Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 10, 2011

O isolamento inglês - GILLES LAPOUGE



O Estado de S.Paulo - 10/12/11


O euro ainda não está salvo, mas um acordo está prestes a ser firmado, sob a dupla autoridade da alemã Angela Merkel e do francês Nicolas Sarkozy, para proteger a moeda e erigir barragens em torno dela contra os "tsunamis" que a ameaçam.

Contudo, este acordo já fez uma vítima: a Grã-Bretanha, que não aderiu ao plano concebido pela União Europeia para conjurar a crise.

Por que os britânicos não se associaram? Lembremos primeiro que, se a zona do euro está mergulhada na crise, é porque todos os países que a formam se endividaram loucamente há uma dezena de anos, da Grécia à Itália e França. Portanto, a ideia de Sarkozy e Merkel é uma reformulação dos tratados da União Europeia para impor aos países da zona do euro regras draconianas que os impedirão de se endividar e devem impor a cada membro uma disciplina orçamentária rigorosa.

A oferta foi feita aos 27 países da UE, mas foi rejeitada pela Grã-Bretanha. E por quê? Porque Londres teme que essas regras de "boa conduta" possam resultar numa regulamentação mais estrita do setor financeiro. Para Londres, e sempre foi assim, existe um imperativo categórico: "não toquem na City".

O primeiro-ministro David Cameron rejeitou o plano de salvação do euro e Sarkozy e Merkel apresentaram um plano B. Os 17 países da zona do euro devem renegociar entre eles um tratado específico, vinculando não os 27 países da União Europeia, mas os 17 da zona do euro, à qual outros países da UE poderão se associar quando desejarem.

A Inglaterra recusou essa segunda oferta. Mas os 17 países da zona do euro aceitaram o plano. Normal. O espantoso é que seis membros da UE que não fazem parte da zona do euro também aceitaram o desafio: Dinamarca, Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia e Bulgária. Três outros países da UE (mas não da zona do euro) também se mostraram dispostos a aderir ao plano, mas antes precisam consultar seus Parlamentos: Suécia, República Checa e Hungria.

Isso significa que o euro saiu da zona de perigo? Certamente não. O avanço é na direção do desconhecido. À beira do colapso, nos agarramos a uma arquitetura europeia que vai na contramão do sonho dos "pais da Europa": uma Europa a duas velocidades, o que é uma aberração. Por outro lado, por quanto tempo a Grã-Bretanha poderá manter essa postura ambígua, pertencendo à União Europeia, mas se mantendo à distância do resto da UE? Isso nos lembra um discurso de Churchill que, aliás, levou o general De Gaulle a recusar por vários anos a adesão de Londres à União Europeia: "Entre a Europa e o oceano aberto, a Inglaterra escolherá sempre o oceano".

A posição de Cameron será reforçada ou enfraquecida pela decisão adotada agora? Certamente ele agradou um grande número dos eurocéticos que a Inglaterra sempre nutriu. Mas existem também os pró-europeus ingleses, por exemplo os liberais democratas que, aliás, fazem parte da coalizão de governo dirigida por Cameron.

Além do que, a Inglaterra conseguirá manter por muito tempo a posição acrobática de permanecer na UE mas recusar as regras que serão adotadas não só pelos países da zona do euro, mas por um grande número de países-membros da UE que não adotaram o euro? É preciso dizer também que, se o alerta em relação ao euro diminuiu de intensidade após a "cúpula da última chance" em Bruxelas, o céu ainda não está azul. Agora é a coesão dos 27 países que poderá ser colocada à prova. Por outro lado, Angela Merkel até o momento rejeita a proposta de o BCE socorrer bancos sedentos de liquidez ou países que estão desmoronando sob o peso da dívida.

Eis o resumo do último capítulo da novela. A seguir. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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