicos. No atual ciclo da economia brasileira, a prevalência da segunda hipótese está cada vez mais nítida. Agora, sem avançar nos investimentos - e em investimentos pesados -, o crescimento tenderá a ratear.
É possível, em determinadas conjunturas, crescer sem ou com pouco investimento. Quando uma economia vem de um período de recessão não prolongada, a ocupação da capacidade de produção instalada ociosa é suficiente para uma rápida retomada. Foi o que se viu, no Brasil, especificamente em 2010. Também é possível crescer, ainda que em ritmo menos desembaraçado, com doses relativamente baixas de investimento. Mesmo sem ampliar o parque produtivo, mas com substituição e modernização dos equipamentos, normalmente via importações, em épocas de câmbio valorizado, pode-se obter ganhos de produtividade e competitividade que contribuirão para a expansão da economia.
O Brasil da segunda metade da década passada passou por essa experiência. A inclusão de novos consumidores ao mercado doméstico abriu caminho para um impulso na demanda doméstica. Potencializado pelo aumento da oferta de crédito, o consumo puxou o crescimento. A taxa de investimento, no período, rodou em falso, sustentando-se com a importação de máquinas e equipamentos.
Está claro, no entanto, que, diferentemente dos diamantes, modelos de crescimento que dispensem incrementos permanentes nos investimentos ou apenas recorram a pequenas doses dele não são para sempre. Em algum momento, depois de preenchidos e consumidos os espaços existentes, será inevitável ter de ampliar, com novas e mais pesadas inversões, a capacidade produtiva. Esse é o caso do Brasil de hoje. A esticada da corda em 2010 pode ter sido o último suspiro da longa história brasileira de crescimento com baixo investimento.
O caminho para superar esse modelo de expansão amarrado ao atendimento de uma demanda reprimida é sempre mais trabalhoso e, nas atuais circunstâncias, diante de uma profunda crise global, especialmente pedregoso. Afinal, não só o investimento precisaria aumentar, mas também sua composição teria de mudar. Eis aí, com o devido atraso, a nova prioridade.
Não será possível romper as amarras do baixo crescimento sem reposicionar o foco dos investimentos na direção dos setores de infraestrutura, direcionando aplicações tanto para as áreas de capital físico quanto para as de capital humano. Energia, transportes, construção civil, educação, tecnologia e formação de mão de obra são os campos que agora necessitam ser bem irrigados.
Ocorre que esses setores englobam atividades caracterizadas por alta relação capital-produto. Além de maior tempo de maturação, são segmentos que exigem a aplicação de mais unidades de capital para cada unidade de produto gerado. Em resumo, sair da armadilha do baixo crescimento, nesta etapa da economia brasileira, pede mais investimentos em atividades de retorno mais lento.
Exceto a redução da taxa básica de juros, as demais variáveis da conjuntura operam no sentido de complicar o rompimento dessas amarras. Em todos os cantos do mundo, os capitais privados para investimento estão cada vez mais ariscos. Não poderia ser diferente, no quadro de deflação sincronizada em que a economia global se encontra. Como atrair mais recursos, para atividades de retorno mais lento, em momentos de quase absoluta aversão ao risco? A resposta dessa charada aparentemente insolúvel, classicamente, tem sido dada pelos governos. Nessas ocasiões, são eles - e praticamente só eles - que dispõem dos instrumentos para atrair capitais e induzir investimentos.
Torna-se crítico, portanto, dotar a política econômica de elementos capazes de romper a armadilha que vincula baixo crescimento a baixo investimento - e vice-versa. Muito mais quando tendem a aumentar as doses requeridas de capital por investimento. Uma parte do que deveria ser feito está em marcha. Com a redução dos juros, é possível compensar, pelo menos em parte, a necessidade de maiores quantidades de capital para investimento com menores custos do dinheiro. Mas não dá para entender por que o governo tem sido tão tímido em adotar programas de desoneração fiscal atrelados a estratégias empresariais pró investimento e tão desenvolto em gastar bala fiscal com recorrentes estímulos ao consumo.
Entrevista:O Estado inteligente
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