Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 03, 2010

Merval Pereira Nervos de aço

O GLOBO

O pior cenário para o PSDB na sucessão presidencial ainda não aconteceu: no período entre maio e junho serão apresentados os programas de televisão de propaganda eleitoral da maioria dos partidos da base aliada, o que previsivelmente dará uma turbinada na candidatura oficial.

Nesse período crítico, que antecede as convenções partidárias, as pesquisas devem mostrar outra subida forte da já então exministra Dilma Rousseff, abalando a autoconfiança dos tucanos na possibilidade de vencer a eleição e, pior quer tudo, dificultando a ampliação das alianças partidárias.

Os programas do PSDB e de seus aliados DEM e PPS serão os últimos a serem transmitidos, próximo das convenções partidárias no fim de junho, em meio à Copa do Mundo.

Esse "timing" permitirá que o PT e seus aliados façam propaganda maciça, chegando às convenções animados com os resultados das pesquisas.

Tucanos temem que se repita o fenômeno que está acontecendo agora, com a divulgação do Datafolha apurado em cima do programa eleitoral do PSB com deputado Ciro Gomes ainda candidato; o programa do PV com a senadora Marina Silva, e o lançamento da candidatura oficial da ministra Dilma Rousseff pelo PT.

O único que não teve mídia nacional de dezembro a fevereiro foi o potencial candidato do PSDB, o governador de São Paulo, José Serra.

Ou melhor, teve, mas negativa por causa das chuvas torrenciais que inundaram São Paulo.

Ao mesmo tempo em que as chuvas afetaram a intenção de votos em Serra, que perdeu pontos preciosos na Região Sudeste, o seu forte, ele estaria aliviado por não ter cedido às pressões para sair do governo antes.

Poderia ser acusado de abandonar o estado por uma ambição política, enquanto no momento, mesmo com o prestígio talvez afetado, ele demonstra estar focado na tarefa de governar, passando a ideia de que se dedica à sua prioridade até o último dia que a lei permite.

Essa sempre foi, aliás, sua intenção ao retardar ao máximo a saída do governo: demonstrar que se dedicou até o último dia ao estado, esperando levar para a disputa presidencial a possibilidade de sair à frente de sua adversária com pelo menos seis milhões de votos.

Assim como em Minas o governador Aécio Neves representa o desejo do estado de voltar ao comando do país, em São Paulo o governador Serra representa a melhor aposta para que os paulistas continuem no poder central.

A tarefa do PSDB de São Paulo, na qual estão todos empenhados, é conseguir ampliar a votação do candidato do partido à Presidência da República, que há quatro eleições vence no estado com uma diferença entre 3,8 e 5,1 milhões de votos.

O secretário de Relações Institucionais de São Paulo, José Henrique Reis Lobo, que ontem deixou o governo, vai coordenar a interação entre as duas campanhas, a nacional e a estadual, que deverá ter o ex-governador Geraldo Alckmin como o candidato tucano.

Esse movimento é apenas a confirmação indireta do que já estava explícito: o governador José Serra não pensa em desistir da candidatura, embora continue muito preocupado com falhas que vê na organização da campanha.

A começar pela falta de unidade do partido até o momento, que seria fundamental para compensar as vantagens que a candidata oficial vem exibindo.

Seja a unidade partidária em uma ampla base aliada, seja o apoio explícito do presidente Lula, que não é reprimido até o momento pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Quando os dois deixarem os respectivos cargos, entre final de março e dia 3 de abril, estarão teoricamente em igualdade de condições, mas o presidente Lula continuará atuando fortemente.

Veremos então uma disputa judicial intensa para definir os limites do apoio do presidente. A interpretação da legislação eleitoral é muito sutil.

Há especialistas, por exemplo, que dizem que o presidente Lula poderá aparecer nos programas de propaganda eleitoral de Dilma, mas não poderá dizer que seus projetos sociais continuarão no governo dela.

Nem mesmo que ela dará continuidade ao seu governo, porque estaria colocando o cargo de presidente da República a serviço de uma candidatura, criando uma situação de desigualdade.

Que já está caracterizada, aliás, nas aparições de Lula ao lado de sua candidata oficial e das diversas entrevistas e declarações do presidente a propósito da sucessão presidencial, sempre apontando Dilma como sua escolhida para dar continuidade ao seu governo.

O que a lei eleitoral pune é o abuso do poder político e econômico. Há quem considere que Lula pode até mesmo subir nos palanques de Dilma, mas terá que fazê-lo fora do horário de expediente normal e talvez só mesmo nos fins de semana.

E não poderá fazer discursos.

Mas poderá levantar o braço de Dilma dizendo que ela é sua candidata.

Por sua vez, a candidata Dilma Rousseff não poderá comparecer às inaugurações de obras do governo, como vem fazendo até agora sob o pretexto de que está supervisionando as obras do PAC.

Ontem, o PSDB no Senado deu um primeiro passo no sentido de criar fatos políticos favoráveis, aprovando o estímulo aos alunos com boas notas inscritos no Bolsa Família.

De uma vez só, aproximou o Bolsa Família do Bolsa Educação, sua origem no governo Fernando Henrique, e aprimorou o sistema.

Mas não basta ao PSDB acer tar seu passo. Tem também que esperar que alguma coisa dê errado na estratégia do adversário.

Todos esses obstáculos dificultam a campanha oposicionista, e mais do que nunca José Serra terá que ter "nervos de aço" para atravessar os períodos de maior turbulência.

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