Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, março 12, 2010

CARLOS ALBERTO SARDENBERG A culpa está em casa

o globo - 11/03/10
O governo grego, anterior ao atual, mentiu descaradamente sobre suascontas e ainda tentou, com a ajuda de grandes bancos internacionais,montar operações que mascarassem a dívida pública. Quando a verdadeapareceu, mostrando contas estouradas, já sob o atual governosocialista de George Papandreou, os investidores que detinham títulosda dívida grega se assustaram e passaram a exigir juros maiores paracontinuar financiando. O custo do seguro contra um calote grego tambémaumentou, como parece razoável.

Não para Papandreou. Ele diz queespeculadores internacionais desfecharam um ataque especulativo com oobjetivo não apenas de derrubar a Grécia, mas o próprio euro, a moedacomum. Isso é demagogia e uma tentativa de fugir das duras políticasde ajuste das contas públicas.

Toda vez que um país chega perto de uma crise, e o mercado percebe, inicia-se um processo de especulação.

Haverá o calote? Quem especula que haverá trata de se desfazer dos títulos de uma dívida duvidosa e o mercado se move.

Porexemplo: em setembro 2002, quando o mundo achava que Lula venceria aseleições no Brasil e daria o calote, os títulos da dívida brasileiraeram negociados a 35% do valor de face. Ou seja, um papel no qual ogoverno brasileiro prometia pagar 100 dólares era negociado a 35.Investidores que especulavam o contrário, que não haveria calote,compraram e ganharam um caminhão de dinheiro.

Os títulos brasileiros hoje são negociados acima do valor de face, e pagam juros baixinhos.

Nocaso da Grécia de hoje, os títulos nem caíram tanto, nem os jurossubiram muito, justamente porque estão em euros, de modo que o mercadoacha que a União Europeia e o BC europeu serão como que obrigados aimpedir o calote.

Mas o governo continua pagando mais caro parase financiar e vai continuar assim até que prove estar efetivamentefazendo o ajuste das suas contas. Como todo mundo sabe, esse ajuste époliticamente difícil.

Exige, por exemplo, em qualquer cenário,a contenção dos salários do funcionalismo. Exige também regras maisduras para a aposentadoria. Requer ainda cortes de gastosgovernamentais e aumento de impostos.

Para satisfazer a sanhados credores/ especuladores? Claro que não. Para melhorar a vida dosgregos. Para, por exemplo, facilitar a vida dos gregos que estãonascendo hoje e que serão obrigados a pagar, com impostos, asaposentadorias da atual geração.

Deviam olhar o Brasil.Pressionado pelas crises de 97/98, o governo FHC iniciou um longo ecustoso processo de ajuste de contas, cujos bases foram mantidas porLula. Os frutos hoje estão aí. Mas o Brasil também devia olhar para aGrécia, para se lembrar que um bom momento não dá licença para gastar.

Lógicado atraso A propósito da coluna aqui publicada na semana passada, aInfraero informa que investiu cerca de R$ 2,9 bilhões na construção emodernização de aeroportos e, até 2014, vai investir R$ 4,6 bilhões sónos aeroportos relacionados com a Copa.

Sobre as tarifas deembarque, a estatal informa que as domésticas estão congeladas desde2005 e as internacionais, desde 1997, em dólares.

Diz ainda quea empresa recentemente passou por uma reestruturação organizacional etem contratado por concurso público vários profissionais do seu quadrofuncional.

Finalmente, explica que a Infraero está passandopor uma fase de estudos e planejamentos que visa à abertura do capitalda empresa.

Registramos: a abertura de capital, queconsideramos uma boa ideia em nosso artigo, estava prevista para maisde um ano atrás. Esse tipo de demora compromete.

Os investimentos relacionados são claramente insuficientes, segundo admitem membros do governo e da organização da Copa.

Passageiros e companhias aéreas reclamam de tarifas e taxas.

Um outro leitor, depois de defender a Infraero, sugeriu algo interessantee com o que concordamos inteiramente: que se abra licitação para novosaeroportos, a serem construídos e depois operados por empresasprivadas. Assim, haveria uma bela competição no setor.

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