O GLOBO - 07/12/11
Diante da situação externa, o empresário parou de investir, mas não demitiu. Em relação ao terceiro trimestre do ano passado, houve aumento de 2,6% na massa salarial e os dados da Pesquisa Mensal de Emprego mostram baixo nível de desemprego em geral. Os analistas veem em alguns dados uma perda de fôlego do mercado de trabalho, mas a desaceleração do ano não levou a demissões.
O consumo das famílias teve ligeira queda, na margem, de 0,1%, mas fechou em alta de 2,8% em relação ao mesmo período do ano passado. O que o sustentou até agora foi principalmente o crescimento do crédito, de 18%. A expansão do endividamento não preocupa por enquanto porque o nível de emprego permanece alto, mas se houver demissões, as famílias terão dificuldades de cumprir seus compromissos.
Normalmente, o empresário num primeiro momento de crise suspende novos investimentos. É o que se vê agora nos números. A taxa de investimento do ano está em 20%, o que é bom, mas os dados trimestrais mostram forte desaceleração. Se as empresas acharem que o ambiente de estagnação permanecerá por muito tempo elas demitirão. Por enquanto, os empresários estão adiando investimentos, mas mantendo o seu quadro de funcionários, o que indica que eles acreditam que a economia retomará o crescimento em breve. Mas uma alta do crédito de 18% numa economia que chegou à estagnação no terceiro trimestre, e está com a inflação acima do teto da meta, não é um quadro brilhante.
Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, o PIB cresceu 2,1%. Isso é mais um degrau na descida do PIB, que no terceiro trimestre do ano passado cresceu 6,9% na mesma comparação. No quarto, o número foi de 5,3%; no primeiro de 2011 foi de 4,2%; no segundo, de 3,3%. Uma descida forte em cinco trimestres.
A agropecuária subiu 3,2%, a indústria teve uma queda de 0,9% e os serviços caíram 0,3%, na comparação de julho, agosto e setembro contra abril, maio e junho. Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, os dados são: agropecuária, 6,9%; indústria, 1%; serviços, 2%. O resultado do campo é mais interessante porque em algumas culturas a produção cresceu mesmo com queda de área, provando o ponto de que é com mais eficiência e produtividade que se fará agora a nova expansão agrícola. Laranja teve uma queda de área plantada de 9,8%, mas produziu 3,1% a mais. No caso da mandioca foi 11,8% menor a área ocupada para produzir 7,3% a mais do que no mesmo período do ano passado.
O mais importante é sempre saber o que os números nos contam. Os do PIB do terceiro trimestre dizem que o choque externo bateu aqui, desanimou empresários, afetou principalmente a indústria, mas o setor de produção de alimentos continuou forte. Dizem também que apesar de a indústria afirmar que o dólar baixo está provocando queda do setor, pela invasão do produto importado, a exportação cresceu no período: 1,8%. E as importações caíram 0,4% na comparação do terceiro contra o segundo trimestre.
O terceiro trimestre pode ter sido o vale, a parte mais baixa desta desaceleração. Não existe muita expectativa quanto a uma recuperação forte no quarto trimestre, mas ele deve ficar positivo em relação ao trimestre cujos dados foram divulgados ontem. Este foi o ano em que houve terremoto-tsunami-desastre nuclear no Japão, evento que levou a uma interrupção temporária de algumas cadeias produtivas globais; revolta na África, que elevou o preço do petróleo; desaceleração da economia americana, que começava a se recuperar e a alta do petróleo afetou a capacidade de compra das famílias, porque lá a cotação internacional é transferida imediatamente para as bombas; crise da dívida americana, que petrificou o mundo por algumas semanas; crise da dívida soberana na Zona do Euro, com a qual a economia internacional ainda se debate. Diante dessas circunstâncias, o país teria mesmo período de estagnação.
Mas, no trimestre, algumas economias estão melhores do que a brasileira. Na comparação feita pelo próprio IBGE, o Brasil cresceu zero como a Bélgica e a Espanha. Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido cresceram 0,5%; o Japão, 1,5%; México, 1,3%; Chile, 0,6%. Até a Zona do Euro como um todo ficou melhor, fechou em 0,2%.
Já se sabia que neste ano haveria queda de ritmo de crescimento em relação a 2010, quando o país deu um salto impulsionado por gastos públicos com objetivos eleitorais. A ideia era fazer um crescimento forte que ajudasse a eleger a presidente Dilma. Depois, foi a hora de pôr o pé no freio até porque a inflação estava subindo. Os juros foram elevados, a inflação resistiu no alto. Ainda está acima do teto da meta, mas o Banco Central há três reuniões tem reduzido as taxas de juros. Em 2012, se o mundo sair da encrenca em que está, o país deve recuperar o ritmo ao longo do ano.