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A CPI dos Grampos Pode ser prorrogada por iniciativa de Itagiba (no centro), seu presidente |
Na mesma semana em que a CPI dos Grampos terminava melancolicamente sem conclusões definitivas nem punições exemplares, os jornalistas de VEJA Expedito Filho e Otávio Cabral, ambos da sucursal de Brasília, levantavam as provas de que o alvo das investigações da comissão parlamentar, a escuta clandestina, continua em franca e impune atividade no Brasil. Expedito teve acesso ao conteúdo dos computadores apreendidos pela Polícia Federal na casa do notório delegado Protógenes Queiroz, material que a CPI oficialmente não teve tempo de examinar. Advertido sobre a gravidade das provas ali contidas, no entanto, do Rio de Janeiro o deputado Marcelo Itagiba, do PMDB, presidente da comissão, prometeu exigir a prorrogação dos trabalhos de investigação da CPI. Não seria a primeira vez que isso ocorreria. A prorrogação, se vier desta vez, prestará um grande serviço ao país, pois são de estarrecer as provas do descontrole a que chegou a operação de espionagem clandestina promovida pelo delegado Protógenes.
O material a que VEJA teve acesso mostra que o delegado montou uma central de espionagem que, a pretexto de investigar crimes cometidos pelo ex-banqueiro Daniel Dantas, se dedicou a bisbilhotar a vida privada de dezenas de cidadãos inocentes. A varredura ilegal do delegado cobriu desde a vida amorosa da ministra Dilma Rousseff até o que se falava na antessala do presidente Lula, no Palácio do Planalto – passando pelas atividades do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador de São Paulo, José Serra. Ao mesmo tempo, Otávio Cabral desvendava no Recife outra investida ilegal da espionagem política, a confissão de um araponga que procurou Jarbas Vasconcelos para contar ter sido sondado por emissários supostamente ligados ao PMDB com uma proposta para devassar a vida privada do senador, que, em entrevista a VEJA há três semanas, denunciou corrupção no partido. Esse é o papel do jornalismo, garantir que os cidadãos saibam o que se faz em seu nome e com seu dinheiro, ser os olhos e os ouvidos da nação e, como resultado disso, um dos esteios da democracia.