O Globo - 11/06/2012 |
Meses atrás, se alguém "profetizasse" que eu iria sair da minha vidinha em Ipanema no Rio de Janeiro para ir ao STF em Brasília, a fim de entregar, com outros representantes de movimentos anticorrupção, um abaixo assinado com 37 mil assinaturas pelo "julgamento do mensalão já!", e que ainda levaria uma cotovelada do segurança do ministro Gilmar Mendes, tudo isso cercada por dezenas de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas de vários veículos de imprensa, eu daria uma boa risada. Pois é: aconteceu. A vida é cheia de surpresas. Há tempos tenho estado envolvida em um singelo movimento de bairro, em Ipanema, debatendo com a comunidade e autoridades questões como a localização de uma estação do metrô e opções para um carnaval de rua harmonioso entre foliões e moradores. São causas "paroquiais", mas relevantes, pois afetam não só o bairro, mas toda a cidade - e todos os pontos de vista devem ser considerados, assim como seus respectivos ônus e bônus. Mas dialogar não tem sido a prática usual das autoridades aqui no Rio. Por vezes, temos nos deparado com decisões tão autoritárias e incompreensíveis, que fica a impressão de alguma coisa não revelada. Foi quando surgiu o movimento anticorrupção na cidade, ao qual, num piscar de olhos, decidimos aderir - afinal, sentimos "malfeitos" na pele. Essa experiência tem sido para mim especialmente enriquecedora, seja pela novidade, pelas conversas políticas, pelas pessoas éticas e encantadoras que tenho encontrado. Hoje, graças em grande medida à liberdade de imprensa - que felizmente desfrutamos no Brasil -, qualquer que seja o nível social e intelectual, todos, sem exceção, acompanham o noticiário e têm casos de corrupção a comentar. Motoristas de táxi são especialistas no assunto. Barbeiros e cabeleireiros? Dominam a conversa e apontam exemplos. A liberdade de expressão é valiosa. A manifestação da opinião pública é legítima e desejável em qualquer democracia saudável e faz toda diferença - basta lembrar a aprovação recente da nossa Lei da Ficha Limpa. O STF é o tribunal mais importante do país e, obviamente, ninguém discorda de que o julgamento do mensalão deva ser técnico e que a constituição tem que ser respeitada. Por outro lado, mais informada, a sociedade brasileira entende o desenrolar dos acontecimentos, entende as jogada políticas e jurídicas desse processo e não aceita mais a impunidade. Ninguém discute a idoneidade do Supremo. Lidar com interesses diversos, e especialmente tão poderosos como neste julgamento, é de imensa responsabilidade. Na história, na literatura e na bíblia, o ato de julgar é tão importante que é atribuição de reis, como vemos, por exemplo, em Ricardo II de Shakespeare e no rei Salomão. Neste sentido, o abaixo-assinado que entregamos, com as 37 mil assinaturas, expressa, sobretudo, nossa confiança no STF e apoia os que estão empenhados no julgamento - breve e justo - do mensalão, processo já maduro, como afirmou o ministro Ayres Britto. Com 38 réus de peso, trata-se de um julgamento emblemático - além de uma oportunidade imperdível para provar à sociedade que réus poderosos também se submetem à Justiça, como qualquer um de nós. A essas alturas, postergações e pedidos de vista são inaceitáveis. A impunidade é inaceitável. Se não há punição, há estímulo. Confiamos no STF. Outro dia, no cabeleireiro, estava comentando o noticiário político, quando minha vizinha de cadeira, uma senhora psicanalista, me indagou se eu era jornalista, pois para ela eu parecia entender tudo. Surpresa, respondi que não, que eu conhecia o assunto porque fazia parte de um movimento anticorrupção. Ao que ela concluiu sorrindo: "Ah, entendi. Então você é ativista." Pois é: não é que ela definiu bem? Virei ativista. |
Entrevista:O Estado inteligente
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segunda-feira, junho 11, 2012
Surpresa: virei ativista! — Ana Luiza Archer
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