ELE VAI DISTRIBUIR
22 BILHÕES DE DÓLARES
É esse o valor que o banco americano Goldman Sachs deve pagar em salários
e bônus a seus funcionários neste ano. É sinal de que a crise chegou ao fim?
Benedito Sverberi
Alessandro Della Vella / Latinstock |
COMO PODE? Blankfein, do Goldman Sachs: o melhor resultado da história menos de um ano depois da quebra de Wall Street |
O banco americano Goldman Sachs anunciou na semana passada que lucrou 3,44 bilhões de dólares entre abril e junho deste ano, alcançando o trimestre mais lucrativo de seus 140 anos de história. A instituição, comandada por Lloyd Blankfein, o senhor da foto à esquerda, informou ainda que vai pagar, em média, 386 00 a cada um de seus funcionários, entre salários, bônus e compensações financeiras, pelo desempenho registrado na primeira metade do ano. Mantido o ritmo no segundo semestre, o Goldman Sachs deverá distribuir 22 bilhões de dólares a seus quase 30 00 empregados em 2009, um ano depois de a indústria financeira mundial – e particularmente os bancos de Wall Street – ter se prostrado perante a pior crise desde o crash de 1929. Ainda que o Goldman Sachs seja fora de série, outros bancos também apresentaram resultados positivos na semana passada. São notícias que arrefeceram, ao menos temporariamente, o pessimismo na economia americana. As bolsas dos Estados Unidos tiveram uma semana de altas, impulsionadas pela percepção de que o pior ficou definitivamente para trás. Colaborou para o otimismo a proliferação de análises de economistas e institutos de pesquisa segundo as quais a economia dos EUA talvez já tenha deixado para trás a recessão iniciada no fim de 2007.
Um exemplo de dado promissor foi a divulgação de que o número de trabalhadores americanos que entraram com novos pedidos de auxílio-desemprego caiu acentuadamente. Já a produção industrial seguiu em declínio, mas num ritmo menor. Diante de indicadores como esses, a respeitada consultoria Economic Cycle Research Institute, que avalia uma bateria de números para aferir os ritmos do ciclo econômico americano, sentenciou: o fundo do poço deu-se em fevereiro e, neste momento, a recessão, se já não acabou, está muito perto do fim. Outra consultoria privada tarimbada, a Macroeconomic Advisers, estimou que os números do terceiro trimestre deverão mostrar uma alta de 2,4% no PIB dos Estados Unidos. O governo Barack Obama, tendo como porta-voz o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, aproveitou para reiterar sua confiança na recuperação. "Há uma chance muito boa de ver a economia americana crescer novamente nos próximos trimestres", afirmou ele. Lawrence Summers, assessor econômico da Casa Branca, completou: "A economia americana esteve à beira de uma catástrofe em janeiro, mas conseguiu progressos consideráveis desde então".
É temerário apostar, no entanto, que os Estados Unidos já naveguem por águas calmas que os reconduzirão rapidamente à pujança. São vários os índices que oferecem razões de sobra para manter a cautela. O déficit fiscal, por exemplo, bateu recorde ao ultrapassar a marca de 1 trilhão de dólares no acumulado do atual ano fiscal. A taxa de desemprego superou em junho a casa dos 10% em dezesseis dos cinquenta estados americanos. Em Michigan, onde se encontram diversas fábricas de automóveis, a taxa superou 15%. Muitos acreditam que a economia superou a vala em que se encontrava apenas graças à enxurrada de dinheiro público que foi despejada nos dois últimos anos. "O país deve sair da recessão até o fim do ano. Entretanto a recuperação será fraca, dado o grau de endividamento privado", afirmou o economista de origem turca Nouriel Roubini, que ganhou o apelido de Dr. Apocalipse pelo seu catastrofismo monocórdio, mas que agora já passou a enxergar uma luz no fim do túnel.
O próprio presidente do Goldman Sachs, Lloyd Blankfein, reconheceu que a economia está longe de recuperar seu vigor pleno. "Os mercados permanecem frágeis, e ainda há amplos desafios para a economia como um todo", declarou o executivo. Se é assim, como sua firma conseguiu auferir lucros recordes no trimestre? "Foi o resultado da melhora nas condições dos mercados financeiros e da diversidade da carteira de clientes", disse o executivo. Entre eles, estão empresas e governos, como o da Califórnia, afogados pela falta de crédito. Depois de ter faturado bilhões nos tempos de bolha, agora o Goldman fatura bilhões nos tempos de vacas magras. Mérito seu. Mas longe de ser um sinal definitivo de que a economia americana está pronta para voltar a andar com as próprias pernas.
Fotos Divulgação, AFP, AP Reuters e WPN |
No Brasil a retomada avança
O Outlet Premium São Paulo, localizado a 70 quilômetros da capital paulista, tem razões de sobra para estar diariamente lotado, com filas nos caixas que podem passar de uma hora. Além dos descontos que podem chegar até a 80% nos produtos de grife vendidos ali, a realidade é que as famílias estão com dinheiro no bolso e com disposição para gastá-lo, uma evidência de que a desaceleração da economia brasileira já ficou para trás. Estimuladas pela melhoria das condições de financiamento, pelas desonerações fiscais e pela manutenção do poder aquisitivo, as vendas do comércio – não só nos outlets, mas em todo o varejo – tiveram alta de 4% em maio na comparação com o mesmo mês de 2008, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Divulgações positivas deram a tônica do noticiário econômico nas últimas duas semanas. Junho colecionou recordes no varejo de veículos. O resultado mensal, com 300 157 unidades comercializadas, foi o melhor da história. Já o Banco Central informou que as operações de crédito no Brasil seguem em expansão. O volume total emprestado registra alta de 20,5% em doze meses. É um reflexo também da melhoria das condições de financiamento. Diversas modalidades de crédito retornaram aos patamares de antes do estouro da crise. Já no mercado de trabalho, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram abertos 299 506 postos formais no acumulado de janeiro a junho. O mercado de trabalho não tem o vigor que exibiu no ano passado, mas ele cria vagas, em vez de fechá-las, como vem ocorrendo nos países ricos. Esses indicadores levaram economistas a alterar suas projeções de crescimento para o Brasil. Passou-se de uma expectativa de severa retração em 2009 – o banco Morgan Stanley chegou a prever em março uma queda de 4,5% para o PIB brasileiro – para uma contração moderada, até chegar ao quadro atual, em que se estima que a economia fechará o ano com um número não muito vistoso, mas possivelmente positivo. Ao contrário dos Estados Unidos, onde ainda há dúvidas sobre a sustentabilidade da retomada, aqui a recuperação parece ter impulso para um voo bem mais longo. |