O Estado de S.Paulo - 16/10/11
Nos vários dias em que o entrevistamos, eu e um diligente estagiário, para uma reportagem a propósito de seus 80 anos, o escritor Pedro Nava volta e meia repetia:
- Se chover, eu saio de guarda-chuva!
Queria com isso dizer que se sentia pronto para qualquer eventualidade.
Chegávamos com ele a uma reunião de escritores quando, ao vê-lo descer do carro, reparei que tinha nas mãos um guarda-chuva. Acendeu-se em minha cabeça a luz dos grandes achados: tínhamos ali, prontinha, uma legenda - "Nava: Se chover, eu saio de guarda-chuva". Faltava a foto, e lhe pedi uma pose na calçada, antes de entrarmos. O fotógrafo já ia apertar o botão quando o zeloso estagiário correu até o escritor:
- Dr. Nava, deixa que eu seguro o guarda-chuva!
- Claro, meu filho, obrigado - minha mulher ia me puxar a orelha se eu saísse na foto com esse monstrengo...
Lá se foi a legenda. E quase se foi também o garoto, caído em desespero ao perceber o pequeno desastre que tinha provocado.
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Ao "castelo" italiano daquela revista brasileira de celebridades não faltava uma sala de massagem, e tratou-se de inaugurá-la tão logo lá pousou a primeira leva de famosos. O fotógrafo já desembalava as câmeras quando os castelões se deram conta de que faltava alguma coisa, coisa essa nada irrelevante: massagista. Fácil de resolver! - anunciou, lampeiro, um faz-tudo da produção. Amestrado para prever e prover, ele guardara um jornalzinho do vilarejo próximo, e na seção de anúncios pescou um telefone de massagista, imediatamente contratada.
Dali a pouco, jazia sobre a mesa uma celebridade seminua, já maquiada e besuntada - e a massagista, nada de botar a mão na massa. Vamos lá! - impacientava-se a produtora, sob o olhar apalermado da criatura, que, pressionada, acabou desnudando o equívoco: não sabia massagear. Como não?!
- Io sono una putana! - reagiu a ragazza, ofendida em seus brios profissionais.
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Estou entrevistando Carlos Heitor Cony para a Playboy, na fantasmagórica redação da revista Manchete, morta fazia tempo, quando o telefone toca - e, tomado de inveja benigna, o vejo receber, impassível, ah, sim, fico satisfeito, a notícia de que era o ganhador do então (1997) mais disputado e valioso prêmio literário do País. Desliga e, vagamente enfadado, se vira para mim:
- Onde estávamos?
Eu nunca tinha visto alguém ganhar R$ 50 mil - equivalentes, à época, a outros tantos dólares - e no minuto seguinte retomar o papo, como se nada houvesse acontecido.
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Não havia semana em que ele não aparecesse na redação e alugasse um de nós:
- Tremendo furo! - anunciava, brandindo um maço de laudas.
Deixar ler a papelada, ou ao menos saber do que se tratava? De jeito nenhum! Só se nos comprometêssemos a publicar. Ninguém sabia mais o que fazer: o homem era amigo do dono do jornal - mas nem por isso ia bater em sua porta:
- Não vou incomodá-lo, sei como ele é ocupado.
Preferia incomodar um de nós, desocupados:
- Rigorosamente inédito!
Até que alguém criou coragem:
- Se a gente publicar, seu artigo deixará de ser inédito - e não podemos fazer essa sacanagem com você!
E assim nos livramos dele.
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Estavam em Tóquio, uns dez ou 12 repórteres, para cobrir uma viagem presidencial, e como evidentemente nenhum deles falasse japonês, era fatal que se dependurassem no colega nissei, que os tranquilizou: 'xa comigo!'
No restaurante, chamou o maître - o qual, ao ouvir a primeira frase, passou sem transição da imperturbabilidade nipônica a gargalhadas de comédia italiana. Foi contar aos garçons, que também se puseram a chacoalhar de rir, ante o sorriso apropriadamente amarelo da brasileirada. Quando baixou a fervura da hilaridade, alguém arriscou uma tradução via inglês, e se soube que nosso corpulento compatriota, com seu vozeirão, tinha dito algo assim ao maître:
- Nenê qué papá!