Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 18, 2009

Entrevista Peter Löscher, o executivo que reestruturou a Siemens

PUNIMOS 1 400
POR MÁ CONDUTA
Fabrizio Bensch/Reuters

PETER LÖSCHER
Presidente da Siemens: não se podem tolerar negócios obscuros


O austríaco Peter Löscher, 51 anos, assumiu a presidência da Siemens em julho de 2007, em meio a um escândalo: o pagamento de mais de 1 bilhão de dólares em propinas para ganhar contratos em diversos países. Sob seu comando, a empresa, que está presente em 197 países e faturou 77 bilhões de euros em 2008, passou por profunda reestruturação. Löscher, que chega ao Brasil no dia 21, é o primeiro executivo de fora dos quadros da Siemens a comandar a companhia em seus 162 anos de existência. Já morou na Alemanha, na China, no Japão, na Espanha e nos Estados Unidos. De Munique, na Alemanha, onde vive, ele deu a seguinte entrevista ao repórter Ronaldo Soares.

A VIDA PÓS-ESCÂNDALO Tivemos de lidar com isso de maneira aberta e transparente, indo até as raízes do problema. A Siemens contratou uma empresa americana especializada, a Debevoise & Plimpton, que fez uma investigação independente em toda a companhia. Foram entrevistados mais de 2 500 funcionários e analisados 82 milhões de documentos eletrônicos e 38 milhões de transações financeiras. Dos mais de 1 400 funcionários punidos por violação de normas de conduta, 153 foram demitidos, sendo que 67 tinham cargo de gerente sênior. Paralelamente, mais de 200 000 funcionários no mundo todo receberam treinamento em compliance (observância de normas de conduta).

A LIÇÃO É fundamental praticar negócio limpo, o tempo todo, em todos os lugares. Não se podem tolerar negócios obscuros. Podem-se fazer bons e honestos negócios em qualquer lugar do mundo. O desempenho não é contraditório com a ética.

AS PRIORIDADES Sempre fomos, e queremos continuar a ser, uma empresa inovadora. Entre as invenções da Siemens constam o desenvolvimento do marca-passo, do tomógrafo computadorizado, do secador elétrico de cabelo. Hoje, criamos 38 invenções por dia e trabalhamos com foco nas próximas gerações. Um exemplo: a Siemens fez o primeiro carro elétrico, em 1904. Agora, nossa preocupação está voltada para o desenvolvimento de um sistema digital de distribuição de energia que vai ser importante na infraestrutura desse tipo de veículo.

MEIO AMBIENTE Damos cada vez mais ênfase ao nosso portfólio ambiental. Dos 3,8 bilhões de euros que investimos por ano em pesquisa e tecnologia, 1 bilhão de euros vão para o desenvolvimento de produtos "verdes". Temos hoje o mais amplo portfólio de energia "verde" do mundo. São 19 bilhões de euros, o que representa um quarto do nosso faturamento. Há perspectiva de grande crescimento em energias renováveis, como a eólica e a solar. Estamos desenvolvendo, entre outras coisas, as primeiras turbinas eólicas flutuantes para alto-mar, que vão poder aproveitar melhor o vento no local onde ele é mais forte e constante. A visão da Siemens é ser uma gigante verde da infraestrutura. Esse será nosso slogan para o futuro.

APOSTAS A saúde é o nosso outro grande filão. Em duas ou três décadas a expectativa de vida da população mundial vai aumentar dez anos, em média, e isso vai intensificar muito a demanda por produtos e serviços nessa área. Um exemplo: a incidência de Alzheimer deve triplicar. Estamos desenvolvendo com outras empresas um equipamento capaz de fazer o diagnóstico por imagem dessa doença ainda em nível molecular, antes da manifestação de sintomas físicos.

A CRISE Esta é a crise do nosso tempo, da nossa geração empreendedora. Provavelmente também é a crise mais global que já existiu. Mas nós nos beneficiamos do fato de termos dois terços de nossos investimentos em projetos de longo prazo. Nossos negócios que foram afetados são os que estão relacionados ao curto prazo, como aqueles ligados às indústrias automobilística, química, da construção civil e siderurgia.

BRASIL A Siemens Brasil cresceu 33% no ano passado; foi o melhor resultado entre todos os emergentes. Temos uma presença forte aí. Um exemplo disso é que nossos equipamentos e sistemas são responsáveis por 50% da energia elétrica gerada no país. O Brasil será um importante alicerce para nós, pois temos boas perspectivas em relação aos investimentos que serão feitos em infraestrutura.

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