Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 14, 2009

Netbooks: os novos computadores que cabem na bolsa

Feitos para a internet

Os netbooks oferecem leveza e conexão à rede,
mas não muito além disso. São o tipo de computador
cujas vendas mais devem crescer em 2009


Camila Pereira e Cíntia Borsato

Divulgação
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635 gramas

Um computador para acessar a internet, que pesa pouco mais de 1 quilo e cabe confortavelmente numa bolsa de mão. Esse é o conceito dos netbooks, aparelhos que surgiram para atender ao desejo das pessoas de permanecer conectadas onde quer que estejam. Eles não são feitos para armazenar muitos arquivos, tampouco para rodar programas mais pesados, como aqueles que lidam com gráficos e imagens. Tiram proveito, em vez disso, dos sites que hoje permitem aos usuários manter seus textos, fotos, vídeos e mensagens (toda a sua "vida digital", em suma) arquivados on-line. Com menos memória e menor capacidade de processamento de dados, os netbooks podem custar até um terço do preço de seus irmãos mais velhos, os notebooks – e essa é outra de suas características essenciais. Números recentes atestam o sucesso desse minicomputador portátil. O primeiro netbook, que surgiu em 2007 nos Estados Unidos e um ano depois no Brasil, vendeu no ato 1 milhão de unidades. Patamar que se tornou modesto perto dos 12 milhões do ano passado – e ínfimo diante das projeções para 2009, traçadas pela consultoria Gartner. A previsão é que as vendas neste ano aumentem 80%, oito vezes o ritmo de crescimento dos notebooks. O cenário de crise econômica favorece as versões menores. "A lógica atual é a de que quanto mais barato, melhor", diz Angela McIntyre, consultora da Gartner.

As líderes no mercado de netbooks, curiosamente, não são as mais conhecidas entre as fabricantes de computadores, mas, sim, duas companhias de Taiwan – a Acer e a Asus. Há ainda outra taiwanesa na lista das cinco maiores, a MSI. "Nosso grande objetivo é alcançar a liderança no segmento de net-books", resume Philip Chen, responsável pela área de computadores portáteis da MSI no Brasil. Os asiáticos começaram a explorar esse filão um ano antes de gigantes como Dell e HP. Uma das razões para a dianteira diz respeito à linha de produção mais variada dessas empresas, que se especializaram em fornecer componentes para as grandes marcas mundiais. Para se ter uma ideia, de cada três PCs vendidos no mundo, um vem com placa-mãe produzida pela Asus. Ao lidarem com uma gama variada de peças, tais companhias ganham agilidade para inovar. O que também abriu espaço para os asiáticos foi a falta de interesse manifestada, inicialmente, pelos demais. "Empresas como Dell e HP achavam que os netbooks eram muito simples para as necessidades de seus clientes, poderiam piorar a percepção sobre suas marcas e ainda ofereciam margem de lucro baixa perto da que alcançavam com modelos mais sofisticados", avalia Willy Shih, professor da escola de negócios da Universidade Harvard. Hoje, essas empresas pensam diferente. "Estamos apostando alto nesse novo mercado", diz Cláudio Raupp, um dos vice-presidentes da HP no Brasil.

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Philip Chen, da MSI: "Mercado imperdível"

A Intel passou três anos desenvolvendo um chip específico para os netbooks – hoje o mais encontrado nos aparelhos à venda. O grande desafio dos cientistas era conseguir colocar num chip com um terço do tamanho do tradicional a tecnologia necessária para um bom processador. E o mais difícil: fazer isso garantindo um preço final mais baixo e um consumo menor de energia, algo fundamental num computador cujos principais diferenciais são o baixo custo e a portabilidade. O chip da Intel sai por um preço 40% menor que o de um notebook e consome um décimo de energia. É isso que faz a bateria do netbook durar quase o dobro. "Essa invenção foi decisiva para viabilizar o negócio", diz Reinaldo Affonso, diretor de desenvolvimento tecnológico da Intel na América Latina.

A ideia de um computador portátil mais enxuto surgiu dez anos atrás, nos laboratórios do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). O objetivo era criar laptops muito baratos para que fossem distribuídos, por governos, aos alunos de países mais pobres. O programa está em curso, e a tecnologia desenvolvida lá serviu de base para os primeiros netbooks comercializados pelas empresas. A experiência mostrou, no entanto, que as pessoas queriam algo um pouco mais sofisticado – e o mercado se adaptou a isso. Daí o aumento no tamanho da tela original, a inclusão da placa wireless e a troca do sistema operacional Linux pelo Windows XP, o que contribuiu para o preço subir dos 188 dólares cobrados pelo MIT para pelo menos 300 dólares. Não chegou a prejudicar as vendas. O faturamento com os netbooks foi de 5,2 bilhões de dólares em 2008. Quem demonstra mais interesse por eles são estudantes, executivos em busca de leveza e até gente mais velha que jamais teve um computador. Isso inclui os brasileiros. Até o fim do ano, serão vinte os modelos à venda no Brasil – mas o preço ainda é alto, por volta de 1 300 reais. O que pode torná-los mais econômicos é a recente parceria firmada entre fabricantes de netbooks e operadoras de celular, como Vivo e TIM. Elas já vendem netbooks com preços até 30% menores. Ao subsidiarem parte do aparelho, querem atrair clientes que farão ali uso do serviço de banda larga móvel. Sinal do enorme potencial dos minicomputadores.

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