O Estado de S. Paulo - 07/07/2009 |
Enquanto as vendas de veículos nos Estados Unidos vão deslizando precipício abaixo, na China vão batendo recordes. Ontem as agências de notícias martelaram que, no primeiro semestre deste ano, a General Motors (GM), que está em concordata nos Estados Unidos, produziu na China e vendeu para chineses nada menos que 814,4 mil carros e a Ford, outros 192,2 mil. Surpreendentemente, as vendas mensais da GM de veículos na China aproximam-se das suas vendas nos Estados Unidos. Em junho, a GM vendeu 176,6 mil veículos no mercado americano (queda de 34,0% em relação a junho do ano passado) e 143,3 mil no da China (61,6% a mais). Os últimos dados de toda a indústria de veículos da China são de maio, mês em que as vendas foram 46,8% mais altas do que 12 meses antes. Elas eram de apenas 2 milhões de unidades em 2000 e neste ano devem atingir 10 milhões, mais de três vezes as vendas do Brasil. Esse resultado não é apenas a resposta do mercado chinês aos estímulos do seu governo, que reduziu de 10% para 5% os impostos das vendas de veículos no varejo. Sinaliza uma guinada do próprio mercado consumidor. Uma das críticas que se faziam ao modelo produtivo chinês é de que está dependente demais das exportações (que caíram de maio do ano passado a maio deste ano - veja o gráfico) e vulnerável a uma crise econômica do mundo rico. Há sinais de que algumas coisas começam a mudar ou então de que a vulnerabilidade não é tão forte quanto se imagina. Um desses sinais foi o pacote fiscal de US$ 586 bilhões com que o governo chinês irrigou o consumo interno. Alguns analistas observaram que o impacto dessa injeção seria insignificante para o efeito desejado (reativação do consumo), porque se destinava às mesmas empresas que operam com exportações. Seria de fôlego curto, diziam, porque os mercados dos países ricos não importariam produtos chineses como antes e nessas condições não dariam conta do aumento da produção. Assim, o empurrão do governo chinês se limitaria a financiar o aumento de estoques. Mas as estatísticas mostram que a economia chinesa, embora atingida pela quebra da demanda global, segue muito forte. Deverá fechar o ano com um aumento do PIB que provavelmente estará entre 7% e 8% (e não abaixo dos 6%, como tantos sugeriram). O grande aumento das vendas de veículos parece mostrar que a demanda se desloca para o mercado interno mais rapidamente do que se esperava. Com a especial característica de que o chinês não toma impulso a partir dos padrões globais de consumo dos anos 50, mas a partir dos do século 21. Hoje, o primeiro veículo do chinês de classe média não é o Fusca nem o Fiat 500 ou o Lada dos anos 90. É o Chevrolet Spark 1.6 ou o Ford Fiesta. A resposta do consumo interno chinês e, mais do que isso, a perspectiva de que 1,2 bilhão de chineses assumam os padrões ocidentais de consumo não é só uma boa notícia para a própria China e para o mundo. Carrega um punhado de questões intrincadas e de perplexidades. Aqui vão apenas duas: haverá no mundo alimentos, matérias-primas e energia suficientes para toda essa carga? Qual será o impacto no meio ambiente quando os asiáticos também exigirem um carro em cada garagem? CONFIRA Saia-justa - Situação complicada a de Honduras. O presidente Zelaya foi deposto por decisão do Congresso e da Suprema Corte. Depois vieram as declarações do presidente Lula e de tantas outras autoridades, mais as resoluções da ONU e da OEA condenando "o golpe". Se Zelaya voltar, ficarão desmoralizadas instituições democráticas do país, como o Congresso e a Suprema Corte. Se não voltar, a ONU e a OEA é que ficarão desmoralizadas. Dá para chamar a deposição de golpe militar, se os militares obedeceram ordens e nem tomaram o poder? E como ficam as centenas de mortes e tudo o que ainda virá? |
Entrevista:O Estado inteligente
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