Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, outubro 31, 2011

Eles bebem. Você paga!


REVISTA VEJA

O Tribunal de Contas da União investiga repasses de dinheiro do governo à União Nacional dos Estudantes. Já descobriu que parte dos recursos foi usada irregularmente em festas e na compra de uísque, vodca, cerveja ...


GUSTAVO RIBEIRO

Fundada em1937, a União Nacional dos Estudantes (UNE) foi protagonista de inúmeros episódios de luta por ideais republicanos. Na década de 40, combateu a influência do fascismo europeu no Brasil. Durante os anos mais trevosos do regime militar, seus principais líderes empunharam armas para reivindicar democracia. Essa gloriosa história pertence ao passado. A moçada agora quer sombra, uísque, gelo e água fresca grátis em troca de servidão automática ao governo. Contestação é coisa de otário. Os líderes da principal entidade estudantil brasileira dissipam sua náusea burguesa com garrafas de vodca, uísque, gelo e caixas de cerveja pagos com nosso dinheiro. Compram tênis e bolsas Puma, Nike ou Adidas, símbolos do "imperialismo", e mandam a conta para os proletários brasileiros que trabalham e pagam impostos.
A atuação pelega da UNE de hoje envergonha seus heróis do passado. Dominada por parasitas do PCdoB desde os primórdios, a entidade perdeu a força, a voz – e o pudor. Desde 2003, recebeu 42 milhões de reais de dinheiro tomado pelo governo dos proletários brasileiros e entregue aos pequeno burgueses que fingem estudar. O Tribunal de Contas da União (TCU) resolveu esmiuçar a aplicação desses recursos e deparou com gravíssimos indícios de irregularidades. Despesas injustificáveis, descritas em notas fiscais suspeitas, amontoam-se nas prestações de contas investigadas. Somente em um convescote da UNE de 2008, apelidado de Caravana Estudantil da Saúde, o TCU suspeita que mais de 500 000 reais tenham sido roubados. Essa foi a quantidade de dinheiro que sobrou depois que todas as despesas previstas foram pagas. A UNE devolveu os recursos? Não. Como todo militante adulto da corrupção, a entidade dos jovens mandou avisar que gastou o dinheiro do povo com "assessorias". "Não tenho conhecimento de irregularidades. Se houver e formos notificados pelo TCU, vamos corrigi-las", diz Daniel Iliescu, presidente da UNE, que assumiu há quatro meses. Notas fiscais analisadas pelo tribunal mostram que a "revolução pela garrafa" é a nova palavra de ordem da UNE. Sob a fachada de promover Atividades de Cultura e Arte da UNE, em 2007, os pequenos-burgueses da UNE beberam caixas e caixas de cerveja, garrafas de uísque escocês e de vodca. Diz o procurador do TCU Marinus Marsico: "É evidente o descaso da UNE com o patrimônio público. Fico estarrecido de ver tanto dinheiro do povo usado sem obediência aos princípios da moralidade". Continuem assim, jovens revolucionários da garrafa, um ministério os espera.

Reação ao aparelhamento
Pela primeira vez em quase cinquenta anos de história, o Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Brasília deixou a órbita dos partidos de esquerda. Na semana passada, os alunos da UnB escolheram como seu representante um grupo sem ligações partidárias, comprometido apenas em melhorar as condições de ensino e não em promover determinada ideologia. A chapa Aliança pela Liberdade venceu as eleições por uma margem de apenas 188 votos, pequena, é verdade, mas que pode estabelecer um paradigma no movimento estudantil oposto ao peleguismo vergonhoso da UNE. Os integrantes do novo DCE iniciam nesta semana seu mandato de um ano, destoando do matiz ideológico predominante no movimento estudantil. A Aliança pela liberdade defende o investimento privado no Campus Universitário como a melhor forma de promover as pesquisas. "Temos de abrir a UnB para o capital privado. Foi graças a ele, afinal, que a Unicamp se tornou um centro de excelência", afirma Pedro Ivo Santana, aluno de engenharia civil e um dos coordenadores da nova direção.
O grupo se elegeu na semana passada ao cabo de uma iniciativa do estudante de direito André Maia. Sem se sentir representado pelos grupos de esquerda que se alternavam no poder da universidade desde a sua criação, ele decidiu convocar os amigos. "Não queremos discutir questões como o conflito árabe-israelense. Nossa preocupação são temas de ordem prática que terão efeito positivo na qualidade do nosso ensino", explica Maia. A vitória é creditada ao pragmatismo das propostas e ao caráter apartidário da chapa. Hoje, nenhum dos sessenta membros do movimento tem ligação formal com legendas políticas. Integrantes da Aliança que decidirem se filiar a partidos perderão automaticamente postos de direção no DCE. A reitoria petista da UnB fez questão de registrar seu espanto com a nova realidade. Em seu portal oficial, publicou uma reportagem classificando a chapa vitoriosa de "despolitizada" e, sob o covarde manto do anonimato, diz que houve "perda de representatividade dos alunos". É sempre assim com certa esquerda. A democracia e o voto só são bons quando a favorecem. Para o historiador da Universidade Federal de São Carlos Marco Antonio Villa, a alternância de poder na direção dos estudantes da UnB é, em si, um fato positivo: "Esse episódio sinaliza o cansaço com as velhas lideranças e pode ser o início de representações estudantis que se preocupem realmente com as necessidades concretas das universidades – e não com a formação de quadros partidários". Quem sabe, finalmente, a UnB chegue ao século XXI.

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