O Globo - 10/08/2010
Grupos do PT, desde quando eram oposição, sempre demonstraram traquejo
na busca de informações sigilosas sobre adversários, para utilizá-las
como munição na luta pelo poder.
Provavelmente devido à cultura forjada em duros embates travados no
mundo sindical origem dessas frações , turbinada pela visão dos fins
que justificam os meios, própria de certa militância esquerdista,
essas falanges se especializaram em arapongagens e montagem de dossiês
a serem vazados na imprensa, no Congresso, onde interessar.
Conquistado o poder nas eleições de 2002, a primeira ação de maior
repercussão desses aloprados, termo cunhado por Lula, foi a desastrada
operação de compra de um dossiê fajuto, no final da campanha de 2006,
para alvejar o tucano José Serra, então candidato ao governo de São
Paulo. Pilhado pela PF nesta manobra estava o responsável pela
campanha do adversário de Serra, senador petista Aloizio Mercadante,
que não se cansa de jurar inocência e apresentar como prova de
sinceridade o fato de não ter sido acusado na Justiça.
No segundo mandato de Lula, aloprados petistas patrocinaram outras
histórias de atuação subterrânea, ilegal.
Em sua última edição, Veja traz importante entrevista de um ex-diretor
da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, Gerardo Xavier Santiago,
com passagem pela função de assessor direto de Sérgio Rosa, petista
que presidiu o maior fundo previdenciário do país. Dizendo-se
arrependido e decepcionado com o PT, Gerardo denuncia a Previ de
Sérgio Rosa como ativa usina de produção de dossiês difamatórios.
Do esquema também participa, diz ele, Ricardo Berzoini, ex-presidente
do PT, ex-ministro, também de longa carreira sindical no setor
bancário, com origem no BB. Ele afirma, ainda, ter participado da
produção de alguns desses petardos, sob encomenda do chefe Rosa. O
cenário traçado pelo ex-diretor da Previ ajuda a se dimensionar o
enorme perigo que garantias constitucionais e o próprio regime
democrático correm, depois de todo esse tempo em que esquemas
sindicais petistas atuam em áreas vitais do Estado, como a Receita
Federal e no braço financeiro público (Banco do Brasil e Caixa
Econômica, por exemplo), com acesso a arquivos de dados sigilosos da
população protegidos por lei.
Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB, é a mais recente vítima deste
aparato de vigilância incrustado no Estado por meio do aparelhamento
ideológico da máquina pública patrocinado na Era Lula. O sigilo fiscal
de Eduardo Jorge foi ilegalmente quebrado, e, segundo ele, o de uma
conta no Banco do Brasil também. Não por acaso.
O vazamento de informações do imposto de renda do tucano num bunker da
campanha de Dilma Rousseff e uma carta anônima contra o ministro Guido
Mantega redigida num subaparelho sindical montado no BB são elementos
sólidos que apontam para a existência de um esquema paralelo de
espionagem montado no governo e em estatais. Uma de suas missões
primordiais: invadir a privacidade de qualquer um, como se
estivéssemos num estado soviético.
(Ou estamos, neste aspecto?) Uma daninha decorrência de todos esses
casos que se sucedem no governo Lula é a cristalização de uma letargia
moral no país: os casos escandalizam cada vez menos, os mecanismos
públicos de correção de desmandos se tornam lerdos, enquanto paira a
distorcida e deplorável percepção de que um governo com alta
popularidade tudo pode.
Sucessão de casos sem consequências cria estado de letargia moral