O ESTADÃO - 03/06
A crise do euro está mudando de qualidade. Já não se trata apenas do sufoco provocado pelo endividamento excessivo dos Estados soberanos, do desemprego recorde e da paradeira geral que asfixia o setor produtivo. Passou a ser a crise dos bancos. O incêndio se aproxima dos paióis de dinamite.
A corrida aos depósitos e às aplicações financeiras ainda é relativamente pequena. Na Espanha, que perdeu quase 100 bilhões de euros em capitais estrangeiros só no primeiro trimestre deste ano (veja o gráfico), não chega a 2% dos saldos. Mas já é suficientemente relevante para preocupar. Mostra que o processo de contágio está avançando para as economias grandes.
Há turbulência, mas não há pânico. Essa ausência, no entanto, não tranquiliza. A aceleração dos saques mostra que o nível de desconfiança subiu a ponto de colocar em risco a saúde de algumas instituições financeiras.
Os administradores de patrimônio não temem apenas o desemprego que, na Espanha, alcança uma em cada quatro pessoas que integram a força de trabalho e um em cada dois jovens com até 25 anos. Tem medo da insolvência dos bancos e do derretimento do seu patrimônio financeiro, caso algum país abandone o euro e volte à moeda nacional.
O que mais importa já não retomar o crescimento econômico - bandeira eleitoral do recém-empossado presidente da França, François Hollande. Tampouco criar um mecanismo firme e automático de socorro a economias subitamente incapacitadas de honrar seus compromissos. O mais urgente é tomar decisões que garantam a sustentação do sistema financeiro. Se um único grande banco afundar, será muito difícil evitar a desestruturação desordenada de toda a área do euro.
Foi esse quadro que levou o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, a advertir na quinta-feira que a estrutura do euro está ficando insustentável. Essa é, por si só, uma declaração grave demais, feita pelo principal guardião da moeda. E ele fez também a mais contundente crítica à letargia das autoridades do euro desde sua posse em novembro. Afirmou que as meias medidas e os adiamentos sucessivos de decisões por parte dos chefes de governo vêm agravando a situação.
Sexta-feira, os bancos da Alemanha rejeitaram todas as propostas na direção de uma centralização da atividade financeira e da criação de esquemas conjuntos de garantias bancárias, destinadas a evitar a corrida aos depósitos e o colapso do sistema financeiro da área.
Mas parece inevitável que sejam tomadas atitudes que acelerem a recapitalização dos bancos mais expostos, que protejam os correntistas e que garantam supervisão bancária centralizada que se sobreponha à dos organismos nacionais encarregados dessa função.
Os bancos são instituições frágeis. Tomam emprestado a curto prazo e reemprestam os mesmos recursos a longo prazo. Uma forte anomalia, como a quebra de um elo do sistema, pode provocar uma catástrofe. Se esse início de corrida aos bancos não for imediatamente estancado, pouco adiantarão providências destinadas somente a tirar a economia da recessão.