O Globo - 11/08/2010
O fenômeno da transubstanciação de Dilma em Lula é o maior desafio que o candidato oposicionista José Serra enfrenta, sem estar preparado para tal. Aliás, taxá-lo de oposicionista em ambientes populares o preocupa, e sua veia crítica só é utilizada em determinados ambientes e para determinados públicos. O que torna muito difícil a sua vida de candidato.
A capacidade de transferência de votos de Lula era menosprezada pelos tucanos, especialmente pela fragilidade da candidata tirada do bolso do colete, Dilma Rousseff, que era comparada nos bastidores da campanha de Serra ao marechal Teixeira Lott, pela inabilidade política.
Na eleição presidencial de 1960, Lott foi lançado candidato pela coligação governista PTB/PSD que elegera JK e dera sustentação ao seu governo.
Juscelino, interessado em voltar ao poder para um segundo mandato em 1965, (não havia reeleição na época) apoiou Lott, que foi derrotado por Jânio Quadros.
Tudo indica que os tempos são outros e, sobretudo, que Lula é mais popular no momento do que Juscelino jamais foi em sua época, e não há nada parecido com Jânio na postura política de Serra.
A começar pelo receio que o candidato do PSDB tem de atacar Lula, de ser visto como anti-Lula, coisa que não afetou a campanha de Jânio que, ao contrário, centrou seus ataques na corrupção, empunhou a vassoura saneadora e teve êxito.
Serra está à procura de temas que sirvam para atacar o governo Lula sem atacar o próprio, enquanto Dilma a cada dia valoriza mais o papel de “laranja eleitoral” de Lula, recusando-se a aprofundar o debate de políticas governamentais, passando apenas a única mensagem que interessa, a da continuidade do governo Lula.
No primeiro debate, realizado pela TV Bandeirantes, Serra mostrou o que deve ser o tema central de sua campanha eleitoral na televisão: críticas a temas específicos que são os que aparecem nas pesquisas como os mais mal avaliados do governo Lula: saúde, educação e segurança pública.
Na verdade, o governo Lula tem uma alta avaliação devido quase que exclusivamente à sensação de bem-estar experimentada pela população de maneira geral, e dentro desse clima é impossível querer tratar de temas polêmicos como as reformas da Previdência e da legislação trabalhista, por exemplo.
O próprio Lula, depois de ter iniciado o governo com ânimo reformista, tendo aprovado algumas mudanças importantes na área previdenciária, recuou desse ímpeto e nem mesmo regulamentou os avanços alcançados, anulando-os na prática para não entrar em atrito com os sindicatos.
Ao contrário, o governo Lula deu mais poder às centrais sindicais, reconhecendoas formalmente e negociando com elas a política salarial do país.
Com a economia mundial de vento em popa, pode aumentar o alcance do Bolsa Família e aprofundar a política de dar aumentos reais ao salário mínimo, que vinha do governo anterior.
Nesse quadro de bondades sucessivas, não havia espaço para reformas estruturais do Estado, sem as quais o país não estará realmente preparado para um crescimento sustentável.
Mas como não é possível aos candidatos oposicionistas competitivos — na suposição de que Marina Silva do PV seja oposição — entrarem nessas discussões de fundo, seria de esperar que pelo menos contestassem o governo nas políticas setoriais que são frágeis.
A candidata Marina, por exemplo, poderia, com conhecimento de causa, denunciar que o interesse do governo Lula e, especificamente, o da ex-ministra Dilma Rousseff pelo meio ambiente não passa de jogada eleitoral.
Ela sabe disso, pois passou quase sete anos no governo tendo divergências internas sérias, e acabou saindo por não conseguir que o meio ambiente fosse um tema central do governo Lula.
Mas Marina se sente mais à vontade em brigar com o PSOL do que com o PT, onde permaneceu por mais de 30 anos.
Da mesma maneira, Serra pisa em ovos quando vai criticar o governo Lula, e parece paralisado em suas ações.
A divulgação, ontem, do novo Índice de Valores Humanos (IVH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) lhe dá dados para uma crítica no setor de saúde, em que ele é muito bem avaliado.
O novo Índice de Valores Humanos é composto pelos setores de trabalho, saúde e educação. Ele mostra o setor de saúde em pior condição do que os outros dois, que também não se encontram bem.
Em uma escala de zero a 1, sendo 1 o melhor resultado, o Brasil tem um IVH de 0,59, sendo que na educação o índice ficou em 0,54, e na saúde, em 0,45.
Esses dados fazem parte de um outro levantamento, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), também do Pnud.
O índice anunciado em outubro do ano passado mostra o Brasil em 75° lugar, tendo caído dez posições no governo Lula, embora continue na faixa de Alto Desenvolvimento Humano.
Mas, na comparação com nossos competidores diretos, continuamos perdendo terreno. Na comparação com o último ranking, cinco países se destacaram por terem subido três ou mais posições: China, Colômbia, França, Peru e Venezuela.
Com exceção da França, que voltou ao grupo dos dez primeiros, China, Colômbia e Venezuela melhoraram na educação.
No nosso caso, é ao contrário.
O Índice de Desenvolvimento Educacional, anunciado pela Unesco em janeiro deste ano, ficamos em 88 olugar, caindo 12 posições no governo Lula em face do baixo nível do ensino fundamental no país.
Há outras listas em que o Brasil vai mal, como o da Transparência Internacional sobre combate à corrupção, onde aparecemos em 80olugar, ou o da violência, onde o Brasil é o 83ocolocado entre 121 países do relatório do Economist Intelligence Unit da revista inglesa “The Economist”.
Mas quem quer falar de problemas, quando tudo vai indo tão bem?
Entrevista:O Estado inteligente
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