O Estado de S Paulo 08/08
Certos analistas do mercado financeiro vêm apostando em que as cotações do dólar encontrarão uma resistência natural a novas quedas quando chegarem a R$ 1,7500 (sexta-feira fecharam a R$ 1,7600). Mas nada garante algo assim. Os próprios bancos brasileiros estão vendidos em US$ 10 bilhões, o que indica avaliação firme de que o real continuará se valorizando.
Na última quinta-feira, em seu relatório regimental realizado anualmente sobre a situação da economia brasileira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) avisou que o real se encontra excessivamente valorizado.
E uma das razões dessa queda das cotações da moeda estrangeira é o fato de que voltaram a aportar no câmbio interno capitais em busca da boa remuneração que vem sendo proporcionada pelos juros em reais mais altos do que os vigentes no mercado internacional.
Em outubro passado, o governo impôs um IOF de 2% na entrada de recursos externos destinados a aplicações em renda fixa e em ações, para reduzir o afluxo de moeda estrangeira. Na avaliação do FMI, essa medida deve ter contribuído para reduzir o desembarque de capitais.
Ainda que a entrada de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) venha sendo menor do que a esperada (dificilmente chegará aos US$ 35 bilhões projetados pelo Banco Central), parece inevitável uma forte chegada de capitais neste segundo semestre. Somente a capitalização da Petrobrás pelos acionistas estrangeiros deverá trazer cerca de US$ 20 bilhões; novos lançamentos primários de ações (conhecidos como IPO) estão sendo programados; faltam recursos internos para todas as obras de infraestrutura já programadas e o governo se dispõe a buscá-los lá fora.
Enfim, apenas as pressões sobre o real, que nada tem a ver com a diferença de juros, tendem a se intensificar. Em todo o caso, o governo poderia reforçar os mecanismos destinados a desencorajar a especulação com a diferença de juros (operações de arbitragem).
Ocorre que o único instrumento capaz de reverter o afluxo de moeda estrangeira nesse segmento é a redução dos juros básicos, que, por sua vez, só acontecerá quando o Banco Central puder afrouxar a política monetária (política de juros).
A principal razão pela qual os juros têm de ser altos no Brasil tem a ver com a política fiscal: é o excesso de despesas do setor público. Quando o governo injeta dinheiro demais na economia, o Banco Central tem de retirá-lo e os juros sobem.
Assim, para que os juros possam cair mais rapidamente de maneira que os juros reais internos tendam a se alinhar aos externos, sem produzir inflação, o governo terá de ser mais firme na condução da política fiscal. Apenas a formação de um déficit nominal zero, ou perto disso, será capaz de criar um ambiente decisivo para o mergulho dos juros. (Para quem não está habituado com esses conceitos, déficit nominal zero é o resultado das contas públicas que já inclui os juros da dívida no total das despesas. Hoje, os juros são reincorporados ao principal da dívida.)
O problema é que nem mesmo o Banco Central se encoraja a pedir mais disciplina fiscal para o governo - ao contrário do que tem feito o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, aos governos da área do euro.
De gole em gole 07/08/2010
Saúde! Nada melhor do que um bom vinho para espantar o frio que tem feito nas últimas semanas. O consumo anual, de dois litros por pessoa, ainda é modesto por aqui, mas vem crescendo. Neste ano deverá ser 10% mais alto do que em 2009. O diretor de curso da Associação Brasileira de Sommeliers, Arthur Azevedo, atribui o aumento de interesse pela bebida a dois fatores. O primeiro foi a divulgação de pesquisas mostrando que uma tacinha por dia faz bem pro coração. O outro vem lá de trás. Tem a ver com a abertura do mercado interno, em 1991, pelo governo Collor. Mas é preciso ligar esse avanço com mudanças de hábitos de consumo, que estão associadas à ascensão das classes médias.
O Liebfraumilch, vinho branco alemão, ainda hoje encontrado nos supermercados, foi o primeiro a ser consumido em massa pelas camadas emergentes do Brasil. Depois dele vieram outros produtos alemães, nem sempre de boa qualidade, embalados naquelas famigeradas garrafas azuis. Mas, em seguida, o paladar do consumidor brasileiro médio ficou mais exigente e, assim, foi aberta a porteira para vinhos mais bem cuidados, da Europa, do Chile, da Argentina, dos Estados Unidos, da Austrália e até da África do Sul. São produtos que vêm conquistando o brasileiro não só pela qualidade, como também pelo preço. Hoje é possível encontrar vinhos honestos na faixa dos R$ 20.
As estatísticas do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) mostram que a venda de rótulos nacionais cresceu 12% em apenas dois anos: 2008 e 2009. Entre os importados, no mesmo período, o aumento foi bem menor, de 4%. A valorização do real e a crise econômica da Europa, onde os estoques vêm se acumulando, estão derrubando ainda mais os preços. São fatores que deverão puxar substancialmente as importações até o final do ano. Somente no primeiro semestre, elas aumentaram 33% quando comparadas ao primeiro semestre de 2009.
Nada menos que 85% dos vinhos produzidos no Brasil são do tipo vinho comum ou vinho de mesa, que no passado contribuíram para afastar o consumidor em consequência da baixa qualidade. Mas esse perfil está mudando. Desde 2000, as centenárias vinícolas gaúchas estão se modernizando, trabalhando com cepas selecionadas, e têm obtido produtos bem melhores, especialmente na classe dos espumantes. Empresas de Santa Catarina e do Vale do São Francisco também estão apostando na qualidade.
Além das condições climáticas nem sempre favoráveis, um dos mais sérios desafios do setor é derrubar a elevada carga tributária, que encarece o produto ao nível do insuportável. As avaliações feitas pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) dão conta de que 54,73% do preço do vinho no varejo corresponde a impostos.
Apesar desses e outros obstáculos, a estratégia do investimento na qualidade parece estar dando certo. No início de julho, uma degustação feita por 40 especialistas em Londres selecionou oito rótulos brasileiros da uva Merlot entre os dez melhores do mundo Outro bom exemplo está na crescente aceitação dos espumantes fabricados no Sul do País, cujas vendas praticamente dobraram entre 2004 e 2009. (colaborou Isadora Perón)
CONFIRA
Inflação - Aí está a perda de força da inflação. Foi de zero por cento em junho e de 0,01% em julho. O principal fator que empurrou a inflação para baixo foi a redução dos preços dos alimentos, situação que não se repetirá no resto do ano. Os preços dos alimentos dispararam nos primeiros meses do ano pelo excesso de chuvas. Agora, estão voltando ao normal.
Como ficam os juros - A principal consequência dessa inflação mais baixa é a perspectiva de redução dos juros. É mais provável que o Banco Central não aumente a Selic na reunião de 1º de setembro.
Entrevista:O Estado inteligente
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