O ESTADÃO - 11/10/11
Mas tantas foram as promessas e decepções com esses e outros dirigentes da Europa que, também desta vez, é preciso ver ao menos uma pontinha do projeto para começar a acreditar.
Ninguém viu o plano inteiro, provavelmente nem Merkel nem Sarkozy - que o anunciaram apenas no atacado. Os técnicos tratam agora de montá-lo.
A pronta solução para o banco Dexia, 12.º colocado entre 91 bancos avaliados, em julho, nos testes de estresse, nos dá notícia de que os líderes europeus entenderam que, após a catástrofe subsequente ao naufrágio do Lehman Brothers, em 2008, não se pode brincar com colapsos de instituições financeiras.
Nas suas primeiras contas, o Fundo Monetário Internacional estimou em 200 bilhões de euros a recapitalização dos bancos. Há razões para crer que essa magnitude esteja subestimada. Não é somente a exposição às dívidas impagáveis e/ou sujeitas a calotes que tem de ser considerada. Tem também de entrar no cálculo as centenas de bilhões de euros em Credit Default Swaps (CDS), seguros contra calotes que terão de ser honrados, se vierem. E não se conhece seu tamanho.
A pergunta da hora consiste em saber de onde sairão os recursos para capitalizar os bancos. Os dirigentes do bloco avisam ser necessário, primeiro, buscá-los no mercado. Mas será difícil encontrar investidores interessados em arriscar dinheiro em novas ações de bancos. Basta acompanhar o mergulho dos papéis nas bolsas internacionais para ter certeza disso. Bem, se a situação se confirmar, os Tesouros serão chamados a subscrever - o que também é incerto e não sabido. Um dos nomes da atual encrenca é crise do endividamento excessivo dos Estados soberanos.
Há muito olho gordo no tal Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês). Foi criado com um cacife de 440 bilhões de euros (ainda não integralizados) para socorrer os Tesouros. No entanto, só para isso faltarão 2 trilhões de euros, se Itália e Espanha começarem a emborcar. Na semana passada e nesta segunda, agências de classificação de risco rebaixaram as dívidas dos dois países. Em geral, isso basta para que a marca de Caim seja carimbada sobre um título.
Diante da insuficiência de recursos, os analistas já montam engenharias financeiras para melhorar o alcance das baixas disponibilidades. Quase todas preveem aportes que implicam emissão de moeda pelo Banco Central Europeu (BCE).
O sigilo sobre o conteúdo do pacote parece apontar para saídas pouco ortodoxas. A substituição de Jean-Claude Trichet por Mario Draghi na presidência do BCE, em novembro, pode facilitar um arranjo entendido hoje como séria violação dos tratados do euro. Mas não seria novidade. O BCE já carrega mais de 2 bilhões de euros em títulos de qualidade duvidosa, comprados também com emissões. Não foram os romanos que ensinaram que a salvação da coisa pública é a lei maior?
No mais, não deixa de provocar risos o apelo do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, para os mercados não alimentarem o pânico.
CONFIRA
E os fundos de pensão? Boa questão diz respeito a quanto os fundos de pensão e as seguradoras estão carregados de títulos de dívida da área do euro. Durante todos esses anos, essas intuições financeiras foram grandes compradoras desses ativos. E provavelmente não tiveram tempo de desová-los ou, simplesmente, não quiseram, porque teriam de contabilizar perdas.
E as grandes seguradoras? Uma das instituições que mais sofreram com a quebra do Lehman Brothers e com o que aconteceu depois foi a maior seguradora do mundo, a americana AIG, que vendeu proteção para títulos que, depois, se viu que eram podres. O socorro para a AIG, do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) e do Tesouro americano, passou dos US$ 60 bilhões. É provável que as grandes seguradoras europeias também tenham investido suas reservas técnicas em títulos soberanos da Europa. Sim, o momento é de atenção com os bancos. Mas alguém terá de fazer as contas sobre a exposição das grandes seguradoras.