Entrevista:O Estado inteligente

domingo, abril 05, 2009

DANUSA LEÃO A mania de mudar


FOLHA DE SÃO PAULO - 05/04/09

A cada casa que vejo, acho que a minha, além de ser um lixo, deveria ser no estilo daquela


TEM GENTE QUE não sossega; não porque não queira, mas porque não consegue. Eu sou um desses casos perdidos.
Adoro me mudar de casa, e a cada vez que me instalo, com tudo no lugar, sempre acho, com a maior sinceridade, que desta vez é para sempre. Só que não é.
A cada casa que vejo, acho que a minha, além de ser um lixo, deveria ser no estilo daquela. Mas estilos são vários, e a cada um acontece a mesma coisa. Se é uma casa toda colorida, cheia de móveis e enfeites, fico querendo fazer a minha igual. Se é toda branca, com apenas fotografias em preto-e-branco na parede, penso logo em mudar tudo e fazer igualzinho. É difícil a vida dos que não conseguem ficar sossegados.
Outro dia fui ao apartamento de um amigo, desses bem modernos, com cozinha americana dando para a sala, sem quarto de empregada, uma sala legal que daria para não mais que um sofá e umas duas ou três poltronas, o chamado só um ambiente, e uma mesinha para quatro pessoas. Pirei.
Pirei e fiquei pensando: para que preciso morar num apartamento em que posso convidar 20 ou 30 pessoas para jantar, se não convido nunca? Para que preciso de uma mesa onde cabem oito pessoas, se nem eu mesma janto nela, já que só como numa bandeja? E as bugigangas que compro em qualquer viagem que faça, seja em Belém do Pará ou Nova York? De Belém, aliás, tenho uma pele de cobra de quase dois metros que mandei emoldurar e botar na sala. Agora me responda: e eu preciso dessa cobra? E ela por acaso embelezou minha casa? Claro que não. Mas é a mania de acumular, acumular, e quem tem essa mania deveria frequentar um grupo de compradores compulsivos. Eu, por exemplo (e isso sem falar nas roupas).
Aí tomei uma decisão: me mudar para um lugar muito menor e me desembaraçar de tudo o que eu não preciso porque é supérfluo, porque é demais. E comecei a procurar um apartamento.
O primeiro a que me levaram foi um apart, e quase desmaiei já na entrada, com a quantidade de homens que -via-se- deve ter vindo ao Rio a trabalho, para passar uma única noite. Saí de lá quase correndo, e aí fui ver o segundo. Parecia que tinham jogado uma bomba dentro dele. Saí ventando e recomecei a procura nos classificados.
E comecei a pensar que jamais encontraria um apartamento totalmente a meu gosto; teria que fazer uma obra -coisa que, por sinal, eu adoro. Até aí, tudo bem. Mas comecei a me deprimir quando pensei em outras coisas que acontecem quando se muda. Em primeiro lugar: o telefone seria o mesmo? Depois, teria que ligar para vários amigos -com direito a um papo com cada um, contando por que mudei e como é o novo apartamento- para dizer o novo endereço; e avisar ao banco, e à Net, e ao UOL, ouvindo sempre aquele robô me dizendo que, dependendo do assunto, para teclar um número diferente (e marcar dia e hora para a Net vir instalar o decodificador -será esse o nome?). E a correspondência? Avisar aos Correios que mudei de endereço é acima de minhas forças; e o rapaz que cuida do meu computador, que passaria o dia inteiro -porque eles demoram- instalando o wireless, será que eu teria saúde para tudo isso? Acho que não.
Comecei a achar meu apartamento a coisa mais linda do mundo, e se resolver quebrar uma parede, quebro, sem toda essa mão de obra.

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