CORREIO BRAZILIENSE - 29/10/11
Arranjos numéricos e política combinam pouco, e um observador desatento pode até acreditar em eventual ímpeto de Dilma de se livrar de todos os auxiliares de Lula. Não é bem assim, como você sabe
A conta é um tanto cínica, mas necessária. Dos ministros sobreviventes do governo Dilma Rousseff, oito ainda são da era Luiz Inácio Lula da Silva. Eles trabalharam diretamente com o ex-presidente e permaneceram na cadeira por força e obra do petista. Com as quedas de Antonio Palocci, Alfredo Nascimento, Nelson Jobim, Wagner Rossi, Pedro Novais e Orlando Silva — todos, de uma forma ou de outra, chancelados pelo nosso ex-ocupante do Palácio do Planalto —, resta a pergunta: quem será o próximo a abandonar o cargo?
Arranjos numéricos e política combinam pouco, e um observador desatento pode até acreditar em eventual ímpeto de Dilma de se livrar de todos os ministros de Lula. Não é bem assim, como você sabe. As circunstâncias levaram Dilma a demitir os seis auxiliares, cada um por um motivo. Cinco por envolvimento em malfeitos, a palavra da moda, e um, no caso de Nelson Jobim, por desavenças diretas com a presidente e a equipe ministerial.
Não há qualquer evidência de que Dilma esteja com a mira apontada para os homens e mulheres próximos de Lula no governo passado. Uma das razões é que Edison Lobão, Alexandre Padilha e Paulo Bernardo são benquistos. E, de mais a mais, Izabella Teixeira tem um perfil técnico que ela aprecia. Guido Mantega executa com eficiência os pedidos de Dilma. Fernando Haddad, por sua vez, está prestes a deixar o ministério da Educação para encarar a disputa pela prefeitura de São Paulo — isso se as trapalhadas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deixarem. Sobra Carlos Lupi, do Trabalho, que conseguiu sobreviver até aqui. Até aqui.
O que está claro é que Dilma não tem o mesmo estilo de Lula no quesito derruba ministros. Lula partia para a defesa dos aliados. Com Dilma, a discrição ainda é a regra, ainda que faça um ou outro discurso mais enfático. De uma forma geral, a presidente tomou decisões quando as crises mudaram a rotina de trabalho no Planalto. Foi assim com todos, incluindo Jobim. No caso de Palocci, até a queda, a agenda da presidente resumia-se a encontros para tratar das denúncias. A disposição dela vem quando a situação de um ministro torna-se insustentável. O próximo a cair será aquele que tirar Dilma dos afazeres na Esplanada por mais tempo do que ela é capaz de tolerar.
Outra coisa
Poucas declarações de ministros foram tão desastrosas quanto a de Fernando Haddad na última quinta-feira. Vamos a ela: “Está configurado o ato delituoso. Não há mais dúvida. Não foi por processo de memorização ou aleatoriedade que esses itens chegaram ao conhecimento dos alunos”. Epa! Primeiro, é um tanto antecipado o ministro apontar o “ato delituoso”. Afinal, a Polícia Federal abriu investigação apenas na noite da última terça-feira e a própria assessoria da corporação garantiu que a apuração está no início.
Depois, partir para cima e criminalizar qualquer elemento da escola cearense sempre será um ato arriscado quando está em jogo a falta de segurança do exame e a dificuldade dos gestores em aplicar uma prova do tamanho do Enem. No Palácio do Planalto, como mostrou este Correio ontem, avalia-se que o agravamento do caso deve complicar os planos do ministro em disputar a eleição para a prefeitura de São Paulo. O comportamento atual e as frases soltas de Haddad também serão levadas em conta pelos estrategistas políticos ligados ao ex-presidente Lula.
Rock in Rio
Diga-me. E você, o que acha sobre os ingressos recebidos pelos funcionários do Ministério da Cultura e dos Correios para o Rock in Rio?
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