Quando o radicalismo estava na moda nos maniqueístas anos 60, o dramaturgo Oduvaldo Viana Filho deu um conselho de moderação que ficou famoso: "um pouco de pessedismo não faz mal a ninguém" (o PSD era o partido da contemporização). Agora, nestes tempos de leniência moral, seria o caso de recomendar: "um pouco de udenismo não faz mal a ninguém" (a UDN era o partido do moralismo). Alega-se que a corrupção é endêmica, incurável, existe em qualquer país e teria sido trazida pelos portugueses, junto com as doenças venéreas. O problema é que foi se alastrando como metástase e hoje é uma cultura, com autonomia e lógica próprias, presente tanto nas licitações fraudulentas do Ministério dos Transportes como no desvio das verbas destinadas à Região Serrana, devastada pelas chuvas. Ou no guarda da esquina. E pouco tem sido feito contra o vírus.
O escândalo na pasta dos transportes basta como ilustração do fenômeno. O que se passa ali desde 2003, quando o PR começou a controlar um dos maiores orçamentos do país, é hoje do conhecimento público: as irregularidades chegaram a tal ponto que a presidente Dilma foi obrigada a afastar quatro auxiliares do ministro Alfredo Nascimento, que em seguida também teve que deixar o cargo. Mesmo assim, o partido do mensaleiro Valdemar Costa Neto continuou se achando dono do ministério, até que a presidente, após convidar sem sucesso o senador Blairo Maggi para o lugar de Nascimento, impôs sua preferência, não a do partido, que se sentiu traído, fez beicinho, mas agasalhou o revés, a julgar pelo depoimento no Senado do diretor afastado do Dnit, Luiz Antônio Pagot, que evitou comprometer qualquer ministro ou superior.
Para se ver como funciona nos bastidores o mecanismo fisiológico de pressão e barganha de uma base de sustentação do governo, há duas cenas esclarecedoras tendo como protagonista o deputado Valdemar. Numa, ele revela com franqueza a uma rádio de Mogi das Cruzes sua forma de agir:
"O nosso ministro chegou na Dilma outro dia e falou: "Olha, o Valdemar tá com um problema com o bloco. Ele fez o bloco, acertou com o Palocci pra aumentar o espaço do partido no governo. Nós já temos muito espaço. Mas precisávamos aumentar o espaço, porque são 24 deputados a mais" (ele se refere aos partidos nanicos que com os 41 do PR compõem um forte grupo de apoio). Em seguida, fala que quer uma diretoria na Caixa Econômica Federal e no Banco do Brasil para facilitar seus pedidos de empréstimos: "Eu tendo um diretor, sai na hora."
Na outra cena, Valdemar e Nascimento aparecem num vídeo negociando com um deputado do PDT sua transferência para o PR em troca da liberação de uma verba de R$1,5 milhão para sua cidade no Maranhão. É, não é fácil a vida da presidente. Com aliados assim, ela não precisa de adversários.
O escândalo na pasta dos transportes basta como ilustração do fenômeno. O que se passa ali desde 2003, quando o PR começou a controlar um dos maiores orçamentos do país, é hoje do conhecimento público: as irregularidades chegaram a tal ponto que a presidente Dilma foi obrigada a afastar quatro auxiliares do ministro Alfredo Nascimento, que em seguida também teve que deixar o cargo. Mesmo assim, o partido do mensaleiro Valdemar Costa Neto continuou se achando dono do ministério, até que a presidente, após convidar sem sucesso o senador Blairo Maggi para o lugar de Nascimento, impôs sua preferência, não a do partido, que se sentiu traído, fez beicinho, mas agasalhou o revés, a julgar pelo depoimento no Senado do diretor afastado do Dnit, Luiz Antônio Pagot, que evitou comprometer qualquer ministro ou superior.
Para se ver como funciona nos bastidores o mecanismo fisiológico de pressão e barganha de uma base de sustentação do governo, há duas cenas esclarecedoras tendo como protagonista o deputado Valdemar. Numa, ele revela com franqueza a uma rádio de Mogi das Cruzes sua forma de agir:
"O nosso ministro chegou na Dilma outro dia e falou: "Olha, o Valdemar tá com um problema com o bloco. Ele fez o bloco, acertou com o Palocci pra aumentar o espaço do partido no governo. Nós já temos muito espaço. Mas precisávamos aumentar o espaço, porque são 24 deputados a mais" (ele se refere aos partidos nanicos que com os 41 do PR compõem um forte grupo de apoio). Em seguida, fala que quer uma diretoria na Caixa Econômica Federal e no Banco do Brasil para facilitar seus pedidos de empréstimos: "Eu tendo um diretor, sai na hora."
Na outra cena, Valdemar e Nascimento aparecem num vídeo negociando com um deputado do PDT sua transferência para o PR em troca da liberação de uma verba de R$1,5 milhão para sua cidade no Maranhão. É, não é fácil a vida da presidente. Com aliados assim, ela não precisa de adversários.