Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, janeiro 07, 2010

O que vem antes da enchente Celso Ming


O Estado de S. Paulo - 07/01/2010
 
 

Esse final de ano mostrou centenas de quilômetros de congestionamento nas estradas em consequência do desabamento de barreiras e das interdições provocadas por inundações. Em Minas e no Rio Grande do Sul, pontes desabaram. Em São Paulo e provavelmente em muitas outras capitais da República, buracos de todos os tamanhos se abriram nas avenidas. 

E, para o argumento a ser desenvolvido por esta Coluna, não se contam as calamidades que ocorreram em Angra dos Reis e São Luiz do Paraitinga, também, em grande parte, fruto da imprevidência humana.

É o viajante que não chega a seu destino; é a matéria-prima e a autopeça que não cumprem o cronograma just-in-time; são bilhões de reais que se perdem na ineficiência e na impossibilidade de planejar a produção.

Os estragos dessa virada de ano estão sendo debitados apenas ao excesso de chuvas e às enchentes que a natureza mandou e não à irresponsabilidade com que se planeja, monta e mantém a infraestrutura deste País. Se uma rodovia está excessivamente vulnerável à queda de barreiras é porque foi construída sem atender às condições técnicas exigidas. Se a enchente está levando embora pontes de concreto é porque seus projetistas e construtores não levaram em conta todas as pressões físicas que passariam a enfrentar.

O apagão de quatro horas no Centro-Sul ocorrido em novembro até agora não tem explicação aceitável. O único culpado não pode comparecer a um tribunal destinado a julgar os responsáveis: foi uma tempestade de raios na região de Itaberá, no interior de São Paulo, que atingiu a linha de transmissão da Chesf. Seja o que tenha mesmo acontecido, se uma linha de transmissão está tão exposta a estragos provocados por raios, então alguma especificação técnica não deve ter sido atendida nos projetos e na construção desses linhões.

Há alguns meses já não se ouve falar em desastres aéreos provocados por pistas mal fresadas ou por deficiências dos serviços de controle de voo ? o que não significa que eles deixarão de acontecer. Em todo o caso, todos os grandes aeroportos brasileiros estão saturados sem que as autoridades da área provenham recursos para sua ampliação e modernização. Por Confins, que serve à região metropolitana de Belo Horizonte, passam atualmente 5,2 milhões de pessoas por ano quando não suporta mais do que 5 milhões.

E, outra vez, se o asfalto das avenidas existentes nas grandes cidades brasileiras estoura com o calor e com as chuvas é porque as autoridades municipais se contentam com serviços de pavimentação inadequados, sem atentar para as condições de solo, clima e pressões que nossas ruas têm de aguentar.

Os viadutos e pontes da cidade de São Paulo a todo instante estão sujeitos a paralisar o trânsito nas marginais (por onde se faz a ligação rodoviária entre o Norte e o Sul do País) porque foram mal construídos e não vêm tendo a manutenção necessária.

Este é o momento em que o Brasil reúne condições para perder definitivamente o conhecido complexo de vira-latas de que falou Nelson Rodrigues e saltar para o futuro que a História lhe prepara. Mas, decididamente, tem de assumir seu destino e cuidar como adulto de sua infraestrutura.

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