O Estado de S. Paulo - 21/12/2011 |
A decisão liminar do ministro Marco Aurélio Mello que retira do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a prerrogativa originária de investigar denúncias de desvio de conduta envolvendo magistrados é uma sinalização ruim no tocante à percepção de que o chamado controle externo do Judiciário representou um avanço na direção da abertura de um Poder fechado.
Se confirmada pelo plenário, a sentença jogará definitivamente de volta aos tribunais regionais a tarefa de investigar os seus e o CNJ terá perdido seu mais substantivo motivo de existir. Do ponto de vista da sociedade, um retrocesso.
Vale dizer, não o único, mas mais um de uma série. Nos últimos tempos, vários passos atrás vêm sendo dados em relação a colegiados encarregados do trato da questão ética na vida pública, todos eles em franco processo de desmonte.
O Conselho Nacional de Justiça, com seus diversos processos de investigação abertos, afastamento de juízes e a tribuna por intermédio da qual a corregedora Eliana Calmon vinha mexendo em feridas até então intocadas, era dos poucos ainda em atividade de fato.
No Executivo, a Comissão de Ética Pública nunca conseguiu se firmar realmente como instância em que seriam dirimidos dilemas éticos para o exercício de ocupantes de cargos do primeiro escalão. De um lado, por ausência de autoridade legal e, de outro, pela indiferença com que os governantes encaram o papel dos conselheiros.
O golpe fatal foi dado quando a comissão recomendou o afastamento do então ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e à presidente da República ocorreu de imediato não demiti-lo, mas transparecer desconfiança sobre aquela decisão e deixar que o ministro fizesse o gesto da saída.
Mas é no Legislativo que o processo de esvaziamento é mais evidente e, por que não dizer, mais nocivo, pois teoricamente trata-se do poder onde se exerce cotidianamente a representação popular.
Primeiro, abriu mão da prerrogativa de legislar. Juntando-se a primazia dos projetos de iniciativa do Planalto à supremacia das medidas provisórias na pauta, essa função na prática transferiu-se ao Executivo.
Depois, perdeu muito de sua capacidade de abrigar o contraditório devido à amplitude da maioria governista.
A outra função do Congresso, a de fiscalizar, vem caindo gradativamente num enorme vazio.
Aí a razão é dupla: há a hegemonia da situação, sempre pronta a barrar qualquer iniciativa séria de investigação ou mesmo de esclarecimento de questões importantes, mas há também o corporativismo, ativo no impedimento de punições a casos de quebra do decoro parlamentar.
As Comissões Parlamentares de Inquérito não se instalam e, quando se instalam, não funcionam, os Conselhos de Ética da Câmara e do Senado são meras peças de decoração, pedidos de informação são ignorados e até os depoimentos em comissões para esclarecimentos viraram arena de espetáculos pífios.
Espécies em extinção, os instrumentos de fiscalização perdem paulatinamente sua razão de ser, a República perde seus controles e com isso a condição essencial para o funcionamento das instituições em estado de normalidade.
Ditatorial. A escalada de ações contra o grupo que edita o jornal Clarín - de oposição ao governo - culminando com a ocupação militar da TV por assinatura Cablevisión e a proposta de lei para alterar a distribuição de papel para jornais fazem de Cristina Kirchner uma triste figura na cena mundial.
Ela põe a Argentina no patamar indecoroso a que Hugo Chávez levou a Venezuela e do qual um país leva anos para se recuperar. A truculência de governantes não costuma terminar bem. Uma hora, o que dava sempre certo na ação dos tiranetes começa a dar sempre errado.
Conviria que se prestasse atenção ao que se passa na Argentina antes de se conferir crédito ao argumento dos que aqui consideram a hipótese de haver boas intenções na defesa da tese do controle social da mídia.
Alguns recorrem à violência explícita, outros se disfarçam sob alegações legalistas, mas, no fim, tudo resulta em autoritarismo.
|
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
quarta-feira, dezembro 21, 2011
Espécieis em extinção Dora Kramer
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
dezembro
(192)
- "O Expresso Berlim-Bagdá"
- Hotéis sem vagas - CELSO MING
- Na ponta do lápis - MIRIAM LEITÃO
- Crescimento exige medidas estruturais - GUSTAVO LO...
- Confusão na defesa comercial - EDITORIAL O ESTADÃO
- Luiz Carlos Mendonça De Barros - Sucesso e fracasso
- Alberto Goldman - O primeiro ano de Dilma: governo...
- Hélio Schwartsman - Brasil potência
- Exército e polícia Editorial - Folha
- Quem pode julgar o juiz? - NELSON MOTTA
- A pedagogia da marquetagem Elio Gaspari
- MARTHA MEDEIROS - Natal para ateus
- O 'sumiço' do gás Claudio J. D. Sales
- Chance desperdiçada Suely Caldas
- Como lidar com os bancos Celso Ming
- Protegendo as crianças João Ubaldo Ribeiro
- Marco Antonio Villa 'Na luta contra a cidadania, ...
- 2012 no rescaldo de 2011 - VINICIUS TORRES FREIRE
- Brasil x EUA: afastamento gradual - MERVAL PEREIRA
- Pequeno grande João - NELSON MOTTA
- Pleno emprego Celso Ming
- Um ano inusitado Dora Kramer
- O lobby do fechamento Rogério Furquim Werneck
- A China é vizinha Fernando Gabeira
- Euroduto - CELSO MING
- Conflito de interesses - ROGÉRIO GENTILE
- Caixa-preta - EDITORIAL FOLHA DE SP
- Cristina une-se à pior "patota" - CLÓVIS ROSSI
- Ataque à imprensa - MERVAL PEREIRA
- O povo não é bobo - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
- Caminho livre - DORA KRAMER
- A injustiça e a revolta - DEMÉTRIO MAGNOLI
- O papel do "Clarín" - EDITORIAL FOLHA DE SP
- Confiar, desconfiando - VINICIUS TORRES FREIRE
- Sem razão para pessimismo - ALBERTO TAMER
- O governo que não começou - JOSÉ SERRA
- Fascismo quase disfarçado - JOSÉ SERRA
- Já foi tarde - ELIO GASPARI
- Obama, o fraco, respira - VINICIUS TORRES FREIRE
- IED recorde Celso Ming
- Espécieis em extinção Dora Kramer
- A USP dá exemplo para o Brasil seguir José Nêumane...
- O galo cantou Merval Pereira
- Ocupe a sala de aula? Dani Rodrik
- Antes, pode - RICARDO NOBLAT
- O que aprendi com a crise econômica - LUIZ CARLOS ...
- A verdade fica ao longe - DENIS LERRER ROSENFIELD
- A 'marola' da crise já chegou às nossas praias - M...
- Liderança feminina Ateneia Feijó
- A Bolsa Fiemg vale o IPI de 10 mil armários Élio G...
- "Todo en el Estado, todo por el Estado, nada sin e...
- La alarmante devaluación de la democracia Por Joaq...
- Melhor não adoecer João Ubaldo Ribeiro
- JK e o exílio Celso Lafer
- Colapso de um sistema Celso Ming
- O poder supremo de Brasília - Suely Caldas
- Reflexos da crise Míriam Leitão
- A ficção do Amaury Merval Pereira
- 'Não é um caso de governo', diz a presidente Dilma
- A oportunidade perdida dos países árabes Gilles La...
- Visão atual Míriam Leitão
- "RESSACA ÉPICA DA CHINA COMEÇA"!
- Balas na agulha Celso Ming
- O alarme de Krugman e a austeridade Amity Shlaes
- Elogio à impunidade - DORA KRAMER
- Migração da violência é tragédia nacional - EDITOR...
- O outro lado de uma tragédia brasileira - PAULO TA...
- Calor do Nordeste - MIRIAM LEITÃO
- Melhor para os mensaleiros - EDITORIAL O ESTADÃO
- Suspeição Merval Pereira
- Demóstenes Torres -O engodo contra o crack
- Ano incerto - MIRIAM LEITÃO
- Confissão - MERVAL PEREIRA
- E o câmbio? - ANTONIO DELFIM NETTO
- Uma lição para a vida - ROBERTO DaMATTA
- Convidada de honra Dora Kramer
- Cadeados para o Tesouro Rolf Kuntz
- A democracia sob risco Celso Ming
- Risco para a liberdade Gabriel Wedy
- Protecionismo às avessas Clóvis Panzarini
- A mão inteligente Claudio de Moura Castro
- O que é lobby? Merval Pereira
- Responde aí, Pimentel!-Ricardo Noblat
- Litígio supremo - DORA KRAMER
- Uma novela comprida e o Brasil - VINICIUS TORRES F...
- Azedou - CELSO MING
- Triste Judiciário - MARCO ANTONIO VILLA
- Clima do clima - MIRIAM LEITÃO
- Visão estratégica da América do Sul-Rubens Barbosa,
- Mais um consultor - REVISTA VEJA
- Proteção às avessas - JANIO DE FREITAS
- Sem tempo para chorar - RAUL VELLOSO
- O enigma da produtividade - DAVID KUPFER
- Remédio vencido - RUBENS RICUPERO
- Iluminar a história - CARLOS ALBERTO DI FRANCO
- Dilma: bem na foto, mal na foto - MARCELO DE PAIVA...
- Um país resignado - MARCELO COUTINHO
- Adeus à ilusão - RICARDO NOBLAT
- Abaixo Chapeuzinho - JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Sem querer interromper - MARTHA MEDEIROS
-
▼
dezembro
(192)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA