O ESTADO DE SÃO PAULO - 05/04/09
O presidente Luiz Inácio da Silva saiu muito bem na foto da reunião do G20, mas o presidente Barack Obama saiu-se muitíssimo melhor. A comparação não diminui Lula em nada, ao contrário. É preciso ter um certo charme, muita simpatia e carregar alguma simbologia para ser chamado a dividir a cena com um catedrático na matéria artimanhas da sedução.
Obama poderia ter escolhido qualquer outro para destacar da roda de presidentes no momento reservado à descontração. Escolheu Lula porque lhe pareceu o parceiro perfeito, entre aqueles senhores e senhoras desprovidos de peculiaridades pessoais, para chamar de “meu chapa”.
O único a reunir origem operária, nacionalidade de emergente, ficha aprovada no item condução da economia, em dia no quesito democracia e de bem com a vida no que diz respeito à popularidade interna.
Tudo nos conformes para Barack Obama mais uma vez acentuar seu perfil “gente como a gente” no monumental trabalho de relações públicas para reaproximar os Estados Unidos do mundo e tirar do país o ranço de império do mal levado ao paroxismo pelo antecessor.
Ao elogiar Lula – “eu adoro esse cara”, “é o político mais popular da terra”–, Obama atrai para si tudo o que aquela atitude reflete: desprendimento, naturalidade de expressão afetiva, capacidade de reconhecer qualidades alheias em público e ressaltá-las, alegria, leveza, jovialidade, zero de afetação e por aí seguem-se atributos que o traduzem como o melhor dos contrapontos à representação contida na figura de George W. Bush
Evidentemente, Obama sabe quem é o político mais popular do planeta, bem como consegue perceber que o presidente brasileiro não estaria entre os finalistas em concurso de “boa-pinta”. Não era, porém, a exatidão o que estava em jogo ali.
E, no jogo proposto, o presidente americano mostrou-se um craque: fez brilhar a própria estrela lustrando o brilho do outro; transpareceu humildade, enaltecendo a grandeza do realmente mais humilde no sentido de poder, importância e influência.
Lula, por sua vez, fez direito a parte que lhe cabia: “Obama tem a cara da gente”, declarou feliz, como quem recebera a recompensa por toda a existência. Terá sido ainda mais bem recompensado se perceber que ganhou de Obama mais que elogios. Recebeu de presente uma lição. Caberá a ele absorver – ou não – da melhor forma o conselho involuntário transmitido por seu novo “chapa”: o verdadeiro astro é aquele que sabe atrair a luz por gravidade.
Sem cabotinismo, auto-exaltação, apropriação dos méritos alheios, anulação das qualidades de outrem, manifestações de egolatria, sem ira nem ressentimento. Com modéstia, simplicidade, classe, compostura verbal e respeito ao contraditório.
Por tabela
Uma comparação entre o valor do salário mínimo e o subsídio dos parlamentares mostra que de 1995 a 2009 houve uma substancial redução entre um e outro. Há 14 anos o mínimo era de R$ 100, sendo necessários 80 deles para pagar os R$ 8 mil da remuneração mensal de um congressista.
Hoje, os deputados e senadores ganham R$ 16.512. Com o mínimo valendo R$ 465, são necessários 35 salários para remunerar um parlamentar.
Porém, se for somada a verba indenizatória de R$ 15 mil mensais, o subsídio do congressista vai para R$ 31.512 e o número de salários mínimos contidos nesse valor sobe para 67.
Esses números circulam a propósito de comprovar que o Congresso sofreu uma redução salarial e que as resistências aos aumentos criam uma polêmica demagógica.
Olhando bem as contas percebe-se que o mínimo subiu mais de quatro vezes no período, de R$ 100 para R$ 465, e o salário dos congressistas (somada a verba indenizatória) aumentou quase na mesma proporção, de R$ 8 mil para R$ 31.512.
A verba não pode ser vista como salário? Tecnicamente não, mas na prática é, e ainda melhor. Sobre ela não há desconto de Imposto de Renda nem repasse para os partidos que cobram porcentual de contribuição dos parlamentares. No caso do PT, salgados 30%.
Por essas e talvez algumas outras, a retomada da proposta de incorporação da verba aos salários, de fato e direito, pode encontrar resistência. Como o teto do funcionalismo é R$ 24.500, os deputados e senadores teriam uma redução na quantia recebida por mês e ainda precisariam pagar imposto sobre mais R$ 8 mil em relação ao salário oficial de hoje.
Agora, se a ideia for incorporar a verba até a quantia máxima permitida e preservar a diferença (entre R$ 24.500 e R$ 31.512) como ressarcimento, aí sim haverá adesão total.
Passo a passo
O ex-governador Geraldo Alckmin abraçou a causa da chapa puro-sangue José Serra-Aécio Neves para a Presidência em 2010. Quando era ele o pretendente, em 2006, defendia outra tese: “O Brasil é um país multipartidário, por isso precisamos de alianças.”