Certos analistas do mercado financeiro vêm apostando em que as cotações do dólar encontrarão uma resistência natural a novas quedas quando chegarem a R$ 1,7500 (sexta-feira fecharam a R$ 1,7600). Mas nada garante algo assim. Os próprios bancos brasileiros estão vendidos em US$ 10 bilhões, o que indica avaliação firme de que o real continuará se valorizando.
Na última quinta-feira, em seu relatório regimental realizado anualmente sobre a situação da economia brasileira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) avisou que o real se encontra excessivamente valorizado.
E uma das razões dessa queda das cotações da moeda estrangeira é o fato de que voltaram a aportar no câmbio interno capitais em busca da boa remuneração que vem sendo proporcionada pelos juros em reais mais altos do que os vigentes no mercado internacional.
Em outubro passado, o governo impôs um IOF de 2% na entrada de recursos externos destinados a aplicações em renda fixa e em ações, para reduzir o afluxo de moeda estrangeira. Na avaliação do FMI, essa medida deve ter contribuído para reduzir o desembarque de capitais.
Ainda que a entrada de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) venha sendo menor do que a esperada (dificilmente chegará aos US$ 35 bilhões projetados pelo Banco Central), parece inevitável uma forte chegada de capitais neste segundo semestre. Somente a capitalização da Petrobrás pelos acionistas estrangeiros deverá trazer cerca de US$ 20 bilhões; novos lançamentos primários de ações (conhecidos como IPO) estão sendo programados; faltam recursos internos para todas as obras de infraestrutura já programadas e o governo se dispõe a buscá-los lá fora.
Enfim, apenas as pressões sobre o real, que nada tem a ver com a diferença de juros, tendem a se intensificar. Em todo o caso, o governo poderia reforçar os mecanismos destinados a desencorajar a especulação com a diferença de juros (operações de arbitragem).
Ocorre que o único instrumento capaz de reverter o afluxo de moeda estrangeira nesse segmento é a redução dos juros básicos, que, por sua vez, só acontecerá quando o Banco Central puder afrouxar a política monetária (política de juros).
A principal razão pela qual os juros têm de ser altos no Brasil tem a ver com a política fiscal: é o excesso de despesas do setor público. Quando o governo injeta dinheiro demais na economia, o Banco Central tem de retirá-lo e os juros sobem.
Assim, para que os juros possam cair mais rapidamente de maneira que os juros reais internos tendam a se alinhar aos externos, sem produzir inflação, o governo terá de ser mais firme na condução da política fiscal. Apenas a formação de um déficit nominal zero, ou perto disso, será capaz de criar um ambiente decisivo para o mergulho dos juros. (Para quem não está habituado com esses conceitos, déficit nominal zero é o resultado das contas públicas que já inclui os juros da dívida no total das despesas. Hoje, os juros são reincorporados ao principal da dívida.)
O problema é que nem mesmo o Banco Central se encoraja a pedir mais disciplina fiscal para o governo - ao contrário do que tem feito o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, aos governos da área do euro.
Entrevista:O Estado inteligente
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